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S23

A n a i s d o I HM T

1 - Relação entre o percentual do total dos rendimentos apropriados pelos 10%

com maiores rendimentos sobre o percentual do total dos rendimentos apropriados

pelos 40% com menores rendimentos.

ficar avanços importantes da situação de saúde (como a

melhoria da expectativa de vida, controlo de doenças

imunopreviníveis, doenças respiratórias, SIDA, tuber-

culose, entre outros) [15], assim como progressos na

organização do sistema (como a expansão da atenção

primária e melhoria do acesso às emergências, univer-

salização da cobertura vacinal, expansão de recursos

tecnológicos e de produção de medicamentos essen-

ciais, entre outros) [16]. Ao mesmo tempo, assinalava-

-se o subfinanciamento crónico do sistema público alia-

do ao crescimento do mercado privado de saúde subsi-

diado pelo Estado, limites importantes na garantia da

universalidade, equidade e sustentabilidade do sistema

a longo prazo [16].

Com relação à equidade, indicadores que mensuram

desigualdades em saúde mostraram melhoria impor-

tante entre a década de 90 e o início dos anos 2000.

Segundo o IBGE, o índice de Gini foi estimado em 0,56

no período 2010-2013, e girava em torno de 0,6 no

início dos anos 90. Ainda assim, o país ocupa a décima

posição mundial em desigualdade. O índice de Palma,

utilizado internacionalmente

1

, reduziu de 4,3 para 3,1

entre 2004 e 2014 [17]. Entretanto, há fortes indícios

que a situação esteja piorando em anos mais recentes. O

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por exem-

plo, estabilizou em 2014 fazendo o Brasil ocupar a 79ª

posição no

ranking

mundial [18], a parcela de brasileiros

abaixo da linha da pobreza aumentou pelo segundo ano

consecutivo em 2016 e o índice de Gini teve a primeira

elevação (0,52) após muitos anos de tendência a me-

lhoria. A pobreza subiu 19,3% apenas no ano de 2015

sendo que enquanto a média de renda caiu 7%, para os

5% mais pobres, a queda foi de 14%, ou seja, duas vezes

mais [19].

A tendência em piorar dos indicadores não surpreende,

diante da crise que o país atravessa e da redução dos

investimentos nas áreas sociais, com efeitos negativos

na situação de vida e saúde das populações, especial-

mente as mais vulneráveis, como alertam especialistas

no assunto [20]. A crise económica, política, social e

institucional trouxe consigo “

intensificação de tensões e

conflitos relacionados a questões de g

é

nero, raça/etnia e, em

última instância, a vigência da luta de classe, acirrada, nesta

conjuntura, pela insatisfação da elite com os resultados das

políticas de combate à pobreza e inclusão social desenvolvidas

nos últimos 13 anos

” [21].

No final do ano de 2016 foi publicado um número es-

pecial do

International Journal for Equity in Health

cujo

objetivo era apresentar um panorama da situação bra-

sileira em relação às iniquidades em saúde, a partir de

dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013). As

principais conclusões apontaram para melhoria de in-

dicadores relacionados com as condições de saúde da

população, com redução de iniquidades no que tange à

saúde materna e reprodutiva e à realização de consul-

ta médica e odontológica. Por outro lado, chamava a

atenção para a desaceleração dos progressos no acesso

a serviços de saúde, a partir de 2008, e a permanência

de desigualdades em saúde, mesmo em situações onde

foram evidenciadas melhorias (como em relação à saú-

de do idoso) e até piora em alguns casos, como a ocor-

rência de diabetes, com a tendência de ampliação de

disparidades ao longo do tempo [22].

3. A experiência do Observatório de

Análise Política em Saúde (OAPS)

O Observatório de Análise Política em Saúde foi im-

plantado em 2015, sendo constituído por uma rede de

pesquisadores de Planejamento e Gestão em Saúde no

Brasil, vinculados a mais de 15 instituições de pesquisa,

liderado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universi-

dade Federal da Bahia (ISC-UFBA).

Origens e fundamentos

O OAPS (http://observatoriodeanalisepoliticaem-

saude.org)

resultou de uma proposta que concorreu a

um Edital do Conselho Naciona de Desenvolvimento

Científico eTecnológico (CNPq) [23] elaborada por do-

centes e pesquisadores do ISC/UFBA, juntamente com

parceiros de outros centros de pesquisa, ensino e coo-

peração técnica do país, integrando o ProjetoAnálise de

Políticas de Saúde no Brasil (2013-2017).

A missão do Observatório é “

proporcionar um espaço de

reflexão e análise crítica das políticas de saúde no Brasil

”,

pautando-se em quatro princípios fundamentais: “

com-

prometimento com a defesa da saúde enquanto direito das pes-

soas e da cidadania como princípio da relação dos indivíduos

com o Estado

”; “

compromisso com a construção e fortalecimen-

to de sistemas universais de saúde, de natureza pública basea-

dos nos princípios da solidariedade, equidade, universalidade

e integralidade da atenção à saúde

”; “

produção de um pensa-

mento crítico sobre a realidade, alicerçado em bases científicas

e eticamente responsáveis

” e “

autonomia de pensamento em

relação a interesses de grupos ou instituições

” [24].

O OAPS se organiza em 12 eixos temáticos de pesqui-

sa, por referência às políticas específicas que acompa-

nha e sobre as quais são recortados os objetos de in-

vestigação

2

. Foram definidos sete objetivos centrais:

“a)

realizar o acompanhamento de políticas de saúde selecionadas;

b) promover o debate fundamentado sobre decisões no âmbito

de políticas de saúde específicas; c) sistematizar a produção de