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populações Africana e Europeia (Portuguesa), do que a diferenciação

determinada aquando da utilização de marcadores genéticos neutros.

Além disso, uma região genómica de maior amplitude apresentou um

Desequilíbrio de Ligação (LD) significativo no grupo de malária não grave (e

não no grupo de malária grave), sugerindo que a malária poderá estar a

exercer pressão selectiva sobre a região do genoma humano que envolve o

gene

PKLR

.

No estudo que incidiu na determinação da prevalência da deficiência de PK no

continente Africano (realizado em Moçambique), esta revelou-se elevada -

4,1% - sendo o valor mais elevado descrito até ao momento a nível mundial

para esta enzimopatia. Na pesquisa de mutações que pudessem estar na

causa deste fenótipo (baixa actividade de PK), foi identificada uma mutação

não sinónima 829G>A (277Glu>Lys), significativamente associada à baixa

actividade enzimática. Esta mutação foi também identificada em Angola, São

Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial, onde a frequência de portadores

heterozigóticos foi entre 2,6 e 6,7% (valores que se encontram entre os mais

elevados descritos globalmente para mutações associadas à deficiência em

PK). Não foi possível concluir acerca da associação entre a deficiência de PK e

o grau de severidade da malária e da associação entre o alelo 829A e a

mesma, devido ao baixo número de amostras.

Os resultados dos ensaios de invasão/maturação do parasita sugeriram que,

nos GV com deficiência de PK ou G6PD, a invasão (onde está envolvida a

membrana do GV hospedeiro e o complexo apical do parasita) é mais relevante

para a eventual protecção contra a malária do que a maturação. Os resultados

da análise proteómica revelaram respostas diferentes por parte do parasita nas

duas condições de crescimento (GV com deficiência de PK e GV com

deficiência de G6PD). Esta resposta parece ser proporcional à gravidade da

deficiência enzimática. Nos parasitas que cresceram em GV deficientes em

G6PD (provenientes de um indivíduo assintomático), a principal alteração

observada (relativamente às condições normais) foi o aumento do número de

proteínas de choque térmico e chaperones, mostrando que os parasitas

responderam às condições de stress oxidativo, aumentando a expressão de

moléculas de protecção. Nos parasitas que cresceram em condições de

deficit

de PK (GV de indivíduo com crises hemolíticas regulares, dependente de

transfusões sanguíneas), houve alteração da expressão de um maior número

de proteínas (relativamente ao observado em condições normais), em que a

maioria apresentou uma repressão da expressão. Os processos biológicos

mais representados nesta resposta do parasita foram a digestão da

hemoglobina e a troca de proteínas entre hospedeiro e parasita/remodelação

da superfície do GV. Além disso, uma elevada percentagem destas proteínas

com expressão alterada está relacionada com as fendas de Maurer, que

desempenham um papel importante na patologia da infecção malárica. É

colocada a hipótese de que a protecção contra a malária em GV deficientes em

PK está relacionada com o processo de remodelação da membrana dos GV

pelo parasita, o que pode condicionar a invasão por novos parasitas e a própria

virulência da malária. Os resultados da análise do proteoma dos GV

contribuirão para confirmar esta hipótese.