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A n a i s d o I HM T
dores no que diz respeito à seleção de questões de avaliação,
aos atores chave e aos potenciais utilizadores, aos métodos
de recolha de dados e de elaboração dos relatórios. No
artigo ressaltam as tensões que se colocam em termos de
perceção sobre o rigor da avaliação e as expressões indianas
locais de conhecimento e quadros hierárquicos impostos,
tanto interna como externamente.
5.
Os Determinantes Sociais da Equidade naAva-
liação de Desenvolvimento Internacional
Robertson [5] (no número especial em análise) analisa os
documentos de orientação de avaliação centrados na equi-
dade publicados por grandes organizações internacionais de
desenvolvimento (N=21).No artigo o autor analisa emque
medida a política de avaliação do desenvolvimento inter-
nacional e os documentos de orientação prática fornecem
recomendações para considerar as barreiras à equidade so-
cial e à igualdade em várias etapas do processo de avaliação,
com implicações para a qualidade da avaliação, a capacidade
de resposta cultural e a descolonização da avaliação.
A importância de incluir a equidade e o género nos estudos
de avaliação vem sendo abordada [5]. O conceito de “
ava-
liação focada na equidade
” é definido como: uma avaliação do
que “
funciona e o que não funciona para reduzir a desigualdade
” e
dos “
resultados pretendidos e não intencionais para os grupos mais
desfavorecidos, bem como as lacunas entre os grupos mais, menos e
medianamente desfavorecidos
” [9]. Ou seja, são avaliações que
observam explicitamente as dimensões de equidade das in-
tervenções.
É ainda considerado que, apesar do recente aumento das
publicações de avaliação focadas na equidade, a literatura e a
orientação sobre este tipo de avaliação ainda estão emergin-
do e são algo limitadas [9].
Robertson [5] identificou as lacunas existentes na literatu-
ra de avaliação de desenvolvimento internacional que tem
importantes implicações práticas e teóricas para a qualidade
do desenho,métodos e relatórios de avaliação num contex-
to de avaliação focado na equidade.
Na análise que Robertson [5] efetuou dos documentos
orientadores da avaliação de desenvolvimento internacio-
nal, a autora considerou as dimensões cultura e contexto,
tendo colocado as seguintes questões:
De que forma é situado o conceito de cultura nas definições
de avaliação, nas práticas metodológicas, numa perspetiva
de saúde global?
Como é que a cultura é conceptualizada nos contextos de
desenvolvimento internacional e qual o grau de inclusão
das culturas locais, indígenas e até certo ponto extrema-
mente marginalizadas, neste diálogo?
Embora o autor [5] reconheça algum progresso, considera
ainda haver “espaço para melhoria” em termos de clareza
e direção da linguagem nos documentos de orientação de
avaliação e em termos de qualidade e nível de detalhes so-
bre como abordar os determinantes sociais da equidade em
avaliação.
6.
Sistemas globais transculturais: em busca de
avaliadores de
mármore azul
Patton [6] (no número especial em análise) começa por
apresentar o que considera ser a “cultura de inquérito” cen-
trada numa perspetiva de avaliação com foco no Estado-
-nação como unidade de análise (o avaliado), fazendo uma
sugestão de mudança para uma “perspetiva transcultural”
que é global e inclui aTerra e todos os seus habitantes como
unidade de análise. O autor argumenta que os problemas
globais exigem um pensamento global, uma mudança de
paradigma que se afaste de uma avaliação internacional com
foco nos estados nacionais para uma perspetiva de avaliação
dos sistemas globais. É uma abordagem provocadora que
exige o reforço das capacidades e competências dos ava-
liadores que já detêm competências de análise de sistemas
globais (por exemplo, aqueles que possuem perspetivas
globais, conhecimento de sistemas mundiais, competências
de análise de sistemas globais e redes em sistemas globais
emmudança).
Avaliação dos sistemas transculturais globais
Para Patton [6], uma perspetiva transcultural coaduna-se
com uma abordagem descolonizadora da avaliação, pois é
inclusiva das perspetivas locais, indígenas, integradas num
quadro transcultural global. Nos últimos 15 anos registou-
-se um crescimento significativo da avaliação intercultural e
internacional. O reconhecimento da importância de com-
preender a dimensão intercultural tem aumentado à me-
dida que a avaliação se vem tornando mais internacional.
Ou seja, o facto de a avaliação se internacionalizar trouxe a
necessidade de considerar a dimensão cultural.
Fazer da cultura a unidade de análise e o foco de investigação
chama a atenção para a dinâmica transcultural e, especial-
mente, os conflitos interculturais, sejam eles manifestados
em epistemologias opostas (ciência ocidental versus formas
indígenas de conhecimento), dinâmicas de poder (desen-
volvimento feito
às
pessoas em vez de
com
as pessoas), agen-
das opostas (mandatos e planos das agências internacionais
versus necessidades reais das populações locais e interesses
autodeterminados), diferentes níveis de resultados (resulta-
dos individuais versus impactos da comunidade) e objetivos
de avaliação conflituantes (responsabilidade versus apren-
dizagem).
Descolonização da avaliação
O processo de descolonização da avaliação requer uma
avaliação cultural e contextualmente sensível que seja au-
têntica e comprometida dialogicamente, inclusiva, refle-
xiva, capacitante, mutuamente respeitosa, consciente da
complexidade e transformadora. Tais avaliações não são