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A n a i s d o I HM T
dependendo da audiência.
Quando analisamos a quem o conhecimento deve ser
transferido, verifica-se que os beneficiários ou audiên-
cia na translação do conhecimento variam de acordo
com o propósito da pesquisa. Desta maneira, os bene-
ficiários devem ser claramente identificados e ter uma
estratégia específica para cada um deles. Informações
destinadas a grupos de pesquisadores não são as mes-
mas destinadas a usuários ou profissionais de saúde. In-
formações destinadas à comunidade também não são as
mesmas destinadas aos tomadores de decisão. Pessoas
que formulam políticas públicas, por exemplo, levam
em consideração não apenas os aspetos da pesquisa, mas
opiniões de diversos intervenientes incluindo a comuni-
dade, ponderando as perdas e ganhos das decisões. Des-
ta maneira, ao determinar para quem o conhecimento
deve ser transferido, deve-se primeiramente questionar
quem tem o poder de agir com base em determinado
conhecimento, quem tem o poder de influenciar aque-
les que podem agir, que audiências seriam as mais bem-
-sucedidas e as suas respetivas mensagens[13].
Num processo de translação do conhecimento, qual-
quer pessoa, organização, pesquisador, profissional de
saúde
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pode ser o mensageiro da informação. Este
mensageiro pode variar, de acordo com o conteúdo e
o público-alvo. Entretanto a credibilidade deste men-
sageiro é uma questão importante a ser considerada.
Desta maneira, alguns autores referem que médicos
renomados ou instituições médicas respeitadas podem
ser os mensageiros a influenciarem a adopção de no-
vos guiões clínicos pela classe médica, diretores clínicos
podem influenciar médicos e enfermeiros a adotarem
algumas práticas [15,16,17] e instituições do governo
seriam melhores mensageiros entre os formuladores de
políticas públicas [4].
Neste contexto, a literatura recomenda que pessoas
com credibilidade, habilidade, conhecimento, tempo e
recursos suficientes devam ser os mensageiros para a
translação do conhecimento. Alem disso, há necessida-
de de uma infra-estrutura tecnológica e organizacional
para a disseminação desse conhecimento. No campo
tecnológico, por exemplo, é necessária a existência de
bases de dados e motores de busca. No campo orga-
nizacional, a existência de especialistas em documen-
tação, analistas de dados e programas de treinamentos
específicos. Adicionalmente, os chamados mediadores
do conhecimento (
knowledge brokerers
) têm um papel
importante de potenciar a credibilidade do mensageiro
[9,10,12].
Os processos de transferência do conhecimento reque-
rem um bom planeamento e a escolha de uma estra-
tégia adequada. É importante também identificar as
potenciais barreiras e oportunidades para a sua imple-
mentação. As barreiras mais comuns estão geralmente
relacionadas com a gestão do conhecimento, com o vo-
lume das pesquisas produzidas, acesso às fontes de evi-
dências, com o tempo para leitura e as habilidades para
avaliar e compreender as evidências. Entretanto barrei-
ras estruturais, organizacionais, profissionais e inter-
pessoais podem também influenciar no desempenho[4]
da translação do conhecimento. As barreiras mais críti-
cas devem ser priorizadas e identificados os meios para
a sua superação. Uma vez minimizadas as barreiras, as
estratégias para a translação do conhecimento devem
ser desenvolvidas tendo em conta a especificidade de
cada audiência.
Conforme dito anteriormente, a translação do co-
nhecimento implica transformar o conhecimento em
ação[5], ou seja, a utilização[8] do conhecimento pelos
diversos intervenientes como resultado da transferên-
cia do conhecimento. Contudo a literatura refere que
o uso da informação é determinado mais pela dinâmica
do contexto político em que está inserido, do que pela
forma como é transmitida [5,18]. É importante garan-
tir que as evidências da pesquisa sejam o componente
chave para a tomada de decisão, entretanto quando a
translação do conhecimento é focada em formuladores
de políticas e consumidores, fatores como o contexto
político podem influenciar os decisores políticos, assim
como valores e preferências individuais podem influen-
ciar os pacientes. Desta maneira, uma decisão poderá
ser informada pelas evidências, mas pode não ser exata-
mente baseada em evidências. Por outro lado, processos
de translação do conhecimento focados nos profissio-
nais de saúde, aparentemente tendem mais a resultar
em práticas clínicas baseada em evidências e isso pode
ser observado nas mudanças de comportamentos dos
profissionais e nos indicadores de qualidade[4].
Nesta perspetiva, o contexto político, as característi-
cas do mensageiro da informação e as características do
processo de transmissão da informação são dimensões
que parecem influenciar a utilização. Demonstrando as-
sim um fraco vínculo causal entre a disseminação de
conhecimento e utilização real do conhecimento.
Avaliações emitem julgamentos de valor [18,19] e pro-
duzem informações que podem ser úteis à tomada de
decisão por meio de um processo de translação do co-
nhecimento[20].
A avaliação no contexto
da África Subsaariana
A África Subsaariana é uma das regiões mais pobres do
planeta. Possui o maior número de países com baixo
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com um
índice médio de 0,502 e uma expectativa de vida à nas-
cença de 56,8 anos[21]. Devido a este cenário, a Decla-