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Fig. 4 – Pires capturando simulídeos adultos, Úcua, Angola, 1960.
A verdade é que, menos de um ano depois, a
guerra de libertação começava emAngola. Eram as
minhas palavras “proféticas” ou seria a
compreensão do processo histórico que já se tinha
iniciado em Angola?
No meu trabalho de campo tive a oportunidade
de apreciar as qualidades de muitos Auxiliares que
ficavam ao meu lado, durante a noite, enquanto eu
realizava trabalho laboratorial, fazendo-me assim
companhia
e
sentindo
que
eles
também tinham por mim respeito, consideração e
amizade, como demonstraram os Senhores Jorge
Cassoma, Jonas, Chipindo e tantos outros, para
quem deixo aqui O MEU MUITO OBRIGADO
profundo e sincero.
Outra
das
brigadas
que
marcaram
indelevelmente a minha memória foi uma realizada
na área do rio Lomba, em 1961, para estudar a área
de distribuição de
Glossina morsitans centralis
, na
então designada mancha de Mavinga. A brigada era
constituída por “três Carlos” [Dr. Fontes e Sousa
(entomologista da Missão de Combate às
Tripanosomíases, infelizmente já falecido), Freitas
(caçador-guia) e eu próprio]. Tivemos de percorrer,
durante várias dias, os canais e rios adjacentes do
rio Kuando, no sudeste da atual província do
Kuando Kubango. Foi um trabalho exaustivo,
obrigando-nos a percorrer, a pé ou de piroga, vários
quilómetros em áreas totalmente cobertas por água
e sem prever o que iríamos encontrar para
determinar a área de distribuição desta subespécie
glossínica (Figs. 5 e 6). Esta região tinha sido
habitada pela população autóctone havia dezenas
de anos mas, com o avanço destes dípteros e o
aparecimento da doença do sono, foi lentamente
abandonada. Assim, nós encontrámos apenas
vestígios das antigas povoações.