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S26

Artigo Original

próprio se estende por meses e até anos. O desafio de implantar

o site do OAPS representou, portanto, uma oportunidade para

se trabalhar com outra dimensão temporal, um tempo com-

primido, acelerado, com o propósito de oferecer aos usuários,

o mais rápido possível, os resultados do trabalho cotidiano do

conjunto de pesquisadores envolvidos no acompanhamento do

processo político em saúde

(…)”.

4. OAPS: uma ferramenta para

o SUS em prol da equidade em saúde?

Neste tópico procura argumentar-se que o OAPS se

constitui, conforma e organiza como uma rede de pes-

quisadores que se materializa numa ferramenta virtual

com potência distintiva em prol da defesa da equidade

em saúde.

A criação do OAPS é consentânea com recentes inicia-

tivas de âmbito internacional que resultaram na emer-

gência de Observatórios de Saúde. Entre os propósitos

dessas iniciativas destaca-se o de realizar análises e sis-

tematizar informações de saúde de alto nível, produ-

zindo uma “inteligência” sobre questões críticas e atuais

da saúde da população e seus determinantes, ao mesmo

tempo que, também, pretende reduzir as lacunas exis-

tentes entre aAcademia e decisores políticos [13].Além

disso, os observatórios produzem dados e informações

para a formulação de políticas públicas, podendo in-

cluir a análise, a crítica, a síntese e a intervenção [30].

A sua missão pode concentrar-se no desenvolvimento

de políticas de saúde, contribuindo para aqueles que fa-

zem ou influenciam tais políticas [31].Assim, é comum

verificar uma vinculação a instituição governamental,

mesmo contando com o apoio de universidades com

troca de experiências e disseminação de métodos e re-

sultados. No caso do National Health Service (NHS),

por exemplo, os observatórios foram inseridos numa

agência governamental de Saúde Pública [32]. Recen-

temente, nos Estados Unidos foi organizado um obser-

vatório de saúde, sob a orientação académica do De-

partamento de Epidemiologia e do Instituto de Saúde

Urbana da Johns Hopkins Bloomberg School of Public

Health (BSPH), articulando a formação profissional em

Saúde Pública numa plataforma para o ensino e pesqui-

sa, e oferecendo uma infraestrutura física e metodoló-

gica para alunos, docentes e parceiros [33].

No Brasil, também é possível identificar observatórios

vinculados a órgãos de governo, como a Rede Obser-

vaRH, ligada ao Ministério da Saúde (http://www.

observarh.org.br/)

, e outros inseridos em ambiente

académico, a exemplo do Observatório de Saúde Ur-

bana de Belo Horizonte (OSUBH), com objetivos liga-

dos à pesquisa e ao planejamento de saúde [34]. Nessa

perspetiva, os observatórios de saúde têm ressaltado a

problemática das desigualdades em saúde, fornecendo

informações que contribuam para a formulação de po-

líticas baseadas em evidências [35].

Embora inspirado em experiências internacionais –

especialmente o Observatório Europeu de Sistemas

e Políticas de Saúde

(http://www.euro.who.int/en/

about-us/partners/observatory) e o Observatório Ibe-

roamericano de Políticas e Sistemas de Saúde (http://

www.oiapss.org

) – o OAPS caracteriza-se pela sua não

vinculação a instituição governamental. Ao inserir-se

numa universidade pública, articulando uma rede de

pesquisadores de diferentes centros de investigação e de

ensino, goza de uma autonomia relativa que lhe permite

o exercício de uma crítica fundamentada, respeitando

os padrões de rigor académico e de ética, e a capacida-

de propositiva no âmbito das políticas e da gestão em

saúde.

No tocante à questão das desigualdades em saúde, ao

estabelecer-se como um ente portador de autonomia

relativa e pensamento plural, o OAPS constitui-se

numa ferramenta muito potente para lidar com as ques-

tões de pesquisa, com a prática da investigação, com a

difusão de resultados, com a análise política em saúde

e com o estudo de políticas de saúde, tendo como foco

a equidade.

5. Discussão

O primeiro ponto que merece uma reflexão diz res-

peito à mencionada autonomia relativa por referência

ao campo político, tal como concebido na aceção bour-

dieusiana [36]. Tal construção permite o exercício do

pensamento crítico científico ou, em outros termos,

a produção de análises das tomadas de posição dos

agentes do campo político com independência relati-

va

4

. Ademais, agrega-se a esta possibilidade uma outra,

potenciadora da primeira, qual seja, a diversidade de

pontos de vista (a partir das respetivas posições) dos

agentes do campo científico (pesquisadores), portado-

res, estes, de diferentes trajetórias e experiências insti-

tucionais. Como agentes do espaço da Saúde Coletiva

que transitam tanto no campo político quanto no cam-

po científico [37], são potencialmente portadores de vi-

sões distintas (não necessariamente conflituantes), não

apenas por suas diferentes inserções no campo político

mas, também, por suas afinidades e tradições epistemo-

lógicas, teóricas e metodológicas. Vale a pena lembrar

que, apesar de tais distinções, este corpo de pesquisado-

res se estrutura em corpo pelo

habitus

científico e pela

pertença ao espaço da Saúde Coletiva.

Um segundo ponto a problematizar diz respeito aos

processos de gestão e de trabalho dos pesquisadores

do OAPS. Nesse aspeto particular, toma-se como re-