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A AÇÃO SANITÁRIA EM ÁFRICA
No caso de África, foram-se construindo, ou
adaptando, unidades sanitárias para apoio em terra,
para assistirem as armadas portuguesas,
fornecerem cuidados aos feridos de guerra e aos
enfermos que sofriam pelas más condições
sanitárias das longas viagens e extensos períodos a
bordo. Algumas dessas unidades serviram também
as populações gentílicas (Doria, 2009).
Em 1482, o hospital de São Jorge da Mina, no
atual Gana, era possivelmente apenas uma
enfermaria anexa à fortaleza mas, em 1495,
dispunha já de um físico e de um boticário. É
curioso notar que, em carta régia de 1548, o rei
ordenava ao capitão-mor da Mina que
“quando os
ditos escravos foremdoentes fá-los-ei visitarpelo
físico e curar e prover de tudo o que lhes for
necessário…”
(Doria, 2009).
O hospital da Ribeira Grande, na ilha de Santiago,
em Cabo Verde, data de 30 de Junho de 1497, em
tempo do reinado de D. Manuel I (1469 [1495] -
1521) (Doria, 2009).
Em 1504, D. Manuel I autorizou também a
construção de umhospital emSão Tomé,
“paranele
serem agasalhados e reparados os doentes e
pessoas miseráveis da dita ilha,comoosquedefora
a ela vão”
, atendendo assimumpedido que Pero de
Caminha lhe dirigira quando era capitão donatário
da ilha. Para a sua edificação, bem como da igreja
da Misericórdia, o rei destinou verbas da Ordemde
Cristo e colocou-os na dependência administrativa
direta da vigararia de Tomar, com completa
independência do Capitão donatário. Em 1516, o
hospital era administrado pela Misericórdia (Doria,
2009).
Sofala e Quilôa estavam já providas de
estruturas sanitárias em 1505, as quais certamente
não passavamde enfermarias instaladas em alguma
divisão das respetivas fortalezas (Doria, 2009).
Em 1507, foi mandada erguer a fortaleza da Ilha
de Moçambique e, na mesma disposição, estava a
incumbência de se edificar um hospital para os
doentes que chegavam do Reino:
“Vasco Gomes
trazia em regimento que em Moçambique fizesse
uma torre de dois sobrados, emqueseaposentasse,
e fizessemgrandes casas para recolhimento das
fazendas que se descarregassem, e sobretudo se
fizesse um hospital para os doentes que ali
chegavam do Reino…”
(Doria, 2011). Do Reino
seguiu o projeto das construções, entre elas do
hospital, uma casa grande com varanda atrás e
residência separada para o enfermeiro e uma outra
para a botica, além dos aposentos para o mestre.
Poucos anos depois, este primeiro hospital da Ilha
de Moçambique estava em ruína e só ganhou
notoriedade em 1537, quando Aleixo de Sousa
Chichorro foi colocado na capitania de
Moçambique. Aleixo era filho de Garcia de Sousa,
provedor do Hospital de Todos-os-Santos e deveria
saber do assunto. Mandou reedificar a fortaleza e
compor o hospital. Na opinião de Simão Botelho
(1504-1565), sexto vedor da fazenda da Índia, o
hospital ocupou primeiro umas casas alugadas e, só
em 1545, alcançou edifício próprio. Talvez nessa
altura já estivesse sob administração da
Misericórdia, desde 1542. Chegou a albergar mais
de uma centena de doentes num só período e teve
grandes carências no abastecimento de mezinhas,
dependendo, em várias épocas, dos recursos que
lhe mandavam de Sofala e a “nau do trato”, que da
Índia, vinha até Moçambique, fornecia os
medicamentos (Doria, 2009).
Em Agadir, Santa Cruz do Cabo de Gué, João
Lopes de Sequeira ergueu um pequeno forte em
1505-1506. Em 1513, o forte passou para a posse
da Coroa e, em 1518, já estava ali instituída a Santa
Casa da Misericórdia, dotada do seu pequeno
hospital de que se conhece o rol dos pagamentos de
1528 a 1534. Em Melinde, não longe de Zanzibar,
em 1511, havia um pequeno hospital anexo à
fortaleza. Em Arzila, existiu uma enfermaria da
Misericórdia por volta de 1522, embora talvez ali
houvesse uma outra mais antiga, de 1509 (Doria,
2009). Em 1576, foi fundado o hospital de Luanda,
que seria só uma enfermaria na fortaleza do morro
de São Miguel (Doria, 2009). O primeiro hospital
da Guiné data provavelmente de 1634 (Salles da
Fonseca, 2006).
Por determinação de Inocêncio VIII, em 1485,
foi definida uma nova organização de assistência
hospitalar. As mercearias e hospitais menores
deram lugar a uma nova estrutura que centralizou
todos estes serviços (Vieira, 1996). Na sequência
dessa determinação foram criadas as Confrarias das
Misericórdias, nos finais do século XV (1498), pela
Rainha Dª Leonor (1458-1525), viúva de D João II
(1455 [1481]-1495), acolhendo a iniciativa de um
grupo de leigos associados ao seu confessor,
frei
Miguel Contreiras
. Estas Confrarias tinham por
obrigação cumprir 14 obras de misericórdia: sete
espirituais e sete materiais. Entre as materiais
realçam-se a segunda e a sétima, respetivamente