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portância do conhecimento geográfico, controle e “recupe-
ração de terras” às glossinas, a biologia dos tripanossomas,
o diagnóstico, a fisiopatologia e a terapêutica da tripanos-
somíase humana, assim como a tripanossomíase animal
(enquanto problema social, económico e sanitário) e sua
terapêutica.
Do conjunto de territórios nos quais decorreu algum estu-
do ou investigação sobre as tripanossomíases, apresentado
ao Congresso, destaca-se a Guiné, como resultado da in-
tervenção da escola portuguesa de medicina tropical, par-
ticularmente a partir de 1945, enquadrado no contexto do
pós-Guerra, de instauração de uma nova política colonial
como resposta à nova conjectura internacional, ao definir
um programa de ocupação científica do Ultramar, da qual a
missão permanente de estudo e combate à doença, na Guiné,
é exemplo
9
. Lamentava-se Fraga de Azevedo, em 1947, da
seguinte forma: [26]
“Trabalhando a favor da conquista científica dos nossos
domínios ultramarinos, colheremos ao mesmo tempo ele-
mentos com que honrosamente possamos colaborar nos
congressos e outras manifestações internacionais (...).
Lamentável é desde já que, decorridos tão longos anos de
ocupação ultramarina, não possamos dispor de elementos
valiosos para participar no Congresso Internacional de
Medicina Tropical marcado para 1948, com a soma de tra-
balhos exigidos pela nossa responsabilidade de grande po-
tência colonial. Oxalá, porém, que possamos num futuro
breve recompensar o tempo perdido, pela intensificação da
acção científica a favor do progresso do nosso vasto Impé-
rio Ultramarino”.
Urgia lançar âncora à vertente da investigação, como outrora
acontecera na Escola de Medicina Tropical, encontrando-se
no espaço colonial, o “laboratório”
ideal para a desenvolver,
para a internacionalização da medicina tropical portuguesa
e, ao mesmo tempo, para a afirmação da política científica do
Estado.Até 1952 foram publicados mais de 80 trabalhos, que
vêm conferir visibilidade à investigação desenvolvida na Gui-
né sob a égide do Instituto de Medicina Tropical, ao mesmo
tempo que justificam a sua destacada evidência entre o con-
junto de Países que apresentaram comunicações resultantes
de investigação original.
Todas as comunicações apresentadas no Congresso são re-
flexo de um intercâmbio de experiências entre diferentes
espaços e realidades, tendo como denominador comum o
vector e o parasita. Resultante do debate produzido e das
questões levantadas saiu deste congresso a recomendação
de aprofundar e desenvolver estudos de estratégias efica-
zes de profilaxia e de “pôr em dia o arsenal terapêutico”, o
que passava pelo envolvimento dos serviços de combate às
tripanossomíases humanas, dos serviços veterinários e dos
de fomento das províncias ultramarinas, visando a melho-
ria das condições sanitárias das populações indígenas e dos
europeus, por forma a alcançar “a ocupação económica de
vastos territórios” [23].
A malária
A (re)descoberta do Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT)
nos anos 1930
10
[27, 28] e a eficácia resultante da sua utiliza-
ção no controlo de pragas associadas à transmissão de várias
doenças, entre as quais se encontrava a malária, gerou du-
rante a II Guerra Mundial novas expectativas no controlo e
na eliminação desta doença nos países onde se manifestava.A
partir de 1945, este insecticida de acção residual encontrava-
-se disponível no mercado mundial em elevadas quantidades
e passou a integrar os métodos “anti-mosquito” conduzidos
em vários países do mundo, para o combate à malária.
Durante a segunda metade da década de 40 e ao longo das
décadas de 50 e 60 do século XX, as campanhas de com-
bate à malária conduzidas em vários países do mundo, en-
tre os quais se encontravam os territórios portugueses – a
metrópole, CaboVerde, S.Tomé e Príncipe, Guiné, Angola e
Moçambique, Estado da Índia e Timor – assentavam funda-
mentalmente na utilização de insecticidas e larvicidas residuais
formulados à base de Gamexane e de DDT. Os dois insectici-
das actuavam rapidamente na eliminação dos mosquitos após
a sua aplicação e permaneciam eficazes durante um longo pe-
ríodo. O Gamexane, composto por Hexacloreto de Benzeno
(BHC) ou por Hexaclorociclohexano (HCH), permanecia
eficaz entre dois a quatro meses, em função da intensidade
de mosquitos vectores e da gravidade da malária, requerendo
novas aplicações findo este tempo; a acção do DDT perma-
necia eficaz ao longo de seis meses, fazendo baixar os custos
das campanhas de combate à doença [29]. O DDT tornou-se,
assim, no insecticida de acção residual preferencial para o con-
trolo da malária, cuja aplicação se fazia por pulverizações de
casas e abrigos de animais nas regiões rurais, onde até então a
malária era de difícil controlo, e em tratamento por soluções
larvicidas de pântanos e de charcos que constituíam os cria-
douros de larvas de mosquitos
Anopheles
.
Durante o I Congresso Nacional de Medicina Tropical em
Gráfico 3
– Representação do número de comunicações por Países sobre
as tripanossomíases apresentadas durante o Congresso
8
.
“recuperação de terras” às glossinas, a biologia dos tripanossomas, o diagnóstico, a fisi
a terapêutica da tripanossomíase humana, assim como a tripanossomíase animal (enqua
social, económico e sanitário) e sua terapêutica.
Gráfico 3 – Representação do número de comunicações por Países sobre as tripanossomíases apresentadas durante
4
Inspecto Chefe da Missão de Combate às Tripanossomíases em Moçambique.
5
Profes or do IMT (Médico-Chefe da Missã de Estud e Combate
da Doenç d Sono na Guiné Portugu
6
Investigador da
London School of Hygiene and Tropical Medicine
.
7
Investigador do
Institut de Médicine Tropicale ‘Princesse Astrid’
(Léopoldville),
Bureau Permanent Int
la Tsé-Tsé et e les Trypanosomiases
.
8
A compilação destes dados foi realizada por Ana Braga e Rita Guerra, à época estagiárias do museu do
os autores agradecem
V Mostra Museológica do IHMT