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S87

A n a i s d o I HM T

dependendo da audiência.

Quando analisamos a quem o conhecimento deve ser

transferido, verifica-se que os beneficiários ou audiên-

cia na translação do conhecimento variam de acordo

com o propósito da pesquisa. Desta maneira, os bene-

ficiários devem ser claramente identificados e ter uma

estratégia específica para cada um deles. Informações

destinadas a grupos de pesquisadores não são as mes-

mas destinadas a usuários ou profissionais de saúde. In-

formações destinadas à comunidade também não são as

mesmas destinadas aos tomadores de decisão. Pessoas

que formulam políticas públicas, por exemplo, levam

em consideração não apenas os aspetos da pesquisa, mas

opiniões de diversos intervenientes incluindo a comuni-

dade, ponderando as perdas e ganhos das decisões. Des-

ta maneira, ao determinar para quem o conhecimento

deve ser transferido, deve-se primeiramente questionar

quem tem o poder de agir com base em determinado

conhecimento, quem tem o poder de influenciar aque-

les que podem agir, que audiências seriam as mais bem-

-sucedidas e as suas respetivas mensagens[13].

Num processo de translação do conhecimento, qual-

quer pessoa, organização, pesquisador, profissional de

saúde

14

pode ser o mensageiro da informação. Este

mensageiro pode variar, de acordo com o conteúdo e

o público-alvo. Entretanto a credibilidade deste men-

sageiro é uma questão importante a ser considerada.

Desta maneira, alguns autores referem que médicos

renomados ou instituições médicas respeitadas podem

ser os mensageiros a influenciarem a adopção de no-

vos guiões clínicos pela classe médica, diretores clínicos

podem influenciar médicos e enfermeiros a adotarem

algumas práticas [15,16,17] e instituições do governo

seriam melhores mensageiros entre os formuladores de

políticas públicas [4].

Neste contexto, a literatura recomenda que pessoas

com credibilidade, habilidade, conhecimento, tempo e

recursos suficientes devam ser os mensageiros para a

translação do conhecimento. Alem disso, há necessida-

de de uma infra-estrutura tecnológica e organizacional

para a disseminação desse conhecimento. No campo

tecnológico, por exemplo, é necessária a existência de

bases de dados e motores de busca. No campo orga-

nizacional, a existência de especialistas em documen-

tação, analistas de dados e programas de treinamentos

específicos. Adicionalmente, os chamados mediadores

do conhecimento (

knowledge brokerers

) têm um papel

importante de potenciar a credibilidade do mensageiro

[9,10,12].

Os processos de transferência do conhecimento reque-

rem um bom planeamento e a escolha de uma estra-

tégia adequada. É importante também identificar as

potenciais barreiras e oportunidades para a sua imple-

mentação. As barreiras mais comuns estão geralmente

relacionadas com a gestão do conhecimento, com o vo-

lume das pesquisas produzidas, acesso às fontes de evi-

dências, com o tempo para leitura e as habilidades para

avaliar e compreender as evidências. Entretanto barrei-

ras estruturais, organizacionais, profissionais e inter-

pessoais podem também influenciar no desempenho[4]

da translação do conhecimento. As barreiras mais críti-

cas devem ser priorizadas e identificados os meios para

a sua superação. Uma vez minimizadas as barreiras, as

estratégias para a translação do conhecimento devem

ser desenvolvidas tendo em conta a especificidade de

cada audiência.

Conforme dito anteriormente, a translação do co-

nhecimento implica transformar o conhecimento em

ação[5], ou seja, a utilização[8] do conhecimento pelos

diversos intervenientes como resultado da transferên-

cia do conhecimento. Contudo a literatura refere que

o uso da informação é determinado mais pela dinâmica

do contexto político em que está inserido, do que pela

forma como é transmitida [5,18]. É importante garan-

tir que as evidências da pesquisa sejam o componente

chave para a tomada de decisão, entretanto quando a

translação do conhecimento é focada em formuladores

de políticas e consumidores, fatores como o contexto

político podem influenciar os decisores políticos, assim

como valores e preferências individuais podem influen-

ciar os pacientes. Desta maneira, uma decisão poderá

ser informada pelas evidências, mas pode não ser exata-

mente baseada em evidências. Por outro lado, processos

de translação do conhecimento focados nos profissio-

nais de saúde, aparentemente tendem mais a resultar

em práticas clínicas baseada em evidências e isso pode

ser observado nas mudanças de comportamentos dos

profissionais e nos indicadores de qualidade[4].

Nesta perspetiva, o contexto político, as característi-

cas do mensageiro da informação e as características do

processo de transmissão da informação são dimensões

que parecem influenciar a utilização. Demonstrando as-

sim um fraco vínculo causal entre a disseminação de

conhecimento e utilização real do conhecimento.

Avaliações emitem julgamentos de valor [18,19] e pro-

duzem informações que podem ser úteis à tomada de

decisão por meio de um processo de translação do co-

nhecimento[20].

A avaliação no contexto

da África Subsaariana

A África Subsaariana é uma das regiões mais pobres do

planeta. Possui o maior número de países com baixo

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com um

índice médio de 0,502 e uma expectativa de vida à nas-

cença de 56,8 anos[21]. Devido a este cenário, a Decla-