S89
A n a i s d o I HM T
fim, os fatores contextuais que influenciaram na imple-
mentação do Projeto. Entretanto, há que se ter em con-
ta que a transferência de conhecimento é um processo
coletivo com alto grau de interdependência onde os
potenciais usuários foco desta transferência podem ou
não ter autonomia suficiente para a sua utilização[12].
Além disso, o grau de utilização do conhecimento vai
depender de fatores contextuais e do próprio processo
como este ocorre [9,13].
O processo de descentralização em Moçambique, é
um dos pilares da reforma do sector público [48,54].
Analisando os resultados desta componente do projeto,
os pontos focais das Comissões Distritais de Comba-
te ao SIDA (CDCS) referiram uma maior autonomia
técnica devido às sucessivas capacitações, permitindo
uma melhor interação com os parceiros de implemen-
tação. Além disso, um aumento da motivação devido
aos incentivos por meio de materiais, equipamentos e
transporte ao longo do período de implementação do
projeto. A despeito desta motivação, a falta de recursos
humanos qualificados constituiu um grande problema,
havendo sobreposição de funções principalmente para
os técnicos de medicina que também atuavam como
pontos focais e faziam atendimento clínico. Também a
alta mobilidade que é corroborada por outros estudos
[56,55] e a falta de um enquadramento legal do ponto
focal para a progressão na carreira acabam por dificultar
a retenção nesta posição.
Embora o processo de descentralização tenha avançado
em Moçambique e as províncias gozem de certa auto-
nomia, os fundos continuam centralizados [56] e com
grande dependência externa. Na opinião dos partici-
pantes, algumas ações poderiam ser incorporadas no
Plano Económico e Social dos Distritos (PESOD), mas
seria necessário um maior envolvimento das lideranças
locais para a sua efetivação assim como uma maior alo-
cação de recursos financeiros pelo orçamento do Es-
tado. Desta maneira, é possível inferir que, enquanto
o governo estiver dependente de recursos externos
e não tiver um plano económico que possibilite o fi-
nanciamento de ações com recursos nacionais, a sus-
tentabilidade financeira ainda é um tema bastante frágil
e a descentralização não ocorre na sua totalidade. Sem
recursos financeiros, recursos humanos capacitados e
infra-estrutura básica os processos de descentralização
tendem ao insucesso[57].
Na perspetiva dos tomadores de decisão, as informa-
ções como necessidade de recursos humanos qualifi-
cados, enquadramento legal ou alocação de recursos
financeiros, implicaria prever duas situações: 1) as con-
sequências programáticas que o aumento no número de
profissionais podem ter sobre o sistema; que tipo de
ajustes teria que fazer para o enquadramento legal do
ponto focal no organigrama institucional; ou como a
alocação de mais recursos financeiros iria afetar a pla-
nificação e gestão financeira. A outra situação é o custo
político que a decisão de recrutamento de novos qua-
dros profissionais poderá trazer a um Ministério com
poucos recursos, ou o custo político de enquadrar le-
galmente a função de um ponto focal que pode também
entrar em conflito com uma posição como técnico de
medicina.
O exercício exploratório por meio da análise lógica foi
bastante útil para identificar quem seriam os beneficiá-
rios ou a audiência na translação do conhecimento. A
análise lógica foi composta por um conjunto de etapas
para determinar o potencial avaliativo da intervenção.
Uma das etapas constituiu a realização de um
workshop,
para envolver um grupo de profissionais de diversos
sectores que trabalham com VIH/SIDA como poten-
ciais interessados pela avaliação, ou seja, potenciais
usuários da informação. Em conjunto, harmonizaram
conceitos, validaram os modelos lógicos da interven-
ção, compartilharam visões, e passaram a utilizar uma
linguagem comum. Segundo alguns autores, este pro-
cesso facilita o processo de translação do conhecimento
[4,21]. Desta maneira é importante identificar pessoas
a quem transmitir a informação mas que tenham o po-
der de influenciar formuladores de políticas [13].
A literatura refere que qualquer profissional, organiza-
ção ou pesquisador pode ser o mensageiro ou mediador
do conhecimento, e este pode variar de acordo com o
conteúdo do conhecimento e o público-alvo [14,15,16].
A literatura ressalta também a importância da credibi-
lidade do mensageiro entre seus pares[17]. No âmbito
deste estudo avaliativo, a avaliadora é o mensageiro do
conhecimento. O seu conhecimento do contexto e in-
teração com os diversos atores governamentais e não-
-governamentais nos vários estratos hierárquicos pro-
vém do facto de ser também a implementadora do pro-
jeto.A distância epistemológica necessária foi assegura-
da pela orientação académica de suas supervisoras, de
maneira a não influenciar os resultados da avaliação.
Para este estudo, as estratégias escolhidas para o pro-
cesso de translação do conhecimento foram: a publica-
ção do estudo pelas vias académicas, a divulgação em
revistas científicas, o envio por meio eletrónico aos
interessados pela avaliação e apresentação em reuniões
científicas e programáticas nos distritos do estudo e ca-
pital da província. Uma das barreiras identificadas para
a apresentação em reuniões científicas e programáticas
locais, foi o distanciamento geográfico.A mudança para
outro país dificultou fazer a devolutiva local, devido aos
custos de deslocação. Entretanto esta dificuldade foi
parcialmente colmatada ao enviar o resultado do estu-
do por meio eletrónico aos interessados pela avaliação
e a uma gama mais ampla de audiência. Outro desafio
encontrado foi a divulgação em revistas científicas que