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Artigo Original
próprio se estende por meses e até anos. O desafio de implantar
o site do OAPS representou, portanto, uma oportunidade para
se trabalhar com outra dimensão temporal, um tempo com-
primido, acelerado, com o propósito de oferecer aos usuários,
o mais rápido possível, os resultados do trabalho cotidiano do
conjunto de pesquisadores envolvidos no acompanhamento do
processo político em saúde
(…)”.
4. OAPS: uma ferramenta para
o SUS em prol da equidade em saúde?
Neste tópico procura argumentar-se que o OAPS se
constitui, conforma e organiza como uma rede de pes-
quisadores que se materializa numa ferramenta virtual
com potência distintiva em prol da defesa da equidade
em saúde.
A criação do OAPS é consentânea com recentes inicia-
tivas de âmbito internacional que resultaram na emer-
gência de Observatórios de Saúde. Entre os propósitos
dessas iniciativas destaca-se o de realizar análises e sis-
tematizar informações de saúde de alto nível, produ-
zindo uma “inteligência” sobre questões críticas e atuais
da saúde da população e seus determinantes, ao mesmo
tempo que, também, pretende reduzir as lacunas exis-
tentes entre aAcademia e decisores políticos [13].Além
disso, os observatórios produzem dados e informações
para a formulação de políticas públicas, podendo in-
cluir a análise, a crítica, a síntese e a intervenção [30].
A sua missão pode concentrar-se no desenvolvimento
de políticas de saúde, contribuindo para aqueles que fa-
zem ou influenciam tais políticas [31].Assim, é comum
verificar uma vinculação a instituição governamental,
mesmo contando com o apoio de universidades com
troca de experiências e disseminação de métodos e re-
sultados. No caso do National Health Service (NHS),
por exemplo, os observatórios foram inseridos numa
agência governamental de Saúde Pública [32]. Recen-
temente, nos Estados Unidos foi organizado um obser-
vatório de saúde, sob a orientação académica do De-
partamento de Epidemiologia e do Instituto de Saúde
Urbana da Johns Hopkins Bloomberg School of Public
Health (BSPH), articulando a formação profissional em
Saúde Pública numa plataforma para o ensino e pesqui-
sa, e oferecendo uma infraestrutura física e metodoló-
gica para alunos, docentes e parceiros [33].
No Brasil, também é possível identificar observatórios
vinculados a órgãos de governo, como a Rede Obser-
vaRH, ligada ao Ministério da Saúde (http://www.
observarh.org.br/), e outros inseridos em ambiente
académico, a exemplo do Observatório de Saúde Ur-
bana de Belo Horizonte (OSUBH), com objetivos liga-
dos à pesquisa e ao planejamento de saúde [34]. Nessa
perspetiva, os observatórios de saúde têm ressaltado a
problemática das desigualdades em saúde, fornecendo
informações que contribuam para a formulação de po-
líticas baseadas em evidências [35].
Embora inspirado em experiências internacionais –
especialmente o Observatório Europeu de Sistemas
e Políticas de Saúde
(http://www.euro.who.int/en/about-us/partners/observatory) e o Observatório Ibe-
roamericano de Políticas e Sistemas de Saúde (http://
www.oiapss.org) – o OAPS caracteriza-se pela sua não
vinculação a instituição governamental. Ao inserir-se
numa universidade pública, articulando uma rede de
pesquisadores de diferentes centros de investigação e de
ensino, goza de uma autonomia relativa que lhe permite
o exercício de uma crítica fundamentada, respeitando
os padrões de rigor académico e de ética, e a capacida-
de propositiva no âmbito das políticas e da gestão em
saúde.
No tocante à questão das desigualdades em saúde, ao
estabelecer-se como um ente portador de autonomia
relativa e pensamento plural, o OAPS constitui-se
numa ferramenta muito potente para lidar com as ques-
tões de pesquisa, com a prática da investigação, com a
difusão de resultados, com a análise política em saúde
e com o estudo de políticas de saúde, tendo como foco
a equidade.
5. Discussão
O primeiro ponto que merece uma reflexão diz res-
peito à mencionada autonomia relativa por referência
ao campo político, tal como concebido na aceção bour-
dieusiana [36]. Tal construção permite o exercício do
pensamento crítico científico ou, em outros termos,
a produção de análises das tomadas de posição dos
agentes do campo político com independência relati-
va
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. Ademais, agrega-se a esta possibilidade uma outra,
potenciadora da primeira, qual seja, a diversidade de
pontos de vista (a partir das respetivas posições) dos
agentes do campo científico (pesquisadores), portado-
res, estes, de diferentes trajetórias e experiências insti-
tucionais. Como agentes do espaço da Saúde Coletiva
que transitam tanto no campo político quanto no cam-
po científico [37], são potencialmente portadores de vi-
sões distintas (não necessariamente conflituantes), não
apenas por suas diferentes inserções no campo político
mas, também, por suas afinidades e tradições epistemo-
lógicas, teóricas e metodológicas. Vale a pena lembrar
que, apesar de tais distinções, este corpo de pesquisado-
res se estrutura em corpo pelo
habitus
científico e pela
pertença ao espaço da Saúde Coletiva.
Um segundo ponto a problematizar diz respeito aos
processos de gestão e de trabalho dos pesquisadores
do OAPS. Nesse aspeto particular, toma-se como re-