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S40

Artigo Original

Introdução

No contexto da Research Fairness Initiative (RFI), quer

a Universidade Nova de Lisboa, quer a Universidade de

São Paulo, têm procurado ao longos dos últimos anos

consolidar a equidade na investigação em Saúde Públi-

ca. Estas iniciativas necessitam de ser contextualizadas

para melhor promoverem a sua real adoção, sobretudo

em áreas como a Saúde Pública.

A Saúde Pública apresenta duas características que a

tornam numa área da ciência particularmente sensível

a questões de equidade. Por um lado a relevância das

intervenções, cujo sucesso depende largamente da in-

teração equilibrada e consistente com as populações,

obrigando quase sempre a incluir equipas multi-profis-

sionais. Por outro lado, o facto da Saúde Pública estar

a evoluir para uma saúde global, sensível às pressões da

globalização, do aquecimento global e do multicultu-

ralismo.

Uma das grandes áreas de atuação, na área da investiga-

ção em Saúde Pública, tem sido na capacitação da força

de trabalho. A importância que cada país, disponha de

recursos humanos qualificados ao nível dos laborató-

rios, de investigação clínica e nas áreas das políticas é

clara. É a esta força de trabalho qualificada que compe-

te liderar e desenvolver os diversos projetos de investi-

gação e de implementação no terreno.

Muito da atividade de RFI, passa por envolver as comu-

nidades, nos diversos atores, na definição das priorida-

des; no envolvimento ativo destes mesmos atores, tor-

nando-os também partes integrantes dos processos de

investigação; na definição de objetivos credíveis e com

importância para as comunidades e para a

investigação justa e ética; na negocia-

ção de contactos de financiamento

adequados e justos; e finalmente

no envolvimento de todos os

atores nos processos de ges-

tão e, sempre que possível,

na definição das próprias

regras de governação as-

sociados aos projetos de

investigação.

Quanto ao desafio da

globalização, e em face à

dimensão cada vez mais

global da saúde, nas amea-

ças e na própria definição de

políticas, o envolvimento justo

e equitativo dos vários parceiros

é crucial para sucesso das interven-

ções e da investigação relacionada. Mas

aqui surgem desafios prementes, como a coor-

denação de projetos envolvendo muitos parceiros, difi-

culdade de obtenção de consentimentos informados,

em garantir padrões (comuns de) segurança, e em lidar

com regulação complexa, e por vezes anacrónica. Estão

também presente tensões do foro ético, na harmoniza-

ção de prioridades científicas (e.g., alinhadas com ne-

cessidades locais de saúde), na obtenção das aprovações

das comissões de ética (frequentemente com falta de

recursos e de conhecimento), na clarificação das res-

ponsabilidades éticas dos investigadores depois de com-

pletos os estudos.

Neste artigo serão explorados os novos desafios da

equidade na investigação em Saúde Pública, com espe-

cial atenção à lusofonia. Serão estudados exemplos de

investigação, onde se utilizam as boas práticas de equi-

dade em investigação no Brasil (Escola de Enfermagem

da Universidade de São Paulo) e em Portugal (Instituto

de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova

de Lisboa). Estes exemplos servirão como base para re-

comendações em termos de melhor adoção de práticas

de equidade na investigação.

Materiais e métodos

Os desafios da equidade na investigação

em saúde no contexto da lusofonia

A investigação em saúde é uma atividade importante e

complexa. Mais ainda quando envolve doentes e vários

países, criando desafios que devemos compreender e

mitigar.

O modelo de quadro (conceptual) de referência apre-

senta três principais pontos (Fig.1):

1.

Aumento da capacidade de investigação

dos países em desenvolvimento (e com os

quais se faz investigação);

2. Melhorar a apropriação local

da investigação, dos seus resulta-

dos e benefícios;

3.

Reduzir os riscos de

credibilidade e “reputacio-

nais” e melhorar o impacto

social;

Estes pontos devem ser

considerados nos casos de

estudo a desenvolver.

Por outro lado a COHRED

(2017) contribui para o rigor

desta abordagem, ao focar no

processo de identificação de prio-

ridades de investigação, que integra os

Fig.1 - Quadro conce tual para a Equidade em Investigação (UN, 2009).

Reduzir os riscos

de credibilidade e

“reputacionais” e

melhorar o

impacto social

Aumento da

capacidade de

investigação dos

países em

desenvolvimento

Melhorar a apropriação

local da investigação,

dos seus resultados e

benefícios

Fig.1 -

Quadro conceptual para a Equidade em Investigação (UN, 2009)