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foram sendo introduzidas particularmente pelos

comerciantes, alarmando os governos. Seguiram-

se as invasões napoleónicas e a Guerra Peninsular,

com o êxodo da monarquia portuguesa para o

Brasil e, em seguida, a declaração de

independência daquela antiga colónia, em 1822,

arruinando os alicerces da economia nacional.

Daqui resultaram as convulsões sociais em

Portugal, ao adaptar-se a um novo regime

socioeconómico, que não fez mais do que combinar

o endividamento externo do Estado com a

emigração para o Brasil, mantendo o Pais, segundo

Oliveira Martins, com

“uma sociedade vivendo de

recursos estranhos ou anormais e não do frutodo

seu trabalho e economia…”

(Sérgio, 1978).

DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ULTRAMARINOS

NO SÉCULO XIX

Só em meados do século XIX, com o esboço de

um plano ou de uma política sanitária, aparecem

serviços de saúde com as responsabilidades

inerentes ao Ultramar, de burocracia e hierarquias

próprias. Surgem na sequência das invasões

francesas, da Guerra Peninsular e da independência

do Brasil. Apesar do empenho de Sá da Bandeira

(1795-1876) para o desenvolvimento dos

territórios africanos sob domínio português,

persistia um vazio de referências quanto a política

colonial. Só despertámos desse vazio no rescaldo

do Ultimato inglês (1890) e do Tratado de Berlim

(1890), que forçaramPortugal a apostar fortemente

numa ocupação efetiva dos vastos territórios que

ficavam sob o seu domínio.

Essa ocupação dos territórios além-mar implicou

investimentos no setor sanitário, que a nível

europeu estava subordinado a cinco influências

poderosas: a higiene pública, do movimento

iniciado por Chadwick; as

descobertas

bacteriológicas de Louis Pasteur (1822-1895) e

Robert Koch (1843-1910), congregadas com a

assepsia de Ignaz Semmelweis (1818-1865) e

Joseph Lister (1827-1912); o desenvolvimento da

enfermagem profissional, impulsionada por

Florence

Nightingale

(1820-1910);

a

sistematização com recolha e tratamento de dados

estatísticos sobre a saúde e as populações, de

Galton (1822-1911), Weldon (1860-1906) e

Pearson

(1857- 1936)

; a ação dos reformadores

sociais, que pressionavam a atuação política,

levando os Estados a assumirem cada vez maiores

responsabilidades com a saúde dos seus povos

(Gonçalves Ferreira, 1982). Foi assim, com estas

linhas mestras, que as políticas públicas evoluíram

durante o século XIX, em Portugal, como no resto

da Europa.

A 11 de Agosto de 1835, foram publicadas as

“Instruções aos facultativos que vão em serviço

público para as possessões portuguesas em

África”

(Pinheira, 1970b; Pinto, 1970). No quadro

da revolução de Setembro de 1836, Manuel da

Silva Passos (1801-1862) aprova o

Conselho de

Saúde Pública

e o

Regulamento de Saúde Pública

(Viegas

et al.

, 2009)

.

O Conselho tem funções da

autoridade sanitária, para fiscalizar e inspeccionar

tudo o que respeite à Saúde e Higiene Pública e é

também incumbido de estudar a difusão da

vacinação, colaborando com a

Instituição

Vacínica

, fundada em 1812 pela Academia das

Ciências.

Em 14 de Setembro de 1844, é esboçada uma

organização dos serviços de saúde ultramarinos,

começando-se, no âmbito local, a tomar

providências

quanto

a

formulários

de

medicamentos e respetivos regimentos de preços,

bem como sobre a administração hospitalar.

Enveredou-se por uma política de aumento de

quadros e de unidades sanitárias (1860-1862)

(Pinheira, 1970b; Pinto, 1970). Em 1851, Portugal

foi um dos três signatários da convenção da

conferência internacional de saúde, em Paris

(juntamente com a Sardenha e a França) (Rosen,

1958). Em 28 de Outubro de 1862, saiu o

Regulamento Geral dos Serviços de Saúde das

Províncias Ultramarinas

”, que criou o cargo de

diretor do serviço de saúde, mantendo a atividade

dirigente das Juntas de Saúde Pública, numa

orgânica ainda respeitadora dos moldes militares.

Em1869, a

Organização do Serviço de Saúdedas

Províncias Ultramarinas

determina a localização

do pessoal médico e farmacêutico nas diversas

localidades (Pinheira, 1970b; Pinto, 1970).

A 28 de maio de 1886, publica-se a “Carta de

Lei” de “

Reorganização Geral do ServiçodeSaúde

no Ultramar”

, revelando-se já uma tendência para

tornar predominantemente públicos os serviços de

saúde e atenuando-se o carácter militar (Pinheira,

1970a 1970b; Pinto, 1970).

Entre 1882 e 1900, criaram-se o Gabinete de

Microbiologia da Faculdade de Medicina de

Coimbra (1882), o Instituto Bacteriológico de

Lisboa, (1892), o Laboratório Municipal de

Bacteriologia, no Porto

e o Instituto Central de

Higiene, em Lisboa (1899). Este último

,

passou em