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modo seguro. Posteriormente, dever-se-á atualizar
e/ou expandir o seu reportório vacinal e propor
medidas para reduzir o risco de patologias como
diarreias,
malária,
arboviroses,
infeções
sexualmente transmissíveis, e mesmo o risco de
traumatismos ou falhas de segurança, entre outros.
Deste modo, a realização desta consulta pressupõe,
por parte do clínico que a executa, as seguintes
qualificações/aptidões: conhecimento (geografia;
epidemiologia, transmissão e prevenção das
doenças infeciosas em viajantes; indicações,
contraindicações, efeitos colaterais, interações
medicamentosas, armazenamento e manuseamento
de vacinas e fármacos prescritos para viajantes;
prevenção, manuseamento e avaliação de eventuais
riscos não infeciosos relacionados com a viagem;
reconhecimento das síndromas mais relevantes nos
viajantes que regressamdoentes; acesso a material
científico
e
informação
epidemiológica
atualizada); experiência (viagens a locais de risco,
estágios numa clínica de viagem); formação
contínua (cursos de medicina das viagens,
inscrição em sociedades relacionadas com
medicina tropical e/ou medicina das viagens,
subscrição e utilização de periódicos científicos)
(Hill e Bia, 2005).
A consulta de Medicina do Viajante é, assim,
uma consulta médica sobretudo preventiva,
podendo ser curativa, se existirem problemas
durante ou após a viagem, e compreende, portanto,
três fases: antes, durante e após a viagem (ou
sejam: pré-viagem, trans-viagem e pós-viagem). A
maioria dos viajantes apenas faz a consulta pré-
viagem, não necessitando, habitualmente, de outras
consultas por, aparentemente, não terem existido,
durante a viagem, preocupações de ordem médica.
Na consulta realizada antes da viagem, o médico
deve estabelecer três focos de análise e
intervenção:
- O viajante, avaliando e, se necessário,
estabilizando o seu estado de saúde, de modo a não
ter limitações na sua viagem;
- O local, ou locais, da viagem: o médico deve obter
o melhor conhecimento possível dos riscos a que o
viajante pode estar sujeito nos locais para onde se
desloca: que doenças são mais prevalentes, quais as
suas principais formas de transmissão (por água ou
alimentos, por insetos, por contacto interpessoal);
- O tipo de viagem, com definição dos riscos para
a saúde em função da interação entre o viajante e
esses locais, isto é, que atividades vai desenvolver
e quais os riscos que comportam: contacto com
águas e alimentos em ambientes com mau
saneamento básico, doenças transmitidas por
insetos, segurança, infeções de transmissão sexual,
e doenças em surto epidémico nas zonas de destino.
Identificados os riscos de cada viajante,
estabelecem-se prescrevem-se as suas formas de
prevenção (vacinações, medicações profiláticas ou
terapêuticas) e, sobretudo, informação e conselhos
ao viajante, para que ele adquira ou melhore a
consciência dos seus riscos particulares e possa,
mais facilmente, minimizá-los. É o comportamento
do viajante, e não as vacinas ou profilaxia, que
evita a maioria das doenças, acidentes e problemas
de saúde.
Quando se prescrevem medicamentos para a
profilaxia ou para o viajante utilizar em auto-
tratamento, é fundamental que se explique muito
bem como deve utilizar essa medicação. A maioria
dos viajantes não é especializada em Saúde, e
facilmente confunde nomes de medicamentos,
doses, horários e períodos de tratamento.
A consulta de Medicina do Viajante é umdesafio
para as capacidades de comunicação do médico,
pois o viajante não é habitualmente um doente, mas
uma pessoa saudável. As pessoas saudáveis têm,
frequentemente, reservas em tomar vacinas e
medicamentos sem se sentirem doentes. A
prevenção da malária exige a toma de medicação
que pode ter algumas contra-indicações e/ou
efeitos secundários. É frequente encontrarmos
viajantes que não querem tomar estes fármacos e é
necessário que expliquemos, com clareza e com
sólidas bases científicas, os prós e os contras de se
recomendar a toma de um medicamento a alguém
que não está doente.
É possível, nos dias de hoje, ter acesso,
praticamente em tempo real, a informação global
sobre surtos epidémicos e doenças emergentes ou
re-emergentes, bem como sobre situações médicas,
sociais, políticas e geoclimáticas que possam pôr
em risco a saúde do viajante. O especialista em
Medicina do Viajante tem que estar
permanentemente atualizado. Só assim poderá
aconselhar medidas e prescrever vacinas e
medicação preventiva corretamente.
Muitos viajantes encaram a consulta de
Medicina do Viajante como algo inevitável, por
terem que fazer vacinas obrigatórias para entrarem
no país de destino ou por imposições profissionais.
Não é invulgar encontrarem-se pessoas na consulta
que a consideram um grande incómodo, perda de
tempo e gasto de dinheiro. Cabe ao especialista
inverter
este
conceito,
esclarecendo
e
sensibilizando o viajante para a necessidade das
medidas preventivas.
Por outro lado, para os viajantes que podem
eventualmente ter algum grau de fragilidade física,