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S32

Artigo Original

1. Introdução

O número especial [1] contém cinco artigos diretamen-

te relacionados com a temática da equidade na inves-

tigação avaliativa [2,3,4,5,6], que nos oferecem uma

perspetiva acerca da avaliação quando efetuada em con-

texto internacional e os desafios que os avaliadores têm

de enfrentar, nomeadamente os que estão relacionados

com a dimensão cultural do processo avaliativo, condu-

zindo a uma necessidade de efetuar uma avaliação de

tipo intercultural, com base em equidade e orientada

muitas vezes por preocupações com as questões de gé-

nero.

A cultura está no cerne de qualquer atividade avaliativa,

assim sendo não existe avaliação sem cultura e esta por

sua vez é resultado de uma construção social, política e

histórica, sendo expressão de normas e valores societais

[7] O conceito de cultura e as suas múltiplas ligações à

avaliação são importantes no contexto de avaliações em

ambientes internacionais, sobretudo se levarmos em li-

nha de conta a história recente do passado colonizador.

O papel da cultura na avaliação do desenvolvimento in-

ternacional foi analisado por uma revisão de 71 estudos

de avaliação em contextos de desenvolvimento interna-

cional publicados nos últimos 18 anos [2].

Apesar de os discursos sobre avaliação a nível global

serem cada vez mais imbuídos de uma perspetiva de

avaliações culturalmente relevantes, permanecem mui-

tos desafios de integração das vozes Africanas. É neste

contexto que Chilisa e colegas [3] discutem as perspe-

tivas Africanas sobre a descolonização e indigenização

da avaliação.

Tendo por base o pressuposto de que a compreensão

das dimensões culturais é fundamental nas avaliações

cujo objetivo é melhorar programas sociais e gerar os

resultados pretendidos [8], Hudib e colegas [4] parti-

lham o resultado de uma conversa informal entre um

avaliador Canadiano e um grupo de avaliadores In-

dianos acerca das suas experiências de colaboração na

avaliação de projetos de capacitação nos últimos cinco

anos. O foco principal foi precisamente refletir acerca

da experiência intercultural, dos benefícios e desafios

encontrados no processo de superação dos sistemas de

conhecimento de avaliação Ocidental e Indiano.

Uma outra área de crescente interesse está relacionada

com a avaliação focada na equidade o que deu origem

à publicação de documentos orientadores por parte de

diversas organizações internacionais de desenvolvimen-

to [9,10,11]. Neste sentido, Robertson [5] descreve de

que forma as organizações internacionais de desenvol-

vimento recomendam abordar os determinantes sociais

da equidade nos seus documentos de orientação para a

prática de avaliação. As implicações para a qualidade da

avaliação, a capacidade de resposta cultural e a descolo-

nização da avaliação são discutidas e é apresentado um

resumo de exemplos e orientações práticas.

A maior parte da formação em termos de avaliação

tem-se concentrado a nível nacional, o que é necessário

e importante, mas poderá ser desadequado tendo em

conta que os principais problemas que o mundo enfren-

ta atualmente são globais por natureza [6]. O número

especial em análise centra-se nos impressionantes de-

senvolvimentos internacionais e interculturais na área

da avaliação, mas segundo Patton [6] o passo seguinte

é tratar o sistema global como avaliado e desenvolver

avaliadores capazes de realizar avaliações das mudanças

dos sistemas globais transculturais.

2. O papel da cultura na avaliação na

cooperação para o desenvolvimento

internacional

Nos últimos 30 anos o campo da avaliação tem verifi-

cado um significativo incremento em termos globais,

tanto no número de publicações, como na procura por

trabalhos de natureza avaliativa, em grande parte de-

vido a pedidos de organizações não-governamentais e

agências de cooperação internacional [12].

Assim, a Organização Internacional de Cooperação

em Avaliação

(International Organization for Cooperation

in Evaluation - IOCE)

está neste momento a organizar

uma comunidade de associações nacionais de avaliação

profissional em todo o mundo, cujo ponto de partida

foi a Sociedade Canadiana de Avaliação, criada nos anos

1980, sendo atualmente constituída por mais de 158

organizações. A par deste crescimento, assiste-se tam-

bém a um aumento no número de conferências, revistas

de avaliação, cursos de formação e consultorias com o

foco internacional [2].

Num contexto de aumento da avaliação e da sua cres-

cente globalização, existe a necessidade de introduzir na

análise a questão dos contextos e espaços culturais em

que a pesquisa avaliativa ocorre. De facto, a avaliação do

desenvolvimento ocorre em contextos de diversidade

e complexidade cultural e socioeconómica, existindo a

necessidade de se compreender temas como: compe-

tências culturais, capacidade de resposta e sensibilidade

cultural. Os avaliadores de programas trabalham em

diferentes comunidades locais e internacionais e países

em todo o mundo, e em programas que são projetados

para abordar questões sociais, económicas e ambientais

cada vez mais imprevisíveis, tornando-se necessário

compreender melhor a cultura e o contexto cultural

das comunidades (introdução do número especial em

análise) [13].

Ou seja, “

a cultura é uma parte inegavelmente integrada dos

diversos contextos de avaliação e, portanto, parte integrante