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uma sobre ou subvalorização do risco de exposição
às doenças infeciosas, comutilização desnecessária
de medidas profiláticas, dispêndio financeiro e
potenciais efeitos adversos, ou à aquisição de
doenças, com graus de morbidade e mortalidade
variáveis e associados a um custo financeiro
potencialmente catastrófico.
No que toca às patologias adquiridas na viagem,
com manifestações clínicas durante a deslocação
ou após o regresso, o problema centra-se na
qualidade do seu manuseio clínico. Durante a
viagem, principalmente, mas não exclusivamente,
para destinos exóticos, é frequente a insuficiência
ou mesmo inexistência de recursos médicos
adequados ao seu diagnóstico e/ou tratamento
corretos. De regresso ao país de origem, o
problema
coloca-se
em
termos
do
desconhecimento
médico
das
patologias
potencialmente envolvidas, o que causa com
frequência referenciação tardia para o especialista
em Infeciologia ou Medicina Tropical. Todos os
anos, morrem desnecessariamente indivíduos com
malária no chamado “mundo desenvolvido”;
periodicamente são vistos doentes com
consequências genito-urinárias irreversíveis duma
schistossomose diagnosticada demasiado tarde.
Grande parte dos profissionais que praticam
Medicina das Viagens efetua apenas a componente
de aconselhamento, deixando o manuseio dos
viajantes que adoecem para os especialistas em
Infeciologia ou Medicina Tropical; devem, no
entanto, estar capacitados para reconhecer e tratar
ou triar as principais síndromes no viajante que
regressa.
Cada destino tem características próprias. Cada
viajante e cada viagem são únicos. Para fazer face
a esta complexidade e variabilidade, o profissional
que quer praticar uma Medicina das Viagens de
qualidade necessita de fontes de informação que
possam corresponder, em termos de rapidez de
transmissão da informação epidemiológica global
e da sua qualidade, às exigências do desafio
colocado pelo binómio viajante/viagem. A
importância da investigação e partilha de
informação científica nesta área pode ser avaliada
pela existência de duas revistas científicas a ela
dedicadas: o
The Journal of Travel Medicine
, cuja
publicação se iniciou em1994, e o
Travel Medicine
and Infectious Diseases
, lançado em 2003.
Ser capaz de aceder e usar convenientemente as
múltiplas fontes de informação disponíveis em
Medicina das Viagens é um aspeto importante da
prática de Medicina das Viagens. O grande
desenvolvimento das tecnologias informáticas veio
trazer instrumentos poderosos e superiores em
termos de rapidez na transmissão de informação
aos livros de texto, artigos em revistas científicas,
correio, fax, ou telex, uma vez que permitem
atualização contínua da informação.
Os instrumentos informáticos destinados a
profissionais de saúde incluem programas
disponíveis em versão
off-line
,
on-line
ou
web-
based
. As principais estão listadas na Tabela 1.
Estes programas são úteis tanto no aconselhamento
pré-viagem como pós-viagem. A sua estrutura
interativa permite, face a um determinado binómio
viajante/viagem, avaliar com rapidez os diversos
riscos infeciosos ou não, escolher medidas
profiláticas adequadas (medicamentos e vacinas),
fornecer informações sobre disponibilidade de
cuidados médicos no local de destino, podendo, se
necessário, constituir um auxílio valioso ao
diagnóstico de patologias adquiridas durante a
viagem e seu manuseio. O resultado da pesquisa
efetuada pelo profissional pode geralmente ser
impressa e fornecida ao viajante.
Tabela 1
Principais programas para profissionais de saúde em Medicina das Viagens.
Designação comercial
País de origem
TRAVAX
EUA / Reino Unido
MASTA
Reino Unido
Tropimed
Suíça
Edisan
França
Exodus
Irlanda
São numerosos os sítios eletrónicos que
disponibilizam, sem custos, acesso a bases de
dados, abertas ao público em geral, mas que podem
fornecer informação valiosa ao profissional. Os
sítios eletrónicos da OMS (
International Travel
and Health
) e do
Centers for Disease Control
(CDC, EUA) (
Travelers' Health
) são considerados
como referência mundial e emitem diretrizes e
normas internacionalmente aceites. Neles, as
informações relativas a eventos globais são