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nomeadamente os que viajam com crianças, os
idosos, as grávidas, os diabéticos, os doentes
infectados por VIH, os transplantados, os
esplenectomizados, os epilépticos e os que
possuem antecedentes de quimioterapia, a consulta
é considerada imprescindível, de modo a
planearem atempadamente uma viagem segura e
recompensante, com riscos mínimos para a saúde,
pelo que a sua marcação deve ser feita de modo
sistemático e o mais precocemente possível (Suh e
Mileno, 2005).
A escolha de uma consulta é, habitualmente,
determinada pela sua disponibilidade, não se
aplicando a noção de atendimento por área de
residência, quer a nível hospitalar, quer de Centros
de Saúde ou de instituições públicas ou privadas.
Em Portugal, as consultas de Medicina do Viajante
são realizadas em hospitais, centros de saúde,
empresas e consultórios privados.
Infelizmente, não estando esta valência médica
ainda regulamentada pela Ordem dos Médicos,
existem consultas que são feitas por profissionais
com reduzida experiência ou especialização nesta
área, o que leva à falta de qualidade no
aconselhamento e perda de credibilidade, por parte
dos viajantes, na utilidade da consulta. Estudos
realizados anteriormente mostraram que as
consultas de Medicina do Viajante realizadas em
centros especializados contribuem, efetivamente,
para aumentar o conhecimento dos viajantes sobre
medidas preventivas durante a estadia em países
tropicais,
mas
ainda
não
esclarecem
completamente mitos e más concepções que esses
viajantes possam ter (Teodósio
et al.
, 2006). Outros
estudos, realizados em centros de vacinação,
mostraram que percentagens consideráveis de
viajantes partem para países tropicais sem terem
feito as vacinas adequadas à viagem que
pretendiam realizar (Teodósio e Santos, 2011). É
fundamental que o viajante tenha confiança no
médico que o aconselha para cumprir as medidas
de
prevenção
indicadas,
diminuindo
a
probabilidade de riscos de doenças no local que
visita. Se o viajante puder, adicionalmente, ter um
acompanhamento desse médico durante a estadia
nos locais de risco (através de contacto telefónico
ou correio eletrónico), mais seguro se sentirá.
Finalmente, se confiar no médico que o aconselhou
em consulta de pré-viagem, saberá que pode
recorrer a esse médico depois do regresso, para
avaliação clínica, diagnóstico e tratamento de
possíveis doenças com que tenha contactado
durante a sua viagem. A escolha adequada do
especialista em Medicina do Viajante é, portanto,
fundamental quando necessitamos dessa consulta.
Para além da hipotética renitência do viajante na
procura da consulta do viajante e da qualidade dos
serviços prestados na consulta, existem outros
fatores que podem restringir o acesso à Consulta do
Viajante, entre os quais se destaca a pouca
apetência das companhias aéreas e agentes de
viagens para a identificação e divulgação de
eventuais riscos para a saúde dos viajantes durante
os seus itinerários e para a referenciação para
centros de aconselhamento
especializado,
imperando o receio de assustar e de desmotivar os
viajantes. Também os imigrantes provenientes de
países com doenças tropicais endémicas que
regressam ao seu país de origem em visita a
familiares e amigos recorrem com menor
frequência à Consulta do Viajante, apesar de
possuírem um risco aumentado para algumas
doenças infecciosas adquiridas em contexto de
viagem. Outro fator limitativo são as informações
e aconselhamentos, por vezes contraditórios,
obtidos de outras fontes de informação:
embaixadas e/ou consulados, amigos e/ou
familiares residentes no país de destino, outros
viajantes e imprensa, pelo que o viajante que
recorre à consulta deve ser alertado para esta
realidade. Não devemos, no entanto, esquecer que
é, em última instância, da responsabilidade do
viajante internacional a procura de informação, a
consciencialização dos riscos e o cumprimento das
precauções necessárias para a viagem.
A consulta do viajante é, na sua essência, uma
consulta de carácter preventivo. A avaliação
correta dos riscos, independentemente da sua
natureza (geográfica, pessoal, associada ao motivo
da viagem e/ou
relacionada com
os
comportamentos do viajante), deverá ser o
principal objetivo do profissional que a efetua.
Desta avaliação decorrerá a eficaz minimização
desses riscos, para a qual é imprescindível uma boa
comunicação com o viajante.
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