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alvos de fármacos, e encontram-se em validação inibidores específicos para a

quimioterapia da leishmaniose, da malária e da tripanossomíase. Neste estudo,

o nosso principal interesse na identificação e caracterização de proteases

como alvos de fármacos foi portanto nesta classe de proteases.

Foram identificados no banco de dados do projecto em curso de sequenciação

do genoma de

B. bigemina

, os genes putativos de proteases cisteínicas em

pesquisas por similaridade de sequência, que posteriormente foram

comparados com os genes anotados nos genomas completos das espécies de

piroplasmas bovinos

B. bovis

,

Theileria annulata

e

T. parva

. Para avaliar os

eventos da evolução molecular que ocorreram na família C1 de proteases

cisteínicas, foram feitos alinhamentos múltiplos entre os genomas e análises

das sequências obtidas destes piroplasmas de importância veterinária. Existem

assim, cinco grupos distintos de genes de proteases cisteínicas da família C1

em

B. bigemina

(5 genes), quatro grupos em

B. bovis

(4 genes) e seis grupos

em

Theileria

spp. (13 genes). No Género

Theileria

a evolução molecular

ocorreu através da duplicação de genes e da diversificação da sequência das

proteínas codificadas por estes genes. Estas importantes diferenças

observadas entre os Géneros

Babesia

e

Theileria

na família das proteases

cisteínicas, podem parcialmente explicar os diferentes mecanismos de infecção

destas espécies, em que parasitas

Babesia

não invadem linfócitos e parasitas

Theileria

invadem primeiro os linfócitos no hospedeiro vertebrado.

A babesipaína-1, uma das proteases cisteínicas identificadas no genoma de

B.

bigemina

, foi expressa como uma proteína de fusão com a glutationa S-

transferase (GST) e a respectiva fracção solúvel foi purificada por

cromatografia de afinidade. A babesipaína-1 recombinante apresentou

actividade contra certos péptidos que são substratos típicos de proteases

cisteínicas, e foi inibida por um inibidor geral da sua classe, mas o baixo

rendimento da purificação da fracção solúvel impediu a sua caracterização

adicional.

A babesipaína-1 foi então purificada a partir da fracção insolúvel, e a proteína

desnaturada foi re-enrolada e activada para produzir uma enzima activa. A

análise da actividade da babesipaína-1 revelou propriedades típicas de uma

protease cisteínica da família da papaína, incluindo a hidrólise de alguns

péptidos que são substratos típicos da família da papaína, um pH ácido óptimo

(5.5-6.0), o requisito de um ambiente redutor para ter actividade máxima, e a

inibição por inibidores de proteases cisteínicas como o E-64, a leupeptina, o

ALLN e a cistatina. Os resultados sugerem que a babesipaína-1 tem um papel

no citosol, já que a babesipaína-1 manteve elevada actividade contra

substratos a pH 7,5 (83% do máximo), uma característica incomum das

proteases cisteínicas de parasitas protozoários.

Assim, os resultados deste estudo demonstram que a babesiose bovina é uma

infecção comum na província de Maputo em Moçambique, embora a doença

não esteja numa situação de estabilidade endémica. Os resultados também

sugerem que as proteases cisteínicas de

Babesia

spp. são alvos promissores

para fármacos e consequentemente para o desenvolvimento de um tratamento

eficaz para a babesiose bovina. Na sequência destes resultados foi associado

um plano de trabalho futuro. Alguns pormenores e resultados deste trabalho

podem ser transferidos para outros países, inclusivamente Portugal.