As doenças infeciosas continuam a ser a principal causa de mortalidade infantil em
países em desenvolvimento e um quarto destas doenças são causadas por
helmintas e protozoários. Globalmente, os helmintas parasitam mais de mil milhões
de pessoas e as suas infeções podem causar danos irreversíveis como um atraso
no desenvolvimento físico e cognitivo. As infeções mais comuns são feitas por
geohelmintas e
Schistosoma mansoni
e a sua principal estratégia de controlo é a
quimioterapia preventiva. No entanto, como esta abordagem não previne a
reinfeção, é essencial explorar estratégias complementares como a melhoria do
saneamento e a educação para a saúde.
Neste estudo, investigamos duas questões que relacionam o conhecimento das
crianças com as suas taxas de infeção: (1) se o nível de conhecimento no início do
estudo influencia a infeção e (2) se um pacote de educação para a saúde
(visualização de um desenho animado seguido de uma sessão de desenhos)
aumenta o conhecimento e diminui a taxa de infeção. No início do estudo, crianças
(N=2500) pertencentes a 25 escolas na Costa do Marfim foram submetidas a um
rastreio de geohelmintas (
Ascaris lumbricoides
,
Trichuris trichiura
e
ancilostomídeos) e
S. mansoni
e o seu conhecimento foi averiguado através de um
questionário. De seguida, todos os participantes foram tratados com albendazol e
praziquantel. Treze escolas foram selecionadas para serem submetidas duas vezes
ao pacote de educação para a saúde e as restantes doze serviram de controlo.
Onze meses após o tratamento, repetiram-se o mesmo rastreio e questionário.
As prevalências encontradas são semelhantes às reportadas por outros estudos na
mesma região. Em todas as escolas, onze meses após o tratamento, as
prevalências de todos os parasitas (exceto
Trichuris trichiura
) diminuíram
significativamente. Embora os questionários tenham revelado que as crianças já
possuíam um conhecimento razoável proveniente das aulas, crianças em escolas
expostas ao pacote tiveram resultados 10% superiores aos daquelas em escolas
não expostas. No entanto, este ganho de conhecimento não reduziu as taxas de
infeção. Da mesma forma, no início do estudo, crianças com mais conhecimento
não estavam menos infetadas. Finalmente, crianças em escolas com acesso a água
potável e latrinas também não estavam menos infetadas do que crianças em
escolas sem saneamento básico.
Concluímos que na escola já é fornecida alguma informação útil e que isto,
juntamente com o efeito do tratamento, pode explicar as prevalências relativamente
baixas encontradas. Ainda assim, mostrámos que o pacote de educação para a
saúde pode acrescentar conhecimento. A nossa conclusão de que mais
conhecimento não se traduz necessariamente em taxas de infeção menores, pode
dever-se ao facto das crianças subestimarem o risco destas infeções assim como as
escolas possuírem saneamento inadequado e sujo. Estes fatores podem impedir
que as crianças usem todo o conhecimento que têm para melhorar os hábitos de
higiene. O pacote realça os riscos das infeções mas os resultados sugerem que
este assunto poderia ser reforçado. As medidas preventivas recomendadas devem
ser, tanto quanto possível, ajustadas ao saneamento existente, mas não se podem
esperar os melhores resultados sem uma melhoria simultânea do saneamento.