116
os imigrantes saudáveis tendem a permanecer no
país de acolhimento.
No outro sentido, pode referir-se uma revisão de
literatura indicando que, na grande maioria dos
países europeus, os imigrantes e minorias étnicas
estão em aparente desvantagem quando
comparados com a população nativa (Nielsen e
Krasnik, 2010). De facto, vários autores salientam
que o processo migratório pode acarretar maior
suscetibilidade a algumas doenças na medida em
que os imigrantes trazem consigo o contexto
sociocultural (incluindo as crenças, valores e
hábitos subjacentes) e o perfil epidemiológico do
país de origem. Simultaneamente, estas populações
têm que se confrontar com novos padrões de saúde
e doença no país de acolhimento (Lansakara
et al.
,
2010).
As conclusões da conferência Saúde e
Migrações na União Europeia, realizada em
Portugal, em 2007, sublinham que, adicionalmente,
os problemas em saúde da população imigrante são
um produto de fatores sociais e ambientais,
nomeadamente das condições de alojamento e
trabalho, segurança, situação familiar, fraca
integração, barreiras culturais e linguísticas,
discriminação e estigmatização (Fernandes e
Pereira Miguel, 2007). Após a chegada a um novo
país, os imigrantes enfrentam um ambiente
totalmente novo ao nível da cultura, dos sistemas
legais, das condições climatéricas, dos hábitos
alimentares, das crenças e das práticas. Assim,
como defendemCarballo e colegas (Carballo
et al.
,
1998), o fator de reajuste a novas condições de
trabalho, habitação, ambientação a novas culturas e
até, por vezes, a novas línguas, pode criar situações
de maior vulnerabilidade em saúde.
Um dado que parece ser consensual é que as
vantagens de ser imigrante se acentuam nos
primeiros anos desta condição, tendendo o estado
de saúde a deteriorar-se ao longo do tempo de
estadia no novo país. Um outro argumento
apontado por alguns autores assenta no conceito de
assimilação (Fennelly, 2007), no sentido em que,
no país de acolhimento, os imigrantes podem
adotar estilos diferentes de vida, menos saudáveis
e com comportamentos de risco como o tabagismo,
consumo de álcool, pouco exercício físico e dietas
menos cuidadas, provocando um impacto negativo
na saúde a médio e longo prazo. Alguns autores
sugerem também que, apesar de mais saudáveis no
momento da entrada, com o aumento do período de
residência, os imigrantes passam a ter as mesmas
probabilidades de deteriorar a sua saúde que os
nativos do país de acolhimento e, por isso, os seus
determinantes de saúde tendem a convergir ao
longo do tempo (Jasso
et al.
, 2004).
Por último, as dificuldades no acesso aos
cuidados de saúde contribuem em parte para que a
população imigrante possa estar em maior risco de
ter saúde débil. Na verdade, mesmo que as
condições no país de acolhimento sejam
substancialmente melhores do que as do país de
origem, nem sempre os imigrantes usufruem dos
serviços existentes (Fennelly, 2007; Khlat e
Darmon, 2003).
Num contexto de preocupação crescente em
compreender a relação complexa entre saúde e
migração e de existência de lacunas de
conhecimento nesta área, tem sido reconhecida a
necessidade de obter mais informação sobre as
especificidades das populações imigrantes. Este
conhecimento pode auxiliar na compreensão das
disparidades em saúde e na identificação de
necessidades e estratégias de atuação que
contribuam para melhorar a saúde destas
populações.
O presente estudo pretende descrever o estadode
saúde de uma população imigrante residente em
Lisboa e identificar os determinantes que lhe estão
associados.
MATERIAIS E MÉTODO
Realizou-se um estudo transversal com
aplicação de um inquérito por questionário a
imigrantes residentes na zona metropolitana de
Lisboa, localidade que apresenta, atualmente, a
maior concentração de imigrantes do país (SEF,
2012). O estudo englobou uma amostra total de
1372 imigrantes, dos quais 51,1% eram mulheres,
38% eram oriundos do Brasil, 32,6% de países
africanos de língua oficial portuguesa e 29,4% de
países da Europa de Leste.
Os participantes foram selecionados através do
método “bola-de-neve”, um método de
amostragem reconhecido na literatura como eficaz
ao permitir aceder e descrever populações de
acesso difícil (Wright e Stein, 2005), como é o caso
dos imigrantes recentes e em situação irregular de
imigração. Neste processo, várias organizações
não-governamentais e associações de imigrantes
das comunidades em estudo colaboraram com a
equipa de investigação na divulgação do projeto
junto das comunidades e na identificação de
potenciais participantes. Após os participantes
responderem ao questionário foi-lhes pedido para
identificar e recrutar potenciais participantes das
suas redes sociais. Os critérios de inclusão no
estudo eram ser imigrante (definido como qualquer