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Artigo Original
Introdução
Existe um investimento muito grande por parte de
doadores e agências internacionais de desenvolvimento
no reforço das capacidades na área da saúde em setores
como: formação e qualificação de profissionais, avalia-
ções e pesquisas em saúde, programas de melhoria de
qualidade, segurança do paciente e gestão de riscos. As
cooperações técnicas são parte deste investimento que
envolve a implementação de intervenções que procu-
ram promover a mudança de uma situação real não de-
sejável para uma situação ideal desejável. Entretanto a
implementação e a efetividade das intervenções é mui-
to pequena em comparação com o montante investido
ao longo das décadas pelos doadores nas suas diversas
áreas [1,2,3].
Os sistemas de saúde, de uma maneira geral, enfrentam
desafios na provisão de serviços eficientes com uso efe-
tivo dos recursos para proporcionar uma melhor saúde
à população, e têm tido pouca capacidade de traduzir
os resultados dos estudos e pesquisas em mudanças das
práticas clínicas e estabelecimento de políticas [4]. Nes-
te sentido, evidenciam uma fraca ligação entre o proces-
so de produção e transmissão do conhecimento e a sua
utilização na tomada de decisões [5]. De acordo com o
Banco Mundial [6], a maioria dos esforços de reforço de
capacidades não passaram por um processo sistemático
de avaliação das necessidades, são fragmentados e não
há o seguimento adequado de medidas que promovam
a mudança organizacional e o desenvolvimento de ha-
bilidades individuais. Portanto torna-se necessária uma
abordagem mais abrangente e sustentável assim como
de melhores ferramentas para monitorar e avaliar esses
esforços.A deficiência desses elementos leva a uma difi-
culdade em comparar os resultados entre os programas
e identificar boas práticas para a sua replicação [7].
Muitos esforços têm sido feitos, no sentido de reduzir
estas lacunas e diferentes terminologias têm sido utili-
zadas no sentido de estabelecer uma ligação entre a pro-
dução do conhecimento e a sua utilização, bem como
facilitar o uso desses resultados [8,9].Translação do co-
nhecimento (
knowledge translation
), transferência e per-
muta de conhecimento (
knowledge transfer and exchange
),
utilização do conhecimento (
knowledge utilization
), utili-
zação da pesquisa (
research utilization
), política informa-
da por evidências (
evidence-informed policy
), sistemas de
saúde informados por evidências (
evidence-informed heal-
th systems
), são termos geralmente utilizados. De forma
complementar e interdependente ou sobreposta, esses
termos têm gerado discussão e uma certa confusão de-
vido à diversidade dos conceitos [10], das metodologias
e de como o conhecimento é utilizado [11].
Neste artigo, o enfoque é feito na translação do conhe-
cimento que foi inicialmente utilizado pelo
Canadian
Institute of Health Research
(CIHR) em 2000 e defini-
do como “um processo dinâmico e iterativo que inclui
síntese, disseminação, intercâmbio e aplicação etica-
mente sólida de conhecimento para melhorar a saúde,
fornecer serviços e produtos de saúde mais eficazes e
fortalecer o sistema de saúde”. Este processo envolve
a interação entre pesquisadores e usuários do conheci-
mento e variar em intensidade, complexidade e nível
de engajamento, dependendo da natureza da pesquisa,
dos achados, bem como das necessidades dos usuários
individuais e coletivos[3].
Os processos de translação do conhecimento têm sido
fortemente influenciados por conceitos como “decisão”
e “tomada de decisão”. Entretanto, como o uso desses
termos em sistemas coletivos tendem a ser um tan-
to problemáticos, o direcionamento para o conceito
de “ação” parece ser mais apropriado [12], em suma,
transformar o conhecimento em ação [5], englobando
o processo de criação, aplicação e utilização do conheci-
mento pelos diversos intervenientes
[2]. É importante
salientar também, as individualidades envolvidas nes-
te processo. De um lado, estão aqueles ligados a ins-
tituições ou sistemas que produzem o conhecimento.
De outro lado, aqueles com capacidade de intervir nas
práticas e funcionamento dos sistemas sociais, organi-
zacionais e políticos. Entre eles, transitam os diversos
tipos de mediadores que contribuem para o fluxo de
informação[7].
Grinshaw e Lavis[1,13] sugerem uma estrutura com
cinco questões, de maneira a sistematizar o processo de
translação do conhecimento e que são detalhadas em
seguida.
1) o que deve ser transferido (conteúdo)?;
2) para quem o conhecimento deve ser transferido (pú-
blico-alvo)?;
3) por quem o conhecimento deve ser transferido?
(quem é o mensageiro);
4) como o conhecimento deve ser transferido? (proces-
so e possíveis desafios);
5) com que efeito o conhecimento deve ser transferido?
(resultado).
Em relação ao conteúdo, ou ao que deve ser transfe-
rido, é importante considerar que nem todo conhe-
cimento é do mesmo tipo e tem o mesmo valor. Al-
guns autores [9,13] referem que não existe evidência
convincente que demonstre um vínculo entre validade
científica e utilização. Para os tomadores de decisão,
por exemplo, o processo de decisão implica primeiro
uma tentativa de prever as diferentes consequências das
decisões, que geralmente ocorre num contexto de alta
incerteza e ambiguidade. Por um lado, as consequências
programáticas que esta decisão pode ter e por outro,
o custo político que esta decisão poderá trazer. Desta
maneira, o conhecimento a ser transferido varia muito