Table of Contents Table of Contents
Previous Page  103 / 114 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 103 / 114 Next Page
Page Background

103

A n a i s d o I HM T

territórios, mas de um aparente esforço de constituição de re-

des de estruturas hospitalares, o que confirmava a insuficiência

de instalações então existentes.

Na confluência da agenda política colonial com o imperativo

de enaltecer o III Império Colonial Português [7], e da agenda

científica que a medicina tropical ia traçando desde finais do

século XIX, João Fraga de Azevedo assumiu o protagonismo

na organização do 1º Congresso Nacional de Medicina Tropi-

cal [13].A sua realização tinha por objectivo dar visibilidade à

importância da medicina tropical utilizada como ferramenta

do Império, no contexto nacional, de forma a projectar a ima-

gem e o prestígio das contribuições portuguesas neste domí-

nio científico, com impacto científico e político, na metrópo-

le, nas províncias ultramarinas e no mundo [7].

As doenças tropicais eram as dominantes nas colónias e cons-

tituíam uma ameaça real para os colonizadores, pelo que a

emergência de um novo campo de investigação médica − a

medicina tropical − como área prioritária de ensino e inves-

tigação especializada se impunha, na transição do século XIX

para o século XX [8]. Surgiram assim as primeiras escolas a

partir de 1889, no Reino Unido, e em 1902 foi fundada em

Lisboa, a Escola de Medicina Tropical (designada a partir de

1935 como Instituto de Medicina Tropical e actualmente co-

nhecida como Instituto de Higiene e Medicina Tropical) e o

Hospital Colonial [9].Ao longo dos primeiros 50 anos de exis-

tência, a instituição portuguesa fez um percurso similar às suas

congéneres europeias, estabelecendo redes de colaboração in-

ternacionais e contribuindo para a consolidação da medicina

tropical (figura 3), nas quais se destacaram as figuras de Ayres

Kopke [10, 11] e de Fraga de Azevedo [12].

A realização do 1º Congresso Nacional de MedicinaTropical,

em 1952, assumiu-se assim como um momento de orgulho

para o reconhecimento da medicina tropical portuguesa na

qual ancorou o alicerce da ideologia imperialista, particular-

mente valorizadas nos discursos de abertura do evento (figu-

ras 4 e 5), tanto nas palavras de Fraga de Azevedo, director

do Instituto de Medicina Tropical “esta memorável sessão em

que se deseja glorificar um dos aspectos mais importantes da

acção de Portugal no Mundo” [14], como deAntónioTrigo de

Morais (1895-1966), representante do Ministro do Ultramar,

dirigindo-se ao Presidente da República, Francisco Craveiro

Lopes (1894-1964), para valorizar a sua presença e o seu ide-

ário, “garantia eficaz do êxito deste congresso realizado para

maior engrandecimento do nosso Ultramar” [15].

A agenda Científica do Congresso

Foram 223 os participantes neste congresso, na sua esmaga-

dora maioria oriundos das províncias ultramarinas (51.6%),

Fig. 3 -

Fotografia da exposição iconográfica realizada por ocasião do 1º Congresso Nacional de MedicinaTropical, em 1952, no Instituto de MedicinaTropical,

evidenciando a primeira maqueta do novo edifício do Instituto.A versão construída seria contudo outra (Álbum fotográfico do Congresso, Museu IHMT).