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A n a i s d o I HM T
variabilidade entre as instituições de origem em todos os
países exceto São Tomé e Príncipe, e de acolhimento em
todos os países.
A variabilidade da escolha das áreas de es-
tágio foi também evidenciada, embora se tenham destaca-
do as áreas de pediatria, ginecologia-obstetrícia, medicina
interna, cirurgia geral e anestesiologia.
A caracterização das instituições de acolhimento ficou fra-
gilizada pela escassez e baixa representatividade dos dados
disponíveis a partir dos questionários aplicados aos orien-
tadores. Embora a baixa adesão seja frequente na recolha
de dados por questionário de autopreenchimento [27],
mesmo quando a população inquirida apresenta um nível
educacional elevado, neste estudo, tratando-se de uma in-
tervenção de parceria, seria expectável maior disponibili-
dade dos orientadores de estágio, enquanto agentes de um
dos parceiros.
Estudo avaliativo dos estágios
ao abrigo do Concurso
A análise dos resultados do Concurso foi efetuada a par-
tir das respostas ao questionário dos 42 bolseiros aderen-
tes (42,4% de adesão). Embora superior à observada nos
orientadores de estágio, seria de esperar uma adesão mais
elevada em função da natureza da relação entre os bolseiros
e a instituição financiadora. O facto de se tratar de estágios
de curta duração e de não estar previsto o seguimento ou
monitorização dos bolseiros após a conclusão, podem ter
contribuído para esse
distanciamento.Aspossíveis dificul-
dades de acesso à internet e a potencial não comunicação
de mudança de endereço eletrónico dos bolseiros devem
ser, também, consideradas. Não sendo possível analisar os
motivos da não adesão e a sua potencial relação com as res-
postas às questões de avaliação, não podem excluir-se limi-
tações de representatividade. Embora a análise compara-
tiva entre inquiridos e respondentes tenha revelado perfis
demográficos e profissionais semelhantes, observaram-se
diferenças potencialmente importantes: nos respondentes
a idade média foi quatro anos mais elevada, observou-se
um peso proporcional superior de médicos em relação a
enfermeiros e um peso proporcional inferior de bolseiros
oriundos de Moçambique (que se manifestou como o país
commenor proporção de respondentes em relação aos in-
quiridos).
Na avaliação dos estágios foram utilizados quase exclusiva-
mente os dados obtidos a partir das respostas aos questio-
nários aplicados aos bolseiros. A consistência interna dos
resultados encontrados nos 42 bolseiros respondentes pa-
receu estar conservada.
Ap
ós
o estágio, identificou-se um percurso profissional
predominante, traduzido pelo regresso de todos os bolsei-
ros ao seu país de origem e de quase todos à sua instituição
e serviço de origem, e a cargo hierarquicamente equiva-
lente. Todos se encontravam, à data atual, a trabalhar no
país de origem e a elevada maioria não trabalhou noutros
países após o estágio. Este percurso é favorável ao alcan-
ce de um impacto positivo dos estágios nas instituições
de saúde e no nível de saúde das populações dos países de
origem dos bolseiros, e na sustentabilidade da intervenção
objeto da avaliação [5]. O aumento do número de profis-
sionais em cargos de chefia após o regresso do estágio pode
ter contribuído para a fixação dos profissionais [5], assim
como a continuidade da formação académica. Contudo, a
demonstração de evidência quanto ao impacto da inter-
venção requer o desenvolvimento de estudos específicos
de avaliação do impacto.
Os resultados da formação foram avaliados por análise
quantitativa das respostas dos bolseiros, complementada
pela análise de conteúdo das respostas às questões abertas.
A análise efetuada aponta para uma reação positiva senti-
da pela elevada maioria dos bolseiros. No que se refere à
aprendizagem e fortalecimento de capacidades, a totalida-
de avaliou globalmente a formação como positiva e qua-
se todos referiram ter alcançado os objetivos do estágio
e aconselhado a replicação da experiência formativa em
estágios futuros, resultados consistentes com os da avalia-
ção efetuada em 2013 [9]. Cerca de dois terços dos bolsei-
ros referiram ter realizado ações de formação durante o
estágio em áreas relevantes tendo em conta os principais
problemas de saúde dos países de origem [1]. Na discus-
são destes resultados, é de admitir a possibilidade de vieses
de memória, especialmente nos bolseiros das edições mais
antigas.A quase totalidade dos bolseiros referiu ter apren-
dido ou aperfeiçoado as capacidades de execução técnica e
cerca de três quartos a aprendizagem ou aperfeiçoamento
das técnicas de gestão.A análise deste componente fica fra-
gilizada pela impossibilidade, por um lado, de compara-
ção com os objetivos de aprendizagem específicos de cada
estágio e, por outro, de verificação formal da aprendiza-
gem. São, contudo, resultados também consistentes com
a avaliação de 2013 [9].As respostas relativas à
mudança de
comportamento
atribuível pelo próprio ao estágio foram,
também, positivas na maioria dos bolseiros. São resultados
baseados apenas nas suas perceções, contudo consistentes
internamente com as respostas relativas aos outros compo-
nentes do modelo lógico da intervenção, e externamente
com os resultados da avaliação conduzida em 2013 [9].
Não foi possível efetuar uma análise detalhada da caracteri-
zação das parcerias estabelecidas ou reforçadas, por escas-
sez e baixa representatividade dos dados disponíveis.
As principais limitações deste estudo avaliativo prendem-
-se com o desenho do estudo e as técnicas de recolha de
dados utilizadas, no contexto do concurso e do tempo
decorrido após os estágios, embora tenham correspondi-
do ao acordado com a FCG e respetivos termos de refe-
rência. Não pode excluir-se a reduzida representatividade
do grupo de bolseiros estudado na análise dos resultados
da intervenção, nem a existência de vieses de memória.