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Artigo Original
1. Introdução
O número especial [1] contém cinco artigos diretamen-
te relacionados com a temática da equidade na inves-
tigação avaliativa [2,3,4,5,6], que nos oferecem uma
perspetiva acerca da avaliação quando efetuada em con-
texto internacional e os desafios que os avaliadores têm
de enfrentar, nomeadamente os que estão relacionados
com a dimensão cultural do processo avaliativo, condu-
zindo a uma necessidade de efetuar uma avaliação de
tipo intercultural, com base em equidade e orientada
muitas vezes por preocupações com as questões de gé-
nero.
A cultura está no cerne de qualquer atividade avaliativa,
assim sendo não existe avaliação sem cultura e esta por
sua vez é resultado de uma construção social, política e
histórica, sendo expressão de normas e valores societais
[7] O conceito de cultura e as suas múltiplas ligações à
avaliação são importantes no contexto de avaliações em
ambientes internacionais, sobretudo se levarmos em li-
nha de conta a história recente do passado colonizador.
O papel da cultura na avaliação do desenvolvimento in-
ternacional foi analisado por uma revisão de 71 estudos
de avaliação em contextos de desenvolvimento interna-
cional publicados nos últimos 18 anos [2].
Apesar de os discursos sobre avaliação a nível global
serem cada vez mais imbuídos de uma perspetiva de
avaliações culturalmente relevantes, permanecem mui-
tos desafios de integração das vozes Africanas. É neste
contexto que Chilisa e colegas [3] discutem as perspe-
tivas Africanas sobre a descolonização e indigenização
da avaliação.
Tendo por base o pressuposto de que a compreensão
das dimensões culturais é fundamental nas avaliações
cujo objetivo é melhorar programas sociais e gerar os
resultados pretendidos [8], Hudib e colegas [4] parti-
lham o resultado de uma conversa informal entre um
avaliador Canadiano e um grupo de avaliadores In-
dianos acerca das suas experiências de colaboração na
avaliação de projetos de capacitação nos últimos cinco
anos. O foco principal foi precisamente refletir acerca
da experiência intercultural, dos benefícios e desafios
encontrados no processo de superação dos sistemas de
conhecimento de avaliação Ocidental e Indiano.
Uma outra área de crescente interesse está relacionada
com a avaliação focada na equidade o que deu origem
à publicação de documentos orientadores por parte de
diversas organizações internacionais de desenvolvimen-
to [9,10,11]. Neste sentido, Robertson [5] descreve de
que forma as organizações internacionais de desenvol-
vimento recomendam abordar os determinantes sociais
da equidade nos seus documentos de orientação para a
prática de avaliação. As implicações para a qualidade da
avaliação, a capacidade de resposta cultural e a descolo-
nização da avaliação são discutidas e é apresentado um
resumo de exemplos e orientações práticas.
A maior parte da formação em termos de avaliação
tem-se concentrado a nível nacional, o que é necessário
e importante, mas poderá ser desadequado tendo em
conta que os principais problemas que o mundo enfren-
ta atualmente são globais por natureza [6]. O número
especial em análise centra-se nos impressionantes de-
senvolvimentos internacionais e interculturais na área
da avaliação, mas segundo Patton [6] o passo seguinte
é tratar o sistema global como avaliado e desenvolver
avaliadores capazes de realizar avaliações das mudanças
dos sistemas globais transculturais.
2. O papel da cultura na avaliação na
cooperação para o desenvolvimento
internacional
Nos últimos 30 anos o campo da avaliação tem verifi-
cado um significativo incremento em termos globais,
tanto no número de publicações, como na procura por
trabalhos de natureza avaliativa, em grande parte de-
vido a pedidos de organizações não-governamentais e
agências de cooperação internacional [12].
Assim, a Organização Internacional de Cooperação
em Avaliação
(International Organization for Cooperation
in Evaluation - IOCE)
está neste momento a organizar
uma comunidade de associações nacionais de avaliação
profissional em todo o mundo, cujo ponto de partida
foi a Sociedade Canadiana de Avaliação, criada nos anos
1980, sendo atualmente constituída por mais de 158
organizações. A par deste crescimento, assiste-se tam-
bém a um aumento no número de conferências, revistas
de avaliação, cursos de formação e consultorias com o
foco internacional [2].
Num contexto de aumento da avaliação e da sua cres-
cente globalização, existe a necessidade de introduzir na
análise a questão dos contextos e espaços culturais em
que a pesquisa avaliativa ocorre. De facto, a avaliação do
desenvolvimento ocorre em contextos de diversidade
e complexidade cultural e socioeconómica, existindo a
necessidade de se compreender temas como: compe-
tências culturais, capacidade de resposta e sensibilidade
cultural. Os avaliadores de programas trabalham em
diferentes comunidades locais e internacionais e países
em todo o mundo, e em programas que são projetados
para abordar questões sociais, económicas e ambientais
cada vez mais imprevisíveis, tornando-se necessário
compreender melhor a cultura e o contexto cultural
das comunidades (introdução do número especial em
análise) [13].
Ou seja, “
a cultura é uma parte inegavelmente integrada dos
diversos contextos de avaliação e, portanto, parte integrante