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estudos disponíveis sobre os animais identificados como potenciais
hospedeiros dos parasitas infectantes para o Homem. Mais recentemente, o
contacto com água infectada passou a ser considerado um factor de risco
associado à microsporidiose humana.
A recente aplicação de técnicas moleculares ao diagnóstico e caracterização
dos microsporidia, permitindo o reconhecimento de diferenças intraespecíficas,
tem contribuído para uma melhor compreensão da epidemiologia destes
parasitas.
O presente trabalho tem como objectivos: (i) determinar a frequência de
infecção de microsporidia patogénicos para o Homem, numa população de
seropositivos e seronegativos para VIH, em animais em estreito contacto com
humanos e em água de abastecimento público, a fim de identificar, não só os
parasitas infectantes para o Homem, como, também, os seus possíveis
reservatórios zoonóticos e ambientais; (ii) caracterizar geneticamente as
espécies e genótipos de microsporidia identificados na população humana,
animal e em amostras de água de consumo público; (iii) avaliar a importância
dos microsporidia na Saúde Pública Humana em Portugal.
No intuito de dar prossecução ao presente estudo, de modo a cumprir os
objectivos propostos, foram adoptadas metodologias de diagnóstico e
caracterização genética dos microsporidia, seleccionadas após extensa
pesquisa bibliográfica. Todas as amostras foram analisadas simultaneamente
pela técnica parasitológica de coloração Gram- Chromotrope e por PCR, com
excepção das amostras fecais de animais silváticos de vida livre e da água de
consumo público, que atendendo às reduzidas quantidades de amostra
disponíveis, só foram estudadas pelas técnicas moleculares.
Para o presente trabalho foi efectuado um estudo retrospectivo e prospectivo,
englobando 1989 amostras fecais de 856 doentes (adultos e crianças)
seropositivos e seronegativos para VIH. A percentagem de doentes
seropositivos para VIH estudados foi de 65,5% (561/856) e seronegativos para
VIH foi de 34,5% (295/856). Do total de doentes (586 do sexo masculino e 270
do sexo feminino), 675 eram adultos e 181 crianças. Dos doentes analisados
57,6% apresentavam diarreia e 42,4% não apresentavam quadro diarreico.
Nove (3,1%) dos 295 seronegativos para VIH apresentavam outras causas de
imunossupressão. Uma frequência de infecção por microsporidia de 12,0%
(103/856) foi observada nas fezes da população humana estudada, sendo que
13,9% e 8,5% das amostras fecais pertenciam a seropositivos e a
seronegativos para VIH, respectivamente. A percentagem de crianças e adultos
positivos para microsporidia foi de 18,8% e 10,2%, respectivamente. Os
resultados obtidos permitiram determinar uma associação significativa entre a
presença de infecção por microsporidia e os seropositivos para VIH, facto este
que não constituiu um dado surpreendente em virtude do carácter oportunista
largamente atribuído a esta doença, por outros autores. Foram identificados
esporos de microsporídios nas fezes de doentes, que, embora sendo
seronegativos para VIH, apresentam outro tipo de deficit imunológico. Através
das técnicas de PCR, identificaram-se duas espécies de microsporídios nas
amostras fecais dos doentes estudados no presente trabalho.
E. bieneusi
foi
detectada em 6,3% (54/856) e
Vittaforma
-like em 6,8% (58/856) dos doentes
estudados. Na análise dos dados obtidos, não se verificou que a infecção por
microsporidia, em geral, nem, especificamente, por nenhuma das duas
espécies identificadas nas fezes estivesse, significativamente, associada a
doentes com quadro diarreico. A caracterização genética da região
ITS rRNA
de 48 isolados de
E. bieneusi
obtidos de humanos, de um total de 54