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A n a i s d o I HM T

Congresso Internacional de MedicinaTropical e Paludismo, em

1958.Utilizando o apoio da OMS, a que não era estranho o facto

do seu representante para o continente africano ser português,

o instituto conheceu nos últimos 20 anos da sua existência uma

nova projecção nacional e internacional.

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Francisco Cambournac foi nomeado director da secção regional

de África, em 1953, onde permaneceu até 1963. Durante este

período deu visibilidade a um conjunto de vários investigadores

do instituto, bem como à investigação que nele desenvolviam,

permitindo assim um enquadramento do IMT nas opções toma-

das no âmbito das políticas de saúde pública, assumidas a nível

internacional. Fraga deAzevedo torna-se consultor do Conselho

Científico Africano (CSA), e consultor especializado em bilhar-

ziose, para a OMS, acompanhado por Manuel Reimão da Cunha

Pinto, para a febre-amarela, Guilherme Jorge Janz, para a nutri-

ção, e, Fernando Simões da Cruz Ferreira para as doenças parasi-

tárias em geral. Em paralelo, Fraga de Azevedo,Augusto Salazar

Leite, Carlos Trincão, Manuel Pinto, tornam-se consultores da

Comissão para a CooperaçãoTécnica na África ao Sul do Sahara,

CCTA, sob os auspícios das Nações Unidas, nos domínios da le-

pra, das boubas e da tuberculose.

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Ainda neste período importa referir a passagem de Aldo Cas-

tellani (1874-1971), pelo Instituto.

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Castellani era médico parti-

cular da família real italiana de Savoia, e acompanhou o Rei Hum-

berto II, no seu exílio em Portugal, fixando-se em Lisboa em

1946. Dada a reputação internacional que granjeara a partir da

sua experiência como membro da primeira comissão britânica

encarregue do estudo da doença do sono no Entebe (Uganda) es-

tabeleceu um cadinho de outras contribuições no âmbito da me-

dicina tropical centrada no ensino, na investigação e no exercício

da clinica tropical, em países como o Ceilão, Inglaterra e Itália.

Ao ser admitido em 1947 no instituto, pôde dar continuidade à

sua carreira desde 1947, ao mesmo tempo que pôde partilhar

com os restantes investigadores a sua experiência de excelência

no domínio da investigação, ensino e clinica tropicais [48].

Em 1966 o Instituto era incorporado na Escola Nacional de Saú-

de Pública, embora Francisco Cambournac assumisse a direcção

desta instituição. A autonomia progressiva da medicina tropical

ameaçava diluir-se na metrópole, numa instituição tutelada por

dois ministérios distintos e num cenário de grandes modificações

económicas e políticas que transformavam profundamente as

relações dos povos colonizados com os seus colonizadores, tei-

mando Portugal manter-se só no direito à manutenção do Estado

Imperial que se prolongaria até 1974.

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Não obstante os constrangimentos e dificuldades que a instituição

viveu entre 1966 e 1972, o ensino, a investigação, a divulgação

e as missões permanentes de doenças tropicais mantiveram-se,

fruto sobretudo das contribuições de Fraga deAzevedo, Francis-

co Cambournac, Fernando Simões e Cruz Ferreira, sustentado

sobretudo pelas relações internacionais.A lógica de intervenção

desta instituição passava por uma integração da medicina social,

no qual a medicina tropical se incluía, ajudando assim a consoli-

dar as suas relações internacionais entre médicos clínicos e inves-

tigadores, com os olhos postos nas instituições de organização de

saúde mundiais e nas suas relações com as províncias ultramari-

nas.A medicina tropical era uma questão de saúde pública e in-

teressava enquadrá-la numa perspectiva mais abrangente.Todavia

a associação de duas instituições com tradições de investigação e

de abrangência social distintas não resultou e deu origem à re-

organização de ambas a partir de 1972, com a criação do actual

Instituto de Higiene e MedicinaTropical.

