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Artigo Original
avaliação em contextos de desenvolvimento interna-
cional publicados nos últimos 18 anos, explorando
onde, como, e se a cultura é considerada nos estudos
de avaliação internacionais publicados. Especificamen-
te, analisaram os conceitos e definições de cultura em
contextos de desenvolvimento internacional e como os
profissionais de avaliação, académicos e / ou formula-
dores de políticas que trabalham na avaliação de desen-
volvimento internacional enquadram o papel da cultura
e do contexto cultural na sua prática.
Da análise resultou a identificação de cinco áreas:
(a) A manifestação da cultura ao longo de um conti-
nuum de explícito para implícito.
Por um lado, os estudos com menções explícitas ao
conceito de cultura ultrapassam o foco nas práticas par-
ticipativas e inclusivas dos atores chave, destacando uma
abordagem de avaliação sensível aos valores e contex-
tos culturais. Muitos desses estudos também abordam
questões de poder, com foco no desenvolvimento de
abordagens metodológicas culturalmente relevantes
que reflitam possíveis viés e pressupostos culturais por par-
te do avaliador ou pesquisador. Para além das abordagens
participativas, este tipo de estudos também descreve a ne-
cessidade de fundamentar a avaliação e os métodos segundo
o contexto cultural da comunidade (e.g. Abes, 2000; Van
Vlaenderen, 2001 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].
Por outro, os artigos com menções implícitas ao conceito
de cultura identificam a necessidade de aproveitar o conhe-
cimento local / indígena (McDuff, 2001 cit in Chouinard e
Hopson, 2015) [2], compreender o contexto local e dar voz
aos participantes e abordar as questões de poder (Mullinix
e Akatsa-Bukachi, 1998 cit in Chouinard e Hopson, 2015)
[2], não havendo menção de cultura ou implicações cultu-
rais da
avaliação.Deuma forma geral, neste tipo de estudos
não existe qualquer alusão à cultura ou às implicações cul-
turais das abordagens metodológicas e epistemológicas da
avaliação. Este continuum é considerado reflexo da com-
plexidade das práticas avaliativas nos contextos de desen-
volvimento internacional e dos desafios de alterar meto-
dologias Ocidentais em contextos não-Ocidentais (Smith,
2009 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].
(b) A crítica cultural da prática participativa no desenvol-
vimento internacional. A revisão identificou uma grande
variedade de programas, contextos geográficos e culturais,
abordagens avaliativas e resultados, reforçando a necessida-
de de perceber o contexto e as suas variabilidades na avalia-
ção do desenvolvimento internacional.
(c) Os limites das epistemologias de construtivismo social
e representações de voz. A maioria dos estudos da revisão
usou uma abordagem participativa ou colaborativa na ava-
liação, uma abordagem interativa da pesquisa social que ul-
trapassa o empirismo tradicional e está enraizada em episte-
mologias derivadas da teoria social construtivista (Heron &
Rason, 1997 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].Ou seja,
os relacionamentos dos atores chave, do avaliador e do doa-
dor são socialmente construídos antes da avaliação (ou do
projeto de desenvolvimento) e, portanto, devem ser enten-
didos nesta narrativa histórica, cultural, política e econó-
mica mais ampla. As avaliações acontecem envolvidas por
meta-narrativas (Lyotard, 1979 cit in Chouinard e Hopson,
2015) [2] do Norte e do Sul, países desenvolvidos vs. paí-
ses em desenvolvimento, que servem para criar, decretar e
reinscrever discursos coloniais e processos e práticas socio-
-históricos em
curso.Ouseja, a discussão acerca da inclusão
da cultura na avaliação do desenvolvimento internacional
deve ir muito além dos descritores demográficos e integrar
preocupações epistemológicas e ontológicas sobre quem
está envolvido na construção do conhecimento, como são
definidos os parâmetros do que é considerado conhecimen-
to e quais as formas de conhecimento validadas e valoriza-
das.
(d)Avaliação como uma prática
cultural.Asavaliações con-
tinuam a refletir as perspetivas, normas e valores Ociden-
tais (Bhola, 2003 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2], o
que é considerado por muitos como “
reducionista, linear, ob-
jetivo, hierárquico, empírico, estático, temporal, singular, especiali-
zado e escrito
” (Smylie et al 2003 cit in Chouinard e Hopson,
2015) [2].
(e) Envolvimento cultural e papel multifacetado do avalia-
dor. Na avaliação, o papel do avaliador é considerado uma
construção dinâmica e fluída (Kushner, 2000 cit in Chou-
inard e Hopson, 2015) [2] caracterizada por múltiplas di-
mensões (e.g., facilitador, mediador, parceiro, observador,
juiz) e continuamente alterada e transformada pelas espe-
cificidades socioculturais do programa e contexto comuni-
tário.A revisão sugere que o conceito de papel assume um
significado particular em ambientes cultural e socio-poli-
ticamente complexos, pois os avaliadores devem assumir
múltiplos papéis, que se revelammuitas vezes conflituantes
à medida que a avaliação decorre (Hamilton et al., 2000 ;
Laperrière, 2006 ; Parkinson, 2009 ; von Bertrab & Zam-
brano, 2010 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].
3.
Descolonização e indigenização
das práticas avaliativas emÁfrica
A avaliação é sobre valores, e o que é avaliado depende da
forma como a realidade é percebida, o que é considerado
conhecimento válido, e para quem esse conhecimento é vá-
lido [16].
Segundo a Teoria da Árvore
(Theory Tree)
descrita no livro
Evaluation Roots
de Alkin [17,18] a avaliação contém três
ramos principais:
métodos
– ramo em que os teóricos
estão particularmente preocupados com a construção o
mais rigorosa possível do conhecimento, considerando os
constrangimentos específicos dessa avaliação;
valoriza-
ção
– ramo inicialmente inspirado por Scriven (1967 cit in