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vão desde páginas mais ou menos reconhecidas, a

grupos de apoio ou sítios comercias de pertença

duvidosa? Genericamente, diríamos que o nível de

literacia que é exigido para “navegar” com sucesso

nos suportes digitais é, com certeza, ainda superior

ao que permitia distinguir, muitas vezes com muita

dificuldade, o que era informação, entretenimento

ou anúncios nos ecrãs das televisões. Escusamo-

nos, por agora, a discutir se a informação era

compreendida como pretendido…

Quando falamos de literacia em saúde, não nos

podemos esquecer também que uma das grandes

questões se prende com o facto de este não ser um

constructo simples, mas antes uma união de

diferentes outros aspetos que se deixam organizar

sob as designações de literacia: fundamental,

científica, cívica e cultural (Zarcadoolas e Greer,

2005; Zarcadoolas e Greer, 2006). De forma muito

rápida, temos que a literacia fundamental engloba

todos os aspetos que se prendem com o acesso à

leitura, à escrita e à capacidade de contar; a literacia

cultural, com os aspetos contextuais do indivíduo

em termos da sua sociedade ou grupo de pertença e

em como tudo isto é usado na interpretação que

fazem, no nosso caso, da informação relacionada

com a “saúde”. A questão da literacia cívica é o que

permite suprir uma outra dicotomia: a da saúde

pública e da saúde individual. Consideram-se

também, como literacia cívica, todas as questões

relacionadas com o acesso a informação mediada,

bem como a consciência que os indivíduos têm

sobre como as suas decisões individuais afetam a

saúde pública; não será com certeza necessário

referenciar a questão, já múltiplas vezes explanada,

do uso de preservativo algures no Pacífico não ser

somente uma questão clínica. O nível de

competência no que se refere a questões que se

prendem com as ciências naturais e a tecnologia faz

parte do que designamos como literacia científica,

englobando-se aqui todas as questões que tomamos

como pertencendo à linguagem médica.

Se é verdade que hoje a classe médica já

compreendeu que muitas vezes deverá tornar a sua

linguagem adequada aos seus

públicos

abandonando o jargão técnico parece não ter

entendido ainda que não é só a falta de literacia

científica que está em questão no contexto de uma

consulta. O “doente” que, no contexto específico

desta reflexão não o é, pelo menos em sentido

estrito, traz consigo, além de todas as suas

competências e algumas incapacidades, o seu

mundo, o seu contexto laboral e de diversão, a sua

família, a sua religião, os seus hábitos e costumes.

O papel que desempenhamna tomada de decisão

por parte destes cidadãos, sobre se deverão ou não

acatar as propostas do médico sobre a não ingestão

de água não engarrafada em países com surtos de

cólera, ou a ingestão diária de um determinado

fármaco visando a profilaxia da malária, todo o

conjunto de crenças, costumes e praticas que

podemos designar como a sua literacia cultural e,

em muitos casos, os baixos níveis de literacia

cívica, não são um problema menor em termos de

comunicação em contextos de saúde. Talvez estas

duas dimensões, que condicionam, de uma forma

subsumida, a literacia em saúde, e determinam,

tantas vezes, a ineficácia da promoção da saúde em

termos das consultas do viajante, expliquem, de

forma com certeza generalista e claramente

insuficiente, as dificuldades que encontramos ao

tentar explicar a um jovem que o risco de morrer –

se não tiver alguns cuidados mínimos em termos

alimentares em países onde a cólera é uma

realidade –, ou ao “veterano” das idas e

permanências em Angola que a malária continua a

ser um risco, mesmo para ele, a necessitar uma

profilaxia adequada.

Quando falamos em comunicação numa aceção

geral podemos perspetivar diversas abordagens,

mais ou menos centradas em aspetos da interação

face-a-face ou da comunicação mediada, questões

de foro mais ou menos psicológico, análises

linguísticas, discursivas ou conversacionais mais

ou menos esclarecedoras. Sendo o mote aqui a

Consulta do Viajante optou-se por olhar para

alguns dos seus problemas e constrangimentos, no

que à comunicação se refere, sob o olhar do

conceito de “literacia em saúde”, o único que tal

como a “Consulta do Viajante” nos permite superar

dicotomias nomeadamente a dicotomia Saúde

Pública / Saúde individual.

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