Table of Contents Table of Contents
Previous Page  34 / 119 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 34 / 119 Next Page
Page Background

S34

Artigo Original

avaliação em contextos de desenvolvimento interna-

cional publicados nos últimos 18 anos, explorando

onde, como, e se a cultura é considerada nos estudos

de avaliação internacionais publicados. Especificamen-

te, analisaram os conceitos e definições de cultura em

contextos de desenvolvimento internacional e como os

profissionais de avaliação, académicos e / ou formula-

dores de políticas que trabalham na avaliação de desen-

volvimento internacional enquadram o papel da cultura

e do contexto cultural na sua prática.

Da análise resultou a identificação de cinco áreas:

(a) A manifestação da cultura ao longo de um conti-

nuum de explícito para implícito.

Por um lado, os estudos com menções explícitas ao

conceito de cultura ultrapassam o foco nas práticas par-

ticipativas e inclusivas dos atores chave, destacando uma

abordagem de avaliação sensível aos valores e contex-

tos culturais. Muitos desses estudos também abordam

questões de poder, com foco no desenvolvimento de

abordagens metodológicas culturalmente relevantes

que reflitam possíveis viés e pressupostos culturais por par-

te do avaliador ou pesquisador. Para além das abordagens

participativas, este tipo de estudos também descreve a ne-

cessidade de fundamentar a avaliação e os métodos segundo

o contexto cultural da comunidade (e.g. Abes, 2000; Van

Vlaenderen, 2001 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].

Por outro, os artigos com menções implícitas ao conceito

de cultura identificam a necessidade de aproveitar o conhe-

cimento local / indígena (McDuff, 2001 cit in Chouinard e

Hopson, 2015) [2], compreender o contexto local e dar voz

aos participantes e abordar as questões de poder (Mullinix

e Akatsa-Bukachi, 1998 cit in Chouinard e Hopson, 2015)

[2], não havendo menção de cultura ou implicações cultu-

rais da

avaliação.De

uma forma geral, neste tipo de estudos

não existe qualquer alusão à cultura ou às implicações cul-

turais das abordagens metodológicas e epistemológicas da

avaliação. Este continuum é considerado reflexo da com-

plexidade das práticas avaliativas nos contextos de desen-

volvimento internacional e dos desafios de alterar meto-

dologias Ocidentais em contextos não-Ocidentais (Smith,

2009 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].

(b) A crítica cultural da prática participativa no desenvol-

vimento internacional. A revisão identificou uma grande

variedade de programas, contextos geográficos e culturais,

abordagens avaliativas e resultados, reforçando a necessida-

de de perceber o contexto e as suas variabilidades na avalia-

ção do desenvolvimento internacional.

(c) Os limites das epistemologias de construtivismo social

e representações de voz. A maioria dos estudos da revisão

usou uma abordagem participativa ou colaborativa na ava-

liação, uma abordagem interativa da pesquisa social que ul-

trapassa o empirismo tradicional e está enraizada em episte-

mologias derivadas da teoria social construtivista (Heron &

Rason, 1997 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].Ou seja,

os relacionamentos dos atores chave, do avaliador e do doa-

dor são socialmente construídos antes da avaliação (ou do

projeto de desenvolvimento) e, portanto, devem ser enten-

didos nesta narrativa histórica, cultural, política e econó-

mica mais ampla. As avaliações acontecem envolvidas por

meta-narrativas (Lyotard, 1979 cit in Chouinard e Hopson,

2015) [2] do Norte e do Sul, países desenvolvidos vs. paí-

ses em desenvolvimento, que servem para criar, decretar e

reinscrever discursos coloniais e processos e práticas socio-

-históricos em

curso.Ou

seja, a discussão acerca da inclusão

da cultura na avaliação do desenvolvimento internacional

deve ir muito além dos descritores demográficos e integrar

preocupações epistemológicas e ontológicas sobre quem

está envolvido na construção do conhecimento, como são

definidos os parâmetros do que é considerado conhecimen-

to e quais as formas de conhecimento validadas e valoriza-

das.

(d)Avaliação como uma prática

cultural.As

avaliações con-

tinuam a refletir as perspetivas, normas e valores Ociden-

tais (Bhola, 2003 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2], o

que é considerado por muitos como “

reducionista, linear, ob-

jetivo, hierárquico, empírico, estático, temporal, singular, especiali-

zado e escrito

” (Smylie et al 2003 cit in Chouinard e Hopson,

2015) [2].

(e) Envolvimento cultural e papel multifacetado do avalia-

dor. Na avaliação, o papel do avaliador é considerado uma

construção dinâmica e fluída (Kushner, 2000 cit in Chou-

inard e Hopson, 2015) [2] caracterizada por múltiplas di-

mensões (e.g., facilitador, mediador, parceiro, observador,

juiz) e continuamente alterada e transformada pelas espe-

cificidades socioculturais do programa e contexto comuni-

tário.A revisão sugere que o conceito de papel assume um

significado particular em ambientes cultural e socio-poli-

ticamente complexos, pois os avaliadores devem assumir

múltiplos papéis, que se revelammuitas vezes conflituantes

à medida que a avaliação decorre (Hamilton et al., 2000 ;

Laperrière, 2006 ; Parkinson, 2009 ; von Bertrab & Zam-

brano, 2010 cit in Chouinard e Hopson, 2015) [2].

3.

Descolonização e indigenização

das práticas avaliativas emÁfrica

A avaliação é sobre valores, e o que é avaliado depende da

forma como a realidade é percebida, o que é considerado

conhecimento válido, e para quem esse conhecimento é vá-

lido [16].

Segundo a Teoria da Árvore

(Theory Tree)

descrita no livro

Evaluation Roots

de Alkin [17,18] a avaliação contém três

ramos principais:

métodos

– ramo em que os teóricos

estão particularmente preocupados com a construção o

mais rigorosa possível do conhecimento, considerando os

constrangimentos específicos dessa avaliação;

valoriza-

ção

– ramo inicialmente inspirado por Scriven (1967 cit in