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A n a i s d o I HM T
da avaliação.A cultura está presente na avaliação não apenas
nos contextos em que os programas são implementados, mas
também nos projetos desses programas e na abordagem, posição
ou métodos que os avaliadores optam por usar no seu trabalho”
(SenGupta, Hopson e Thompson-Robinson 2004 cit in
Chouinard 2015: 238) [13].
Assim, é importante elencar as dimensões do contex-
to cultural, bem como as
questões orientadoras para
prática de avaliação (Tabe-
la 1) tal como identificadas
por Chouinard [13], que
as considera fundamen-
tais para refletir como e
de que forma a cultura é
implicada (e expressa) na
avaliação e, mais especi-
ficamente, nos contextos
em que a avaliação ocorre.
De facto, o contexto inter-
nacional não é um espaço
neutro, persistindo ques-
tões relacionadas com as
lutas sobre o significado,
a identidade, a representa-
ção, o poder e a igualdade
[14].A avaliação não conse-
gue ficar isenta das agendas
do desenvolvimento. Ela
é considerada uma práti-
ca intensamente cultural
e enraizada nos princípios
da modernidade ocidental
e muitos dos avaliadores
exercem a sua atividade a
pedido das agências de de-
senvolvimento e coopera-
ção para avaliar o impacto
da ajuda [15]. Aliás a ava-
liação no Sul Global é con-
siderada ela mesma uma
necessidade das agências de
financiamento.
E embora tenha havido
progressos significativos
em termos de reconhe-
cimento da cultura e do
contexto cultural nas ava-
liações realizadas em con-
textos norte-americanos
e europeus, inclusive nas
comunidades indígenas e
imigrantes (Hood, Hopson
e Frierson, 2015; Hood,
Hopson, & Kirkhart, 2015, Kawakami,Aton, Cram, Lai
e Porima, 2008 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2], tal
parece não se verificar a nível global (Bhola, 2003; Den-
zin & Lincoln, 2008; Ofir & Kumar, 2013 cit in Choui-
nard e Hopson, 2015) [2].
Chouinard e Hopson (revisão incluída no número es-
pecial) [2] fizeram uma revisão de 71 estudos sobre
Dimensões da prática cultural
Principais questões que orientam a análise
Epistemológica
- Abordagens à construção do conhecimento
- Paradigmas ocidentais vs. Locais/indígenas
- Papel/posicionamento do avaliador
- Quadros de representação e significado
Quais são as formas de conhecimento privilegiadas? Quais as
formas dominantes? Quais as excluídas? Quais as perspetivas
utilizadas no desenho da avaliação? De quem são as vozes e as
perspetivas que enquadram a análise? E as excluídas? Qual o
papel desempenhado pelo avaliador na avaliação? Em que
medida o avaliador está envolvido no processo?
Ecológica
- Compreensão e explicitação do contexto e cultura
- História, cultura e antecedentes da comunidade
- História e influências sociais, históricas e económicas
mais vastas
- Necessidades locais de programa / informação
Qual é a história do programa da comunidade? Em que
medida a história, a cultura e os antecedentes da comunidade
são a base para o desenho, o processo e as consequências da
avaliação? De que maneira as realidades sociais, históricas e
económicas da comunidade são consideradas? Como é que as
suas necessidades de informação são manifestadas na
avaliação? Qual o equilíbrio entre as necessidades de
informação locais e externas?
Metodológica
- Variedade de abordagens filosóficas
- Validade multicultural / definições de qualidade de
dados
- Níveis de inclusão / exclusão e voz
- Método e desenvolvimento de instrumentos
- Adaptação local e conveniência cultural
Em que medida os métodos são compatíveis com a cultura
local? Eles refletem as diversas necessidades da população?
Quais os pontos de vista representados, de quem, por quem
e como? Quem está excluído? Quem na comunidade
participa da avaliação? Quais os fatores considerados na
formação da equipe de avaliação? Quem interpreta, escreve,
relata e usa os resultados? De quem é a linguagem usada /
traduzida na documentação de avaliação? A validade é
definida de forma culturalmente apropriada?
Política
- Poder e privilégio
- Diversidade de valores e discursos dominantes
- Normas de representação
- Conflito / compatibilidade de políticas e agendas
Que manifestações de poder podem ser observadas na
avaliação? Quem detém o poder? Quem não? De quem são os
valores dominantes? Em que medida a avaliação é conduzida
por normas externas e padrões de responsabilização? Como é
que os problemas de poder e privilégio são a base para o
desenho e o processo de avaliação? Qual é o racional para a
avaliação (por exemplo, responsabilidade, aprendizagem,
justiça social)?
Pessoal
- "Crítica" / reflexividade e autoconsciência
- Valores e preconceitos pessoais
- Abertura e aprendizagem
- Cultura e localização social do pesquisador
As semelhanças / diferenças culturais são observadas? Em
que medida os avaliadores estão conscientes da sua própria
localização e valores culturais? Como é que a sua posição
influencia o seu trabalho e compreensão do contexto e da
abordagem? Quão abertos eles estão para aprender sobre o
contexto cultural? De que maneira as suas auto reflexões e
consciência afetam a sua abordagem de avaliação?
Relacional
- Identidade situacional (insider / outsider)
- Co-construções de conhecimento
- Relação e compreensão
- Tempo gasto na comunidade
Que atenção é dada ao estabelecimento de relacionamentos
com membros da comunidade e outras partes interessadas?
Como é que o conhecimento é enquadrado e construído
dentro do processo de avaliação? Quanto tempo é gasto na
construção de relacionamentos e familiarização das normas,
valores e costumes comunitários?
Institucional
- Políticas e agendas políticas
- Objetivo / racional da avaliação
- Necessidades do programa e de informações
- Normas e ideologias profissionais
- Tempo e recursos
Quais as políticas / agendas políticas que orientam a prática?
Qual é o racional orientador por trás da abordagem e
intenção da avaliação? Como é que as necessidades da
comunidade e do financiador são equilibradas /
contrabalançadas? Quanto tempo e recursos são dedicados ao
projeto? Os recursos dedicados são viáveis? De quem são as
normas profissionais e as ideologias que orientam a prática?
Como é que essas normas são equilibradas com as práticas
locais?
Fonte: Chouinard, Jill Anne (2015). Introduction: Decolonizing International Development Evaluation.
Canadian
Journal of Program Evaluation
. Vol.30 Special Issue (nº 3), 237–247 doi: 10.3138/cjpe.30.3.02
Tabela 1:
As dimensões da cultura nas práticas avaliativas do desenvolvimento internacional
Fonte: Chouinard, JillAnne (2015). Introduction: Decolonizing International Development Evaluation.
Canadian Journal of Program
Evaluation
.Vol.30 Special Issue (nº 3), 237–247 doi: 10.3138/cjpe.30.3.02