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Entomologia Médica, integrado na sua equipa,
constituída, à data, também pelo futuro
Professor R. A. Capela, da Universidade da
Madeira e pela Doutora Helena C. Ramos do
Centro de Zoologia do Instituto de
Investigação Científica Tropical.
Por estranho que pareça, após a conclusão
da minha licenciatura em Biologia pela
Faculdade de Ciências de Lisboa, em 1978, a
minha entrada efetiva na carreira de
investigação só se verificou posteriormente e
através do Centro de Doenças Infecciosas e
Parasitárias do INIC, sediado no IHMT, em
1988,
por razões que a razão não aceita
.
Na continuidade da experiência acumulada
em Angola, a tese da minha licenciatura em
Biologia foi sobre os flebótomos de Portugal e
originou o primeiro artigo em que se assinalou,
pela primeira vez, a presença destes vetores de
leishmânias no Algarve e foi igualmente com
este artigo que se reiniciou o estudo das
leishmanioses em Portugal (Pires, 1979)
seguindo-se, no ano seguinte, outro em
colaboração com o Professor Doutor Pedro
Abranches (Abranches e Pires, 1980). A
verdade é que, na primeira fase da minha
atividade científica em Portugal, a área
optativa foi a dos culicídeos ou mosquitos e só
posteriormente é que dei continuidade ao
estudo dos flebótomos, que tinha sido iniciada
em Portugal pelo eminente Cientista Dr. Carlos
França, em 1913 (Afonso
et al.
, 2007; França,
1913).
Na área dos culicídeos ou mosquitos, de
1974 a 1980, a equipa da Entomologia Médica
do IHMT, constituída pelos Drs. Carlos Alves
Pires, Helena Ramos e Ruben A. Capela, e
coordenada pelo Professor H. Ribeiro,
procedeu à prospeção sistematizada dos
mosquitos de Portugal, resultando na
constituição de uma coleção de mais de 20.000
exemplares, repartida por 44 espécies, e
provenientes de várias centenas, senão um
milhar de localidades. Foram publicados
trabalhos, integrados fundamentalmente na
série “Research on the mosquitoes of
Portugal,” sendo o último artigo da série
publicado em 2007 (Ramos
et al.
, 2007),
embora outros, da área dos culicídeos de
Portugal tenham vindo “a lume”, num total de
28 artigos, 25 em revistas nacionais e 3 em
revistas estrangeiras.
A importância do estudo dos vetores de
plasmódios ou de outros parasitas foi, desde o
início, um dos nossos objetivos. Para além do
levantamento da carta culicideológica de
Portugal, em algumas regiões este estudo foi
mais aprofundado, nomeadamente nos Parques
Naturais da Arrábida, de Montezinho e da
Serra da Estrela (Ribeiro
et al.
, 1996; Ribeiro
et al.
, 1999a; Ribeiro
et al.
, 1999b). Efetuámos
estudos da resistência natural do nosso
potencial vetor da malária, o mosquito
Anopheles atroparvus
, ao
Plasmodium
falciparum
, de origem africana (Angola e
Moçambique) (Ribeiro
et al.
, 1989b) e estudos
de culicídeos como potenciais vetores de
filárias animais, no país, observando-se, pela
primeira vez,
Culex theileri
Theobald, 1903
infetado por
Dirofilaria
sp. (Ribeiro
et al.
,
1983).
COOPERAÇÃO
A Cooperação foi sempre, para mim, um ato
de alegria por constituir a continuação de uma
filosofia constante e de grande preocupação
em não permitir, dentro das minhas
possibilidades,
que
se
caísse
num
neocolonialismo ou similar, muitas vezes
observado em vários países africanos, e não só,
que tinham atingido a independência com
grande esforço.
Durante a cooperação, de que fui
interveniente, como é vulgar dizer, senti-me
como peixe na água porque, por pouco que
tivesse feito pela independência das antigas
colónias, tive sempre a consciência de ter
ajudado em tudo o que podia. Nesse sentido a
minha atividade entomológica, posterior, não
se restringiu apenas a Portugal mas,
inevitavelmente, à cooperação com os países
africanos de língua oficial portuguesa, o que
iria constituir um outro aspeto importante da