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A n a i s d o I HM T

O reforço da ideia de Império saída do

Acto Colonial

de 1930,

e retomada com a Constituição de 1933 que fundara o Es-

tado Novo, passaria também pela demonstração do desen-

volvimento da assistência sanitária (integrada na narrativa

histórico-política interna e externa). A atenção prestada à

assistência sanitária nas colónias acompanharia o investi-

mento que aí ia sendo feito pelo Estado, observável quer na

legislação para a sua organização, quer, sobretudo, na defini-

ção e na concretização das estruturas físicas que permitiram

implementá-la.

Nas antevésperas da Segunda Guerra Mundial, para enfren-

tar os crescentes comentários estrangeiros que afirmavam a

incapacidade portuguesa de levar a cabo as responsabilida-

des da colonização, o que poderia implicar a redistribuição

das colónias, o Governo de Salazar tomou algumas medidas

que considerava “preventivas da imagem”. As exposições e

os congressos, então realizados, constituíram-se como even-

tos culturais relevantes para a construção da identidade do

Estado-Nação. Importava divulgar e dar visibilidade às suas

intenções e realizações nas mais diversas áreas. A assistência

sanitária emergia com especial destaque nestes eventos. Se,

por um lado, se apresentava como elemento de apoio funda-

mental à concretização dos propósitos e ambições coloniais,

por outro, afirmava-se como estratégia de legitimação e im-

perativo filantrópico.

A 1.ª Exposição Colonial Portuguesa foi organizada me-

diante um critério “essencialmente prático, mostrando a

extensão, intensidade e efeitos da acção colonizadora por-

tuguesa, os recursos e actividades económicas do Império

e as possibilidades de estreitamento de relações comerciais

entre as várias partes da Nação”

1

. Esta exposição organizada

por Henrique Galvão e apresentada no Palácio de Cristal, no

Porto (transformado no Palácio das Colónias) e seus jardins,

pretendia ser um verdadeiro mostruário do Império. Nos

jardins recriaram-se ambientes etnográficos dos diversos

espaços coloniais, com figuração humana nativa vinda ex-

pressamente para o efeito. No Palácio organizou-se a expo-

sição, dividida numa secção oficial e numa secção reservada

a iniciativas privadas (essencialmente de cariz económico).

Na secção “Assistência Médica e Sanitária aos Nativos” foi

dramatizado o pólo da saúde e higiene [2]: modelos em ta-

manho real representavam uma cena algures numa colónia

de África, onde sob a orientação e supervisão de um médico

europeu um enfermeiro africano administra uma terapêuti-

ca a uma família da aldeia (figura 2).Trazia-se para junto do

visitante, o efeito visual de uma cena médica num destino

longínquo do imaginário social da metrópole.

A década de 30 foi profícua na organização de exposições

Fig. 1 -

Representação cartográfica da superfície do império colonial português comparada com a dos principais países da Europa. Henrique Galvão, Exposição

Colonial, Porto, 1934 (Biblioteca Nacional).

1

Decreto n.º 22.987, de 28 de Agosto de 1933, artigo 2.