A emergência, consolidação e institucionalização da medici-

na tropical em Portugal, que se desenrola entre 1902 e 1972,

acompanha o processo de descolonização e da independência

dos territórios ultramarinos sob jurisdição portuguesa e das três

instituições que se sucederam. Estas instituições preparariam a

“colonização” da medicina tropical nos territórios ultramarinos,

através da preparação gradual de técnicos, especialistas e institui-

ções de ensino e investigação, no âmbito da medicina tropical, ao

mesmo tempo que desenhariam uma nova forma de cooperação

com os países de língua portuguesa, permanecendo a medicina

tropical e áreas afins, como área de investigação prioritária per-

manente.

A medicina tropical portuguesa assume-se como área científica

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“M. Joseph Chamberlain, Ministro das colonias britannicas criou a 2 de

outubro de 1899 em Londres uma escola de medicina colonial.Tão eviden-

temente vantajosa se afigurava a criação da escola especial a que venho de

fazer referencia, que tendo M. Chamberlain, em um discurso pronunciado

em um banquete que na capital inglesa teve logar, em 1899, appellado para

o concurso e auxilio particular de todos os que no seu país se empenham

pelas questões coloniaes, a subscripção voluntaria produziu 16:000 libras.

O Ministerio das colonias e dos Estrangeiros subscreveram com 3:500

libras; e ministerio da India com l :000 libras, sendo o resto da subscrip-

ção coberto por particulares e por companhias financeiras e commerciaes.

Significam estes factos que a criação da escola de medicina colonial foi

geralmente reconhecida como da maxima vantagem. Ao mesmo tempo era

organizada a Escola de Medicina Exotica em Liverpool, cujas despesas

foram inteiramente cobertas pela subscripção publica. Em França alguns

dos seus mais distinctos professores de medicina tomaram recentemente

a iniciativa de uma subscripção publica, para a criação de um instituto de

medicina colonial”.

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O Atoxyl é um derivado arsenical. Descoberto por Béchamp em 1863.

Foi utilizado por vários autores no tratamento da sífilis e ainda testado em

animais de laboratório. Ayres Kopke é referido como o primeiro autor a

apresentar resultados da sua aplicação ao Homem com base em estudos

laboratoriais com animais de laboratório.

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A ilha tinha uma extensão territorial e uma população reduzidas. Para

além disso a maioria da população era fixa, o que permitia o seguimento

dos doentes por longos períodos de tempo.

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Ayres Kopke foi director do laboratório bacteriológico no Hospital da

marinha onde iniciou a sua carreira científica. Em 1897 publicou um tra-

balho sobre a malária, referido por Laveran no Tratado do Paludismo que

publicou em 1907. Em 1902 foi nomeado professor de parasitologia da

Escola de Medicina Tropical e director do respectivo laboratório. Em 1901

fez parte da missão portuguesa para estudo da doença do sono em Ango-

la, liderada por Aníbal Bettencourt, director do Instituto Bacteriológico

Câmara Pestana, em Lisboa. Desde então foi sempre o representante da

Escola de Medicina Tropical de Lisboa nos encontros científicos interna-

cionais e de Portugal nas comissões de estudo da doença do sono. No XV

Congresso Internacional de Medicina realizado em Lisboa a 1906, Ayres

Kopke, na comunicação que apresentou, defendeu as vantagens de utiliza-

ção do atoxyl no tratamento da trypanosomiasis gambiense fixando doses

específicas no tratamento.

13

Toda a informação se encontra disponível nos Anais do Instituto de Me-

dicina Tropical, para os anos indicados no texto.

14

Toda a informação se encontra disponível nos Anais do Instituto de Me-

dicina Tropical, para os anos indicados no texto.

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IIIª mostra museológica do museu do IHMT, inaugurada no dia 2 de

Dezembro de 2011, subordinada ao tema “ Ciência, medicina e política:

vida e obra de Aldo Castellani (1874-1971)”.

16

Toda a informação se encontra disponível nos Anais da Escola Nacional

de Saúde Pública e Medicina Tropical entre 1966 e 1972.