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agrupar em três tipos diferentes as 12 sequências dos isolados de
E. hellem
obtidos neste estudo: PtEhI (genótipo1, previamente descrito); PtEhII (99%
homologia genética com genótipo 2) e PtEh III (99%de homologia genética com
PtEhII).
No presente trabalho, também com o intuito de determinar a presença de
esporos de microsporídios, foram analisadas 184 amostras de água, de locais
de amostragem envolvidos no processo conducente ao abastecimento de água
da cidade de Lisboa (175 amostras processadas de acordo com o método 1623
da USEPA e purificadas por separação imunomagnética [IMS] para os géneros
Cryptosporidim
spp. e
Giardia
e nove sem IMS). Cento e seis eram amostras
de água tratada (42 captações subterrâneas, 25 captações superficiais, 39 de
água de abastecimento), provenientes de três Estações de Tratamento e
reservatórios de água de abastecimento da cidade de Lisboa, e 69 eram
amostras de águas não tratadas, obtidas em captações superficiais (30
amostras) e na captação subterrânea (30 amostras com IMS e nove sem IMS).
As espécies
E. bieneusi
e
Vittaforma
-like foram identificadas em água de
abastecimento da cidade de Lisboa, tanto na água de origem superficial como
subterrânea. A genotipagem de
Vittaforma
like revelou a presença de um
genótipo Isolado 5830, descrito em humanos, em Portugal. Também o genótipo
Tipo IV de
E. bieneusi
, potencialmente infectante para o homem e outros
animais, foi identificado em água tratada com origem subterrânea.
Em conclusão, o presente trabalho permitiu demonstrar a presença de
espécies e/ou genótipos de microsporidia patogénicos para o Homem em
seropositivos e seronegativos para VIH, em animais e em águas de consumo
público, em Portugal.
Também na nossa população humana, tal como descrito na literatura, a
infecção por estes parasitas, parece afectar os grupos mais susceptíveis, como
os doentes com imunossupressão, crianças e idosos. Por outro lado, a
identificação dos mesmos genótipos de microsporidia, com destaque para os
genótipos de
E. bieneusi,
em humanos e animais, sugere a ocorrência de
transmissão zoonótica através de animais em estreito contacto com o Homem.
Dos resultados obtidos verificou-se que, quer para os humanos, quer para os
animais não foi observada associação directa entre a infecção por
microsporidia e a presença de sintomatologia, nomeadamente de diarreia,
sugerindo a existência, em ambos os grupos populacionais estudados, de
portadores crónicos assintomáticos e salientando a sua importância no ciclo de
transmissão destes parasitas.
Em suma a análise dos dados deste estudo sugere um papel relevante a nível
da Saúde Pública, para os microsporidia circulantes, entre a população
portuguesa, evidenciando a necessidade de implementar a pesquisa de
microsporídios no diagnóstico de rotina, com recurso a métodos de referência
bem definidos e adequados à sua utilização nos laboratórios de rotina. A
metodológica adoptada neste estudo, nomeadamente as técnicas de PCR e
sequenciação de DNA, traduziu-se numa abordagem eficaz para atingir os
objectivos propostos.
Esperamos que os resultados obtidos neste estudo, contribuam para clarificar a
epidemiologia da microsporidiose em Portugal, mais precisamente, os
processos envolvidos na circulação e transmissão destes microrganismos
oportunistas à população susceptível.