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trabalhador, para a organização para a qual trabalha e para a comunidade

servida por essa organização que, por sua vez, actuam nos factores sociais,

organizacionais e individuais que influenciaram essas consequências. É,

portanto, uma variável fundamental mas a que não tem sido dada a devida

importância no sistema de saúde português e nos médicos de família em

particular. Finalidade A finalidade deste trabalho foi desenvolver uma

abordagem útil da satisfação no trabalho dos médicos de família a exercer nos

centros de saúde portugueses. Para essa abordagem propõe-se um modelo

salutogénico - aumentar a compreensão do que é a satisfação no trabalho;

desenvolver a competência de cada trabalhador, de cada organização, do

sistema de saúde e da sociedade na mobilização de recursos para fazer face

ao que é essencial à satisfação no trabalho; e reforçar a atitude de que ter

satisfação no trabalho é um desafio que merece o empenho de todos.

Objectivos, população e métodos O objectivo geral foi caracterizar e

compreender a satisfação no trabalho (ST) dos médicos de família (MF) a

exercer nos centros de saúde (CS) portugueses quanto ao seu significado,

importância, processo e factores associados. Para alcançar este objectivo

optou-se por proceder a quatro estudos integrados num processo global de

investigação-acção. O primeiro dos estudos foi da área da investigação

metodológica, com a criação do instrumento de medida a utilizar nos outros

estudos - um questionário adequado para medir a satisfação no trabalho dos

MF portugueses,. O segundo foi um estudo observacional, transversal e

analítico (com uma componente ecológica) da satisfação no trabalho dos MF e

das variáveis com que está associada numa amostra bi-etápica, primeiro

aleatória dos CS e depois de todos os MF dos CS seleccionados, de uma

região de saúde de Portugal em 2002 -2003. O terceiro foi um estudo

observacional, transversal seriado e analítico da satisfação no trabalho d e

todos os MF em três momentos de um centro de saúde – 2000 a 2007 – e de

uma Unidade de Saúde Familiar de 2007 a 2009 (este também foi um processo

de investigação-acção participada). O quarto e último é um estudo qualitativo,

multicêntrico, de análise da opinião dos MF, chefias intermédias e directores de

centros de saúde de diferentes regiões do país sobre os factores associados à

satisfação no trabalho, utilizando focus groups.

Resultados e discussão

O processo de investigação-acção proposto conseguiu produzir mudanças na

prática e levar à teorização de modelos de abordagem da satisfação no

trabalho, como o Pentágono da Qualidade, que foram considerados inovações

e têm sido utilizados nas unidades estudadas e em outras.

O processo de investigação utilizou uma abordagem multi-canal recorrendo a

métodos mistos que forneceu uma visão da complexidade da satisfação no

trabalho de ângulos diferentes e complementares. Baseou-se, igualmente, num

questionário adequado para os MF para medir a satisfação no trabalho,

construído pelo autor para esta investigação.

A análise dos resultados foi efectuada recorrendo a análises bivariadas e

modelos de regressão linear múltipla. A discussão dos resultados, um processo

de investigação em si mesmo, baseou-se na cristalização do sentido dos

mesmos e na sua apresentação e discussão em múltiplos contextos. As

conclusões deste processo podem-se resumir nos seguintes pontos:

I - a satisfação no trabalho dos médicos de família é um conceito

multidimensional e sensível a variáveis individuais e contextuais; II - o nível

médio de satisfação no trabalho dos médicos de família a exercer nos centros

de saúde é relativamente baixo mas varia de centro para centro, pesando mais

no sentido da satisfação as dimensões intrínsecas e no da insatisfação as