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Fig. 2 - Professor Cambournac e Pires, 1992, IHMT, Lisboa.

Com a minha participação na segunda brigada,

tive a oportunidade de me iniciar na Parasitologia

e de conhecer, na Chissamba (Catabola), o casal

Styrangway, médicos muito conceituados em

Angola, devido aos seus elevados méritos

científicos e humanos, que tinham adquirido na

região e que contribuíram para o sucesso do

trabalho da brigada pelo apoio que nos

proporcionaram a diversos níveis.

Poucos meses depois, a MPEA fez deslocar à

região de Camacupa uma brigada chefiada pelo Dr.

A. Jacques Pena. Este, que ficaria a chefiar a

brigada por pouco tempo, quis apresentar-me à

autoridade administrativa local. O Dr. Pena, ao

dizer quem eu era e qual o trabalho que eu iria

realizar, ouviu do administrador: “

Já conheço o

Carlos há muitos anos e sou compadre do

Napoleão (meu pai), que foi meu colega na

Faculdade (Direito de Lisboa)

”. Foi emCamacupa

que chefiei, pela primeira vez, uma brigada e, por

coincidência, numa área em que o responsável

administrativo era compadre dos meus pais.

Quero recordar, tempos depois, a presença do

Professor Doutor Salazar Leite,

ilustre

dermatologista do Instituto de Medicina Tropical,

que se deslocou a Angola numa missão para o

estudo, entre outros, das doenças venéreas nos

povos do sul de Angola e que, após a colheita do

material biológico, aquando do regresso à sede da

MPEA no Huambo (Nova Lisboa), perdeu a mala

com os seus objetos pessoais e o material colhido.

Acontece que, nesta mala vinha, além do material

biológico, uma gillete e respetivos acessórios em

ouro, e nós, ingenuamente, pensámos ser esta a sua

maior preocupação, quando, pelo contrário, ele só

lamentava a perda do material biológico. Estranha

maneira de atuar, pensava eu. Mas, mais tarde, vi

como ele tinha razão: possuía uma fortuna pessoal

elevada e aquela perda não significava nada para

ele, enquanto o material biológico seria muito mais

difícil de obter.

Também não posso esquecer uma das brigadas

no norte de Angola, esta em 1957, com uma vasta

área para prospetar e estudar, abrangendo a bacia

hidrográfica do rio Lucala, nas quedas de

Calandula (Duque de Bragança) e a bacia

hidrográfica do rio Kuando (concelho de

Quimbele), com o objetivo de estudar a

distribuição das moscas do sono

Glossina palpalis

palpalis

e

G. fuscipes quanzensis

, subespécies

conhecidas como vetoras de tripanossomas em

África, e a possibilidade do achado de exemplares

ou de populações híbridas das mesmas.

Tivemos de fazer a travessia da ponte no rio

Kuando, que não oferecia quaisquer garantias de

segurança. Como a ponte se encontrava de tal

modo instável para a passagem das duas viaturas

ligeiras, decidi pedir para retirar todo o pessoal das

viaturas e conduzir a primeira, como teste, para

saber se a podíamos atravessar, o que não deixou

de me preocupar porque sabíamos que no rio

existiam não só hipopótamos mas também

crocodilos…