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S86

Artigo Original

Introdução

Existe um investimento muito grande por parte de

doadores e agências internacionais de desenvolvimento

no reforço das capacidades na área da saúde em setores

como: formação e qualificação de profissionais, avalia-

ções e pesquisas em saúde, programas de melhoria de

qualidade, segurança do paciente e gestão de riscos. As

cooperações técnicas são parte deste investimento que

envolve a implementação de intervenções que procu-

ram promover a mudança de uma situação real não de-

sejável para uma situação ideal desejável. Entretanto a

implementação e a efetividade das intervenções é mui-

to pequena em comparação com o montante investido

ao longo das décadas pelos doadores nas suas diversas

áreas [1,2,3].

Os sistemas de saúde, de uma maneira geral, enfrentam

desafios na provisão de serviços eficientes com uso efe-

tivo dos recursos para proporcionar uma melhor saúde

à população, e têm tido pouca capacidade de traduzir

os resultados dos estudos e pesquisas em mudanças das

práticas clínicas e estabelecimento de políticas [4]. Nes-

te sentido, evidenciam uma fraca ligação entre o proces-

so de produção e transmissão do conhecimento e a sua

utilização na tomada de decisões [5]. De acordo com o

Banco Mundial [6], a maioria dos esforços de reforço de

capacidades não passaram por um processo sistemático

de avaliação das necessidades, são fragmentados e não

há o seguimento adequado de medidas que promovam

a mudança organizacional e o desenvolvimento de ha-

bilidades individuais. Portanto torna-se necessária uma

abordagem mais abrangente e sustentável assim como

de melhores ferramentas para monitorar e avaliar esses

esforços.A deficiência desses elementos leva a uma difi-

culdade em comparar os resultados entre os programas

e identificar boas práticas para a sua replicação [7].

Muitos esforços têm sido feitos, no sentido de reduzir

estas lacunas e diferentes terminologias têm sido utili-

zadas no sentido de estabelecer uma ligação entre a pro-

dução do conhecimento e a sua utilização, bem como

facilitar o uso desses resultados [8,9].Translação do co-

nhecimento (

knowledge translation

), transferência e per-

muta de conhecimento (

knowledge transfer and exchange

),

utilização do conhecimento (

knowledge utilization

), utili-

zação da pesquisa (

research utilization

), política informa-

da por evidências (

evidence-informed policy

), sistemas de

saúde informados por evidências (

evidence-informed heal-

th systems

), são termos geralmente utilizados. De forma

complementar e interdependente ou sobreposta, esses

termos têm gerado discussão e uma certa confusão de-

vido à diversidade dos conceitos [10], das metodologias

e de como o conhecimento é utilizado [11].

Neste artigo, o enfoque é feito na translação do conhe-

cimento que foi inicialmente utilizado pelo

Canadian

Institute of Health Research

(CIHR) em 2000 e defini-

do como “um processo dinâmico e iterativo que inclui

síntese, disseminação, intercâmbio e aplicação etica-

mente sólida de conhecimento para melhorar a saúde,

fornecer serviços e produtos de saúde mais eficazes e

fortalecer o sistema de saúde”. Este processo envolve

a interação entre pesquisadores e usuários do conheci-

mento e variar em intensidade, complexidade e nível

de engajamento, dependendo da natureza da pesquisa,

dos achados, bem como das necessidades dos usuários

individuais e coletivos[3].

Os processos de translação do conhecimento têm sido

fortemente influenciados por conceitos como “decisão”

e “tomada de decisão”. Entretanto, como o uso desses

termos em sistemas coletivos tendem a ser um tan-

to problemáticos, o direcionamento para o conceito

de “ação” parece ser mais apropriado [12], em suma,

transformar o conhecimento em ação [5], englobando

o processo de criação, aplicação e utilização do conheci-

mento pelos diversos intervenientes

[2]. É importante

salientar também, as individualidades envolvidas nes-

te processo. De um lado, estão aqueles ligados a ins-

tituições ou sistemas que produzem o conhecimento.

De outro lado, aqueles com capacidade de intervir nas

práticas e funcionamento dos sistemas sociais, organi-

zacionais e políticos. Entre eles, transitam os diversos

tipos de mediadores que contribuem para o fluxo de

informação[7].

Grinshaw e Lavis[1,13] sugerem uma estrutura com

cinco questões, de maneira a sistematizar o processo de

translação do conhecimento e que são detalhadas em

seguida.

1) o que deve ser transferido (conteúdo)?;

2) para quem o conhecimento deve ser transferido (pú-

blico-alvo)?;

3) por quem o conhecimento deve ser transferido?

(quem é o mensageiro);

4) como o conhecimento deve ser transferido? (proces-

so e possíveis desafios);

5) com que efeito o conhecimento deve ser transferido?

(resultado).

Em relação ao conteúdo, ou ao que deve ser transfe-

rido, é importante considerar que nem todo conhe-

cimento é do mesmo tipo e tem o mesmo valor. Al-

guns autores [9,13] referem que não existe evidência

convincente que demonstre um vínculo entre validade

científica e utilização. Para os tomadores de decisão,

por exemplo, o processo de decisão implica primeiro

uma tentativa de prever as diferentes consequências das

decisões, que geralmente ocorre num contexto de alta

incerteza e ambiguidade. Por um lado, as consequências

programáticas que esta decisão pode ter e por outro,

o custo político que esta decisão poderá trazer. Desta

maneira, o conhecimento a ser transferido varia muito