

37
trabalhador, para a organização para a qual trabalha e para a comunidade
servida por essa organização que, por sua vez, actuam nos factores sociais,
organizacionais e individuais que influenciaram essas consequências. É,
portanto, uma variável fundamental mas a que não tem sido dada a devida
importância no sistema de saúde português e nos médicos de família em
particular. Finalidade A finalidade deste trabalho foi desenvolver uma
abordagem útil da satisfação no trabalho dos médicos de família a exercer nos
centros de saúde portugueses. Para essa abordagem propõe-se um modelo
salutogénico - aumentar a compreensão do que é a satisfação no trabalho;
desenvolver a competência de cada trabalhador, de cada organização, do
sistema de saúde e da sociedade na mobilização de recursos para fazer face
ao que é essencial à satisfação no trabalho; e reforçar a atitude de que ter
satisfação no trabalho é um desafio que merece o empenho de todos.
Objectivos, população e métodos O objectivo geral foi caracterizar e
compreender a satisfação no trabalho (ST) dos médicos de família (MF) a
exercer nos centros de saúde (CS) portugueses quanto ao seu significado,
importância, processo e factores associados. Para alcançar este objectivo
optou-se por proceder a quatro estudos integrados num processo global de
investigação-acção. O primeiro dos estudos foi da área da investigação
metodológica, com a criação do instrumento de medida a utilizar nos outros
estudos - um questionário adequado para medir a satisfação no trabalho dos
MF portugueses,. O segundo foi um estudo observacional, transversal e
analítico (com uma componente ecológica) da satisfação no trabalho dos MF e
das variáveis com que está associada numa amostra bi-etápica, primeiro
aleatória dos CS e depois de todos os MF dos CS seleccionados, de uma
região de saúde de Portugal em 2002 -2003. O terceiro foi um estudo
observacional, transversal seriado e analítico da satisfação no trabalho d e
todos os MF em três momentos de um centro de saúde – 2000 a 2007 – e de
uma Unidade de Saúde Familiar de 2007 a 2009 (este também foi um processo
de investigação-acção participada). O quarto e último é um estudo qualitativo,
multicêntrico, de análise da opinião dos MF, chefias intermédias e directores de
centros de saúde de diferentes regiões do país sobre os factores associados à
satisfação no trabalho, utilizando focus groups.
Resultados e discussão
O processo de investigação-acção proposto conseguiu produzir mudanças na
prática e levar à teorização de modelos de abordagem da satisfação no
trabalho, como o Pentágono da Qualidade, que foram considerados inovações
e têm sido utilizados nas unidades estudadas e em outras.
O processo de investigação utilizou uma abordagem multi-canal recorrendo a
métodos mistos que forneceu uma visão da complexidade da satisfação no
trabalho de ângulos diferentes e complementares. Baseou-se, igualmente, num
questionário adequado para os MF para medir a satisfação no trabalho,
construído pelo autor para esta investigação.
A análise dos resultados foi efectuada recorrendo a análises bivariadas e
modelos de regressão linear múltipla. A discussão dos resultados, um processo
de investigação em si mesmo, baseou-se na cristalização do sentido dos
mesmos e na sua apresentação e discussão em múltiplos contextos. As
conclusões deste processo podem-se resumir nos seguintes pontos:
I - a satisfação no trabalho dos médicos de família é um conceito
multidimensional e sensível a variáveis individuais e contextuais; II - o nível
médio de satisfação no trabalho dos médicos de família a exercer nos centros
de saúde é relativamente baixo mas varia de centro para centro, pesando mais
no sentido da satisfação as dimensões intrínsecas e no da insatisfação as