Table of Contents Table of Contents
Previous Page  102 / 114 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 102 / 114 Next Page
Page Background

102

e congressos cujo debate girava em torno de uma “cultura

do império”. A Exposição do Mundo Português e o Con-

gresso do Mundo Português, realizados em 1940 para co-

memorar simultaneamente os centenários da Fundação e da

Restauração de Portugal, ocorridas respectivamente em 1140

e em 1640, são disso exemplo. O ego nacional reclamava a

realização de algo grandioso, de exibição sublime. Enquanto a

guerra devastava a Europa, em Lisboa esta exposição assinalava

o apogeu do Estado Novo de Salazar. Nesta exposição, à qual

acorreram mais de três milhões de pessoas curiosas por admi-

rar um mundo de gesso, síntese, tradução e representação das

glórias e do Império português, a assistência sanitária nas coló-

nias seria retomada, ainda que de modo sintético. O conteúdo

do pavilhão colonial, coordenado por Júlio Cayolla (1891-?),

Agente-Geral das Colónias, continuaria a obedecer a uma nar-

rativa, na qual se faseavam os grandes momentos do processo

colonizador [3]. O Congresso do Mundo Português, na reali-

dade, albergou nove congressos temáticos realizados no Porto,

Coimbra e Lisboa, durante seis meses. O nono congresso, o

congresso colonial, almejava identificar-se como síntese pro-

gramática do colonialismo português, assente na melhoria das

condições de vida de colonos e indígenas pela valorização da

medicina tropical. Estes elementos foram particularmente sa-

lientados por Ayres José Kopke Correia Pinto (1866-1947),

na sessão inaugural da 2.ª secção intitulada “a colonização e

o povoamento das colónias portuguesas de Angola e Moçam-

bique”, e pelas intervenções de Damas Mora (1879 -1939) e

José Firmino Sant’Ana (1879 -?) [4].

Na exposição “Construção nas Colónias Portuguesas: Reali-

zações e Projectos”, ocorrida no Instituto Superior Técnico

em 1944, a assistência sanitária voltaria a ser considerada.

Foi dirigida por Rogério Cavaca (1903-1981), director inte-

rino da Direcção-Geral de Fomento Colonial. Ao contrário

da Exposição do Mundo Português, que convocara o passado

para sustentar o presente da Nação, esta exposição podia já

dispensá-lo, focando-se apenas nas realizações presentes, so-

bre as quais se alicerçava o futuro das colónias: “passadas as

fases da ocupação militar e administrativa [...], executados

os primeiros planos de fomento económico [...], impunha-se

uma obra mais vasta de realizações que esta Exposição, nos

vemmostrar” [5]. Foi abordado o investimento realizado sob o

mandato de FranciscoVieira Machado (1898-1972), Ministro

das Colónias entre 1936 e 1944. Uma das salas era dedicada

à “Assistência médica”, embora apenas com representação de

Angola e de Moçambique. Foram apresentados gráficos sobre

os movimentos de hospitalização emAngola e painéis referen-

tes às ocupações sanitárias das duas colónias [6]. O destaque

ia, contudo, para as maquetas de vários edifícios, sobretudo de

hospitais, a maioria dos quais qualificados como grandiosos.

Poucos, no entanto, chegaram a ser construídos. Dado o âm-

bito da exposição, o material apresentado era revelador não

tanto de opções orientadoras da medicina tropical nesses dois

Fig. 2 -

Fotografia de uma representação figurativa alusiva ao exercício da medicina europeia junto do indígena, numa aldeia africana (Álbum Fotográfico da

Exposição Colonial realizada no Porto em 1934, Universidade de Coimbra).

V Mostra Museológica do IHMT