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endocitose/exocitose. Adicionalmente, por imunofluorescência foi possível
localizar os ISPs no citoplasma e na perto da bolsa flagelar. Em conjunto, estes
dados sugerem uma função intracelular, independente da actividade inibitória
dos ISPs e provavelmente associada ao flagelo ou à bolsa flagelar. O papel
biológico dos ISPs na interação parasita-hospedeiro foi também avaliada
através da infecção de murganhos com os parasitas Δ
isp1/2.
A monitorização
da infecção demonstrou que a deleção de ambos os inibidores resulta em
sobrevivência prolongada dos murganhos com cargas parasitárias reduzidas,
sugerindo que os ISPs possuem um papel importante na sobrevivência do
parasita. Em contraste com os resultados obtidos em
Leishmania
que atribuem
diferentes funções a ISP1 e ISP2, este estudo sugere que existe uma
redundância funcional dos mesmos em
T. brucei
, sendo necessária a presença
de ambos para que o parasita estabeleça eficientemente a infecção no
hospedeiro mamifero. Foram também realizados estudos de imuno-protecção
em murganhos de modo a determinar o potencial dos ISPs como alvos
terapêuticos. A imunização com ISP recombinante e o tratamento com
anticorpos específicos contra ISP1 e ISP2 não produzem qualquer efeito
protector ou neutralizante da infecção de murganhos, sugerindo que estes
inibidores não constituem bons candidatos para o desenvolvimento de uma
vacina ou terapia baseada em anticorpos.
MONTEIRO, Maria Fernanda Afonso Dias (2012) Efeito dos
factores do hospedeiro e parasitários na susceptibilidade à
Malária e gravidade da Doença, Dissertação de Doutoramento no
ramo de Medicina Tropical, especialidade em Patologia e Clínica
das Doenças Tropicais. IHMT. Lisboa.
Resumo:
A malária é considerada como a doença parasitária mais séria em
humanos, infectando cerca de 5 a 10% da população mundial, estimando-se
entre 300 a 600 milhões de casos e mais de dois milhões de mortes,
anualmente. Apesar da severidade da doença, a compreensão da variabilidade
da resposta do hospedeiro à infecção (traduzida desde a infecção silenciosa
até formas crónicas da doença, passando por quadros clínicos potencialmente
fatais), continua a ser um dos grandes desafios da investigação médica.
Vários factores genéticos parasitários ou do hospedeiro, estado imune e níveis
de exposição, contribuem para esta variabilidade, mas a sua importância
relativa para a carga total da doença tem sido pouco estudada. Entre outros, é
possível salientar como fontes importantes de variabilidade na susceptibilidade
à malária e gravidade da doença, factores intrínsecos ao hospedeiro tais como
polimorfismos genéticos relacionados com as células sanguíneas e factores
parasitários como a composição da(s) população(ões) parasitária(s) presentes
na infecção.
Factores do hospedeiro humano relacionado com as células sanguíneas
(drepanocitose e deficiência na glucose-6-fosfato desidrogenase
-
G6PD) têm
sido tradicionalmente estudados e relacionados com a gravidade da malária
causada por
Plasmodium falciparum
.
Relativamente às populações parasitárias, das cinco espécies que infectam
humanos,
P. falciparum
continua a ser responsável pela malária grave, apesar
de muito recentemente alguma gravidade ser atribuída a
Plasmodium vivax
.