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RECORDAÇÕES DE UMA VIDA. 60 ANOS DE DEDICAÇÃO À PARASITOLOGIA E

AO INSTITUTO DE HIGIENE E MEDICINA TROPICAL

CARLOS ALVES PIRES

Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Universidade Nova de Lisboa (UNL). Rua da

Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa, Portugal. Telefone: +351213652.

E-mail

:

alvespires@ihmt.unl.pt.

Unidade de Parasitologia e Microbiologia Médicas (UPMM) / Fundação para a Ciência e Tecnologia

(FCT).

Os acasos e os acidentes ocorrem, mas nem sempre nos apercebemos desses fatos

que podem alterar as nossas vidas, não importando quando e quanto.

Nem todas as recordações são para revelar e nem tudo o que se diz está completo.

As meias verdades às vezes são muito úteis, mas aqui só ficam as minhas verdades.

RESUMO

O autor apresenta, de forma sucinta, a sua experiência profissional,de

mais de 60 anos ao serviço do Instituto de Higiene e MedicinaTropical,

desde o início da sua carreira, com 16 anos, como técnico de

laboratório, em Angola, na Missão de Prospecção de Endemias e,

posteriormente, após as independências, noutros países de língua

oficial portuguesa (Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Angola) no

âmbito da Parasitologia Médica, com particular ênfase em

Entomologia Médica e especialmente em culicídeos (mosquitos).

São também focados aspetos relevantes dos trabalhos publicados, de

que é autor ou co-autor, no que diz respeito ao referido grupodevetores

e em flebotomíneos, assim como a epidemiologia das doenças cujos

agentes patogénicos são transmitidos pelos mesmos.

Relembra algumas das suas relações científicas destes 60 anos de

trabalho com vários Professores, Investigadores, Técnicos e

Colaboradores, e das contrariedades e alegrias que partilhou durantea

sua vida como cidadão e cientista.

SUMMARY

The author presents over 60 years of his professional experienceon

the Instituto de Higiene e Medicina Tropical, since the beginningof

his career at 16 years of age, as laboratory technician inAngola,inthe

Missão de Prospecção de Endemias, to his research work on Medical

Parasitology, with particular emphasis on Medical Entomologyand

specially on mosquitoes (Diptera, Culicidae), after the independence

of other Portuguese speaking countries, namely Cape Vert, S.Tomé

and Príncipe Islands.

Also focused are relevant published papers, authored or co-authored,

regarding mosquitoes and phlebotomine sand flies (Diptera,

Psychodidae), as well as the epidemiology of diseases whose

pathogens are transmitted by these vectors.

The author mention some of his scientific activitiesoverthese60years

of work with several Teachers, Researchers, Technicians and

Collaborators, and the hardships and joys that he shared duringhislife

as a citizen and scientist.

BRIGADA DE ENDEMIAS EM ANGOLA

A Missão de Prospecção de Endemias de Angola

(MPEA), criada pelo decreto nº 37727 de 30 de

janeiro de 1950 (I Série) tinha, por funções, o

estudo e investigação de diversas endemias,

destacando-se a febre amarela e a malária e,

conforme o mesmo decreto, seria chefiada pelo

Professor da Cadeira de Higiene do Instituto de

Medicina Tropical que, à data, era o prestigiado

Professor Doutor Francisco J. C. Cambournac,

mais tarde Diretor Regional da Organização

Mundial da Saúde para África, cargo que iniciou

em 1954.

Fui admitido como auxiliar de laboratório da

MPEA em 02 de março de 1953 e tive a minha

primeira saída de campo para a área do Lobito,

numa brigada chefiada pelo Dr. Álvaro Gândara,

para estudar a presença/ausência de

Aedes aegypti

na região do aeroporto, à semelhança do que tinha

sido efetuado na área do aeroporto de Luena (Vila

Luso). Foi a minha primeira brigada e a que mais

me marcou, por ser a primeira e porque a viagem

se realizou durante a noite, compartida do Huambo

e chegada ao Lobito ao raiar da aurora. Mas a

verdade é que o Dr. Gândara, assistente do

Professor Doutor Fraga de Azevedo e chefe

interino da MPEA, foi extraordinário durante toda

a brigada, compreendendo a minha situação de

neófito e de jovem naquelas “andanças”. Penso

que, com o meu empenho, passei a ter um amigo

naquele médico, que tinha sido, anos antes,

Presidente da Câmara do Lobito e criado bolsas de

estudo, revelando assim a sua preocupação pelos

menos favorecidos (Fig. 1).