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A n a i s d o I HM T
Os múltiplos trabalhos apresentados neste congresso foram
posteriormente publicados nos
Anais do Instituto de Medici-
na Tropical
, de acordo com uma nova organização temática
que incluía as tripanossomíases [18], a malária [19], as hel-
mintíases e protozooses [20], as doenças infecciosas [21],
a nutrição [22], a etnografia e a antropologia [23] (gráfico
2). Estas publicações constituíram-se como veiculo privile-
giado de divulgação do programa científico do Congresso
(particularmente para os que não puderam estar presentes
no evento) contemplando as principais áreas de interven-
ção da medicina tropical, nas metrópoles e no espaço ul-
tramarino [24].
Do conjunto destas publicações destacam-se as comunica-
ções realizadas no âmbito da Malária e das Tripanossomía-
ses, não tanto pelo número de comunicações apresentadas
ao Congresso, mas sobretudo pela forma como estas duas
temáticas ilustram a importância histórica da actividade da
Escola de Medicina Tropical e do Hospital Colonial de Lis-
boa, bem como do Instituto de MedicinaTropical, ao longo
de 50 anos de actividade [7,13,34].
AsTripanossomíases
A Tripanossomíase humana esteve, desde o início, ligada à
cultura, história, investigação, ensino e assistência da escola
portuguesa de medicina tropical, em sintonia com o progra-
ma de investigação e de erradicação da doença estabelecido
a nível europeu, no qual ganhou algum protagonismo [9,
10,11]. Este facto não passou despercebido na iconografia
escolhida para o conjunto de selos comemorativos do Con-
gresso que foram emitidos para cada uma das províncias, res-
saltando aspectos distintos do exercício da medicina no espaço
ultramarino. Para Angola a escolha temática recaiu sobre a
doença do sono (figura 6), provavelmente para realçar a im-
portância da primeira missão médica enviada a África, a mis-
são portuguesa liderada porAníbal Bettencourt, (1868-1930),
para estudo e combate da doença, em 1901 [11, 25].
A discussão da problemática das tripanossomíases fez parte
integrante do programa geral do Congresso, o “
Symposium so-
breTripanosomíase Humana
”, no qual participaram dois investi-
gadores nacionais convidados (M. A. Andrade e Silva
4
e Fer-
nando Simões da Cruz Ferreira
5
) e dois estrangeiros (Patrick
Buxton
6
e Georges Neujean
7
). O conjunto das comunicações
versou sobre a epidemiologia doTrypanossoma rohdesiense,
a ecologia das glossinas, o diagnóstico e algumas particulari-
dades sobre a terapêutica da doença do sono.
Para além da inclusão da temática das tripanossomíases no
programa geral foram ainda apresentadas 21 comunicações
resultantes de trabalhos de investigação originais sobre o es-
tudo da doença, 3 dos quais, da autoria de investigadores
estrangeiros (Brasil, Leopoldville e Urundi) [17]. Os vários
trabalhos abordaram diversas vertentes da doença de inci-
dência nos diferentes países indicados no gráfico 3, funda-
mentais para um melhor conhecimento, controlo, combate
e tratamento. As comunicações distribuíram-se entre a im-
Gráfico 1
– Representação das áreas científicas contempladas nos trabalhos
publicados nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, como resultado da
sua apresentação no Congresso
3
.
Figura 6
– Selo de Angola emitido por ocasião do 1º Congresso
Nacional de Medicina Tropical para Angola (Catálogo de selos
litografados na Casa da Moeda, colecção pessoal).
12
ão puderam estar presentes no evento) contemplando as principais áreas de intervenção da
tropical, nas metrópoles e no espaço ultramarino [24].
2
A compilação destes dados foi realizada por Ana Braga e Rita Guerra, à época
estagiárias do museu do IHMT, a quem os autores agradecem
3
A compilação destes dados foi realizada por Ana Braga e Rita Guerra, à época
estagiárias do museu do IHMT, a quem os autores agradecem
4
Inspector Chefe da Missão de Combate àsTripanossomíases em Moçambique.
5
Professor do IMT (Médico-Chefe da Missão de Estudo e Combate
da Doença do
Sono na Guiné Portuguesa).
6
Investigador da
London School of Hygiene andTropical Medicine
.
7
Investigador do
Institut de Médicine Tropicale ‘Princesse Astrid’
(Léopoldville),
Bureau
Permanent Internacionale de laTsé-Tsé et de lesTrypanosomiases
.