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princípio primeiro visa a comunicação para a

saúde. O objetivo primordial prende-se com

conseguir que o cidadão que procura esta consulta

percecione, compreenda e aja de acordo com as

determinações que lhe são propostas. A pergunta

evidente parece ser: porque não seguimos sempre

as prescrições dos médicos?

No contexto restrito do nosso país, parece

possível afirmar-se que sabemos muito pouco

sobre o grau de literacia em saúde

5

– entendida

aqui como o conjunto de crenças e conhecimentos

sobre as diferentes doenças que permitem o seu

reconhecimento e prevenção ao nível comunitário,

mas também como a capacidade que temos de

individualmente compreendermos e agirmos de

acordo com as propostas e prescrições dos agentes

de saúde – da nossa população.

Pensemos no papel que a literacia em saúde

desempenha no seio de uma sociedade. Aqui, a

noção de informação ganha especial relevo, mas

não nos podemos esquecer que a informação é só o

primeiro passo que leva a uma mudança de

comportamentos; muitos outros continuam a ser

necessários.

De facto, a informação e o conhecimento são um

sinónimo de poder. Poder para prevenir a doença,

poder para procurar apoios, poder para esclarecer

dúvidas, poder para ter ao seu dispor as ferramentas

necessárias para o início de um processo de

mudança. Se não houver conhecimento e, mais do

que isso, se não houver um elevado nível de

literacia em saúde, a população (ou o indivíduo

enquanto cidadão autónomo) não saberá como

prevenir-se de uma doença, como apoiar o seu

tratamento, como procurar que apoios e ajudas

estão disponíveis, entre outros aspetos.

Representativo do que acabámos de dizer é o

desconhecimento da existência de consultas do

viajante, qual o seu interesse e necessidade. Os

conceitos de saúde ou doença quando pensamos em

viajar parecem resumir-se a uma ou outra exigência

de uma qualquer vacina que “parece” ser

obrigatória.

Mas se é verdade, como afirmava Francis Bacon,

no século XVI, que “o conhecimento é em si

mesmo um poder”, sabemos hoje que nos

processos de tomada de decisão sobre prosseguir

ou não, de forma atempada e adequada com a

profilaxia da malária, de continuar a colocar

bronzeador mesmo ao fimde um mês de exposição

5

Talvez a definição mais básica e comummnete aceite

seja a proposta pelo Departamento de Saúde Americano:

“(Health literacy is)…the degree to which individuals

have the capacity to obtain, process, and understand

ao sol, ou de não partilhar uma bebida colorida

repleta de gelo de que desconhecemos a origem,

em países tropicais, não basta o “saber”. Torna-se

fundamental perceber que entre o reconhecer o

problema, e o adquirir o comportamento adequado

vai um longo caminho cheio de variáveis, nem

sempre racionais, onde as características

individuais se cruzam com os contextos culturais

na sua aceção mais lata.

Se diversas investigações nos permitem afirmar

que os meios de comunicação de massas podem

aumentar o nível de literacia em saúde de uma

comunidade, não deixa de ser verdade que também

a podem dificultar, de formas muitas vezes

dramáticas. Dir-se-ia que uma das realidades que

mais fortemente tem ilustrado esta questão é a que

se prende com os distúrbios alimentares ou, talvez

mais próximo do tema que aqui nos traz, um

determinado tom de bronzeado, mas podemos

generalizar para quase todos os aspetos das nossas

vidas quotidianas. A sua capacidade para

“promover”, mesmo que de forma não intencional,

comportamentos de risco é simétrica ao seu poder

para levar os seus ouvintes, leitores ou

telespectadores a comprometerem-se com estilos

de vida saudáveis e comportamentos que emergem

como fatores protetores.

Quando abordamos o papel dos grandes

responsáveis pela comunicação mediada na

segunda metade do séc. XX, não nos podemos

escusar a tratar do meio dito por excelência deste

início de século: a

world wide web

. Sabemos que

milhões não têm acesso ao

hardware

mas

centramo-nos aqui no nosso contexto de

intervenção, Portugal. Milhares de pessoas usam a

internet

diariamente na procura de informação

sobre questões ligadas à saúde/doença em geral, e

aos aspetos específicos que, em geral, designamos

como pertencendo à medicina tropical. A grande

questão que se coloca é comque dados se deparam

e a que tipos de informação têm acesso.

Poderíamos ainda pensar em todos os aspetos

necessários para aceder à

internet

, o domínio ou

não das linguagens tecnológicas, bem como o

acesso a informação em outras línguas para além

do português, mas este não é o momento. Qual o

nível de pertinência, acuidade e correção da

informação que encontram? Que nível de literacia

em saúde será necessário para que se possa aceder,

escolher e avaliar a informação (ou os dados) que

basic health information and services needed to make

appropriate health decisions" (U.S. Department of

Health & Human Services, 2001, p. 7,8).