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A n a i s d o I HM T

1952, os trabalhos sobre a malária apresentados em simpósio

e nas comunicações foram conduzidos por malariologistas

de renome nacionais e internacionais [18]: Paul F. Russell

(1894-1983), representante da Fundação Rockefeller em

Itália e membro do Comité de Peritos em Malária (CPM)

da OMS; E. H. Cluver do departamento de Saúde Pública da

União da África do Sul [30]; Alberto N. Soeiro, director da

EstaçãoAnti-Malárica de Lourenço Marques (Moçambique);

Francisco Cambournac, professor do IMT, director do Insti-

tuto de Malariologia de Águas de Moura (IM) e membro do

Comité de Peritos em Malária (CPM) da OMS [31]; Manuel

T. V. Meira, professor do IMT; Manuel da Costa Monteiro,

chefe dos Serviços de Saúde de Cabo Verde [32]; Fernando

Tomaz Gonçalves, dos Serviços de Saúde de Macau; Francis-

co C.T. da Silva, Chefe da delegacia de saúde de Canácona

(Índia Portuguesa); Bruno Mesquita, director do Laboratório

Médico da província de Malange (Angola); Amadeu Colaço,

dos Serviços de Saúde de Angola; Henry Foy (1900-1991),

director da

Wellcome Trust Research Laboratories

em Nairobi

(Quénia; L. van der Berghe, M. Chardome e E. Peel da Sec-

ção de Estudos e Pesquisas Anti-maláricas de Elisabethville

(Congo Belga); I. Vincke, director da Secção de Estudos e

Pesquisas anti-maláricas de Elisabethville (Congo Belga) e

membro do Comité de Peritos em Malária (CPM) da OMS;

Fernando Machado Bustamante, investigador do Laborató-

rio Central do Serviço Nacional de Malária do Brasil; René

Rachou (1917-1963), director do Laboratório Central do

Serviço Nacional de Malária do Brasil; F. L. Lambreche, da

Secção de Estudos e Pesquisas anti-maláricas de Elisabethvil-

le (Congo Belga); Luis J. Brás de Sá, dos Serviços de Saúde

da Índia Portuguesa e da Escola Médica de Goa; Pondorinata

Borcar, dos Serviços de Saúde da Índia Portuguesa; JoãoVa-

lério, dos Serviços de Saúde de Moçambique.

A abordagem à malária foi marcada pelos métodos de com-

bate aos seus vectores, por estudos epidemiológicos – para

os quais a entomologia médica surgia como uma ferramenta

fundamental – por estudos comparativos sobre a eficácia te-

rapêutica, preventiva e curativa, da utilização de diversos me-

dicamentos – quinino, pirimetamina, cloroquina, proguanil,

amodiaquina –, por estudos sobre a febre biliosa hemoglobi-

núrica – respeitante aos seus aspectos clínicos e hematológicos

–, por novos conhecimentos sobre o ciclo exo-eritrocitário na

etiologia da malária, e pelo impacto na diminuição da incidên-

cia desta doença nos territórios onde a malária era endémica,

como resultado directo da utilização dos insecticidas de acção

residual, fundamentalmente do DDT e do Gamexane, em ter-

ritórios nacionais e estrangeiros.

As comunicações dos médicos e investigadores que actua-

vam sob a égide do IMT, essencialmente dedicadas ao con-

trolo da malária com insecticidas residuais, ao ensaio de anti-

-maláricos e aos estudos epidemiológicos, encontravam-se

enquadradas nas prioridades de uma audiência específica, a

da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comité de

Peritos em Malária (CPM).

Deste congresso resultou a crescente expectativa nas cam-

panhas anti-mosquito assentes nas pulverizações com DDT,

apoiada pela OMS e as suas premissas, e que apontava para o

estabelecimento de um objectivo global de eliminação desta

doença. Efectivamente, em 1955 a OMS estabeleceu o ob-

jectivo de erradicar a malária do mundo, no qual os insectici-

das residuais assumiam um papel principal, complementados

com a terapia medicamentosa, essencialmente a cloroquina,

e outros métodos de combate considerados eficazes e ade-

quados a cada país e a cada região [33].

Neste período, o IMT ressurgia do período de fraca produtivi-

dade científica e de pouca expressão internacional em que tinha

vivido na década de 1940 [34].O congresso de 1952 representa-

va, assim, o início da recuperação do prestígio internacional da

instituição de outrora, não só através do alinhamento dos traba-

lhos de investigação com a agenda científica internacional esta-

belecida pela OMS, mas também pela sua actuação nos territó-

rios Ultramarinos, particularmente no que respeita à malária.

A Exposição Documental das Actividades Sanitá-

rias do Ultramar

Às cerimónias comemorativas do cinquentenário da fun-

dação da Escola de Medicina de Lisboa e do Hospital

Colonial não poderia faltar uma exposição alusiva à ac-

tividade desenvolvida pelos Serviços de Saúde no espaço

ultramarino, fazendo jus à maioria das exposições reali-

zadas para publicitação do ideário imperialista desde as

primeiras décadas do século XX, em Portugal.

A Exposição Documental das Actividades Sanitárias do

Ultramar decorreu no Palácio Nacional da Junqueira (Pa-

lácio Burnay). O plano geral da exposição foi delineado

pelo pintor Lino António (1898-1974), através de um

concurso de concepção limitado [35]. Esta exposição pú-

blica pretendia demonstrar o desenvolvimento das políti-

cas de saúde pública no Portugal ultramarino, reiterando

assim o sentido das opções políticas que subjaziam à con-

ceptualização desses territórios pelo estado português,

entretanto reajustada na sequência da revisão constitucio-

nal de 1951 que transformara as colónias em províncias

ultramarinas.

Esta exposição, que contou com a representatividade

de todas as províncias, visava apresentar o percurso do

desenvolvimento da assistência médica nesses territó-

rios, contemplando a organização dos serviços de saúde

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A compilação destes dados foi realizada por Ana Braga e Rita Guerra, à época

estagiárias do museu do IHMT, a quem os autores agradecem

9

Esta missão permanente manter-se-ia em actividade até à data da independência

da Guiné, sendo reconfigurada por decreto em 1956 e 1964.

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O DDT foi descoberto no século XIX mas apenas nos anos 1930 Paul Muller

(1899-1965) desenvolveu a sua fórmula aplicada ao controlo de pragas.A utilização

do DDT durante a II Guerra teve aplicação no controlo dos vectores do tifo, da

malária e de outras doenças transmitidas por insectos, e valeria a Muller o prémio

Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1948 por esta descoberta ter permitido salvar

milhares de vidas durante e logo após a II Guerra Mundial.