Table of Contents Table of Contents
Previous Page  25 / 124 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 25 / 124 Next Page
Page Background

25

TEMIDO, Marta (2014) – Exequibilidade de uma revisão da

combinação de papéis profissionais entre médicos e enfermeiros

em Portugal. Dissertação de Doutoramento no ramo de Saúde

Internacional,

especialidade

de

Políticas

de

Saúde

e

Desenvolvimento. IHMT. Lisboa.

Resumo: A força de trabalho presente no sistema de saúde português indicia

uma combinação ineficiente de recursos médicos e de enfermagem. Contudo,

tal pode não ser suficiente para que seja possível modificar o

skill mix

disponível, expandindo o âmbito de exercício da profissão de enfermagem, na

medida em que se reconhece que a exequibilidade de uma política depende de

vários fatores de contexto que não se restringem à sua intrínseca validade

técnica.

Entre esses fatores incluem-se a aceitabilidade social, a viabilidade legal, o

processo político e as preferências dos profissionais de saúde, analisados

nesta investigação com base em métodos mistos.

A pesquisa revelou que: i) em termos de aceitabilidade social, apesar de não

existir consenso suficiente sobre se uma opção deste tipo é adequada ao

contexto português, algumas áreas assistenciais, como os cuidados de saúde

primários, indiciam um maior potencial de acolhimento; ii) em termos de

exequibilidade legal, salvo nos atos de reserva médica absoluta, há espaço

normativo para uma redistribuição do trabalho entre médicos e enfermeiros, na

medida em que muitos atos são considerados exclusivos da área médica por

força de práticas instituídas; iii) em termos de processo político, embora as

iniciativas identificadas no estudo de caso não sejam diretamente

transponíveis, uma liderança forte da estratégia, uma compreensão clara dos

objetivos a alcançar e uma visão de longo prazo para o sistema de saúde

surgem como elementos críticos do sucesso; iv) em termos de preferências dos

profissionais de saúde de cuidados primários, enquanto algumas equipas de

saúde familiar se distanciam da adequação da opção ao contexto português,

outras percecionam as necessidades assistenciais não satisfeitas como

justificativas da atribuição de papéis clínicos mais vastos à enfermagem, o que

mostra diferentes disponibilidades para o reforço de modelos colaborativos de

cuidados.

Apesar das suas limitações – sobretudo das que resultam de nem sempre se

ter conseguido a colaboração necessária para compreender totalmente a

aceitabilidade social e as preferências dos profissionais de saúde – a

investigação permitiu concluir que, em Portugal, existe um relativo espaço

social, normativo, político e nas preferências dos profissionais de saúde para a

expansão do campo de exercício da profissão da enfermagem.

Tal como diferentes países se encontram em diferentes estádios de discussão

deste processo, também no nosso país diferentes

stakeholders

, diferentes

campos de atividades e diferentes equipas de saúde revelam distinto potencial

de adesão a esta inovação, sugerindo-se que a estratégia mais adequada

implica a aceitação de diferentes formas de distribuição do trabalho, da

iniciativa das equipas profissionais, sem prejuízo da necessidade de definição

de um enquadramento adequado a prevenir a degradação da qualidade e

segurança dos cuidados.

Em qualquer circunstância, não poderá esquecer-se que otimizar o

skill mix

da

força de trabalho em saúde é um processo dinâmico e que o desafio que se

coloca ao sistema de saúde português reside no desenvolvimento de uma