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Artigo Original
ênfase na avaliação do desenvolvimento é a aprendizagem
adaptativa, o feedback em tempo real, a flexibilidade e a
apreensão da dinâmica do sistema (Gamble, 2008; Patton,
2011 cit in Ramirez et al 2017) [19]. A
avaliação centrada
na utilização
é um quadro de tomada de decisão dentro do
qual a avaliação do desenvolvimento pode
inserir-se, de-
pendendo dos usos e das principais questões de avaliação.
A noção de
avaliação de desenvolvimento centrada na utilização
foi avançada por Patton (2008 cit in Ramirez et al 2017)
[19] e tem sido descrito por vários estudos (Patton et al.,
2016; Ramírez,Kora & Shephard, 2015 cit in Ramirez et al
2017) [19]. Na Figura 2 apresentamos as principais etapas
da
avaliação centrada na utilização
, embora Ramirez e colegas
[19] chamem a atenção para o facto de a sua implementação
não corresponder a um processo linear.
Chilisa e colegas [3] (no número especial em análise) obser-
varam a reconfiguração de Carden eAlkin [15] da metáfora
da árvore de avaliação (ver Figura 1) para localizar vozes
africanas, perspetivas e epistemologias que considerem a
descolonização e indigenização de novas ferramentas e prá-
ticas de avaliação com ecos culturais em África. Os autores
começam por uma crítica dos paradigmas e abordagens
euro-ocidentais dominantes na avaliação, posicionando-
-os como um artefacto cultural, uma forma de “imperia-
lismo epistemológico” que reforça abordagens focadas nos
doadores e baseadas na responsabilização. Afirmam que a
“contextualização cosmética” é insuficiente, pois o que é
necessário é uma teoria de avaliação africana que enfatize
as formas de avaliação relacionais africanas num paradigma
de avaliação relacional africano. E a questão sobre “Quem
define a agenda?” é primordial.
Segundo os autores [3], nos países em desenvolvimento a
avaliação tornou-se o pior instrumento de imperialismo
epistemológico, traduzido no tipo de factos recolhidos, nas
técnicas usadas para os recolher e na teorização subsequen-
te.
No debate acerca do papel da cultura no desenvolvimento
internacional, é preciso perceber se os paradigmas de ava-
liação são culturalmente neutros. Permanecendo a questão:
será possível que os métodos e procedimentos usados na
avaliação se mantenham enviesados culturalmente, racistas
e ainda dominados pelo capitalismo global e o lucro e tam-
bém com eventuais resquícios do que Bhabha (1994 cit in
Chilisa et al 2015) [3] designa de “absurdo colonial” sobre
o “outro”?
A avaliação em África e nos países em desenvolvimento em
geral está na mira da crítica devido à utilização de aborda-
gens epistemológicas ocidentais nas pesquisas sociais que
reforçam uma abordagem baseada na responsabilização dos
doadores para medir os resultados da
avaliação.Osparadig-
mas de pesquisa euro-ocidentais reforçam a dependência
de modelos, estratégias e técnicas eurocêntricas que muitas
vezes levam a avaliações inadequadas, prescrições erradas e
modelos de avaliação vácuos (Jeng 2012 cit in Chilisa et al
2015) [3]. Daí que a compreensão da política em torno da
avaliação possa fornecer informações sobre a cultura domi-
nante, a potencial dinâmica de poder na avaliação do desen-
volvimento internacional e como é que o conhecimento é
produzido na investigação avaliativa.
4.
Benefícios, desafios e lições
aprendidas numa experiência de
avaliação intercultural na Índia
– relatos de uma conversa entre
avaliadores
Existe uma necessidade reconhecida de compreender a
complexidade das avaliações que ocorrem em contextos
multiculturais e interculturais [4], ancorada na evidência
de que a compreensão da dimensão cultural é essencial nas
avaliações que pretendemmelhorar programas sociais [8].
Hudib e colegas [4] (no número especial em análise) apre-
sentam sob a forma de diálogo uma experiência de avalia-
ção intercultural realizada num período de cinco anos entre
avaliadores externos do Canadá e um grupo de avaliadores
indianos locais. O foco da conversa incide sobre os benefí-
cios obtidos e os desafios encontrados no processo de supe-
ração dos sistemas de conhecimento ocidentais e indianos.
Esta conversa destaca as diferenças culturais entre os avalia-
Fonte: Ramirez, Ricardo; Kora, Galin e Brodhead, Dal (2017).Translating
Project Achievements into Strategic Plans: A Case Study in Utilization-Fo-
cused Evaluation.
Journal of MultiDisciplinary Evaluation.
Volume 13, Issue 28,
1-23.
Fig.2 -
Etapas da Avaliação Centrada na Utilização
2017) [19] e tem sido descrito por vários estudos (Patton et al., 2016; Ramírez, Kora &
Shephard, 2015 cit in Ramirez et al 2017) [19]. Na Figura 2 apresentamos as principais etapas
da
avaliação centrada na utilização
, embora Ramirez e colegas [19] chamem a atenção para o
facto de a sua implementação não corresponder a um processo linear.
FIGURA 2 – Etapas da Avaliação Centrada na Utilização
Fonte: Ra irez, Ricardo; Kora, Galin e Brodhead, Dal (2017). Translating Project Achievements into Strategic Plans:
A Case Study in Utilization-Focused Evaluation.
Journal of MultiDisciplinary Evaluation
. Volume 13, Issue 28, 1-23.
4
Análise
Situacional
1
Avaliação da rapidez
do Programa
2
Avaliação da
rapidez
dos Avaliadores
5
Identificação dos
principais usos
previstos
3
Avaliação dos
utilizadores
principais previstos
6
Foco na avaliação
7
Desenho da
avaliação
8
Simulação
do uso
9
Recolha de dados
10
Análise de dados
11
Facilitação do uso
12
Meta Avaliação