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Artigo Original
quando se pretende ampliar o conhecimento sobre a coerência
teórica das intervenções e sua operacionalização, para o apri-
moramento das políticas a elas relacionadas (Champagne et al.
2011).
A necessidade de compreender o‘como’ e o‘porquê’, nessa re-
montagem da teoria à prática, constitui-se, assim, aqui também
linha mestra das investigações analisadas, tornando-se uma va-
liosa contribuição para o conjunto de profissionais nelas envolvi-
dos.Asmetodologias mais apropriadas para analisar a implanta-
ção de um programa são, sobretudo, os estudos de casos (Yin &
Davis, 2007), métodos de avaliação rápida (Hargreaves, 2014) e
outras abordagens utilizadas na avaliação desenvolvimental (Rey,
2011; Rey et al, 2014 Ramirez et al. 2015).
A validade interna relaciona-se com as teorias de mudança,
associadas aos processos-efeitos esperados e construídas com
os atores no processo de modelização da intervenção, quando
devidamente contextualizada. A validade externa não decorre
da extrapolação de resultados, e sim da transversalidade com
que os planos conceituais, fundamentando e contextualizando
as questões avaliativas, explicitam mecanismos facilitadores e
obstáculos comuns, relacionados aos resultados das ações ob-
servadas no cotidiano dos sistemas de saúde (Champagne et al,
2011;Valters, 2014;Walker, 2015; Mayne & Johnson, 2015).
Nesse sentido, os problemas e indagações estudados não são ex-
clusivos dos programas ou serviços analisados, mas perpassam
quase todas as práticas, intervenções e objetos dos atores inte-
ressados na avaliação em diversos contextos. Essa inferência se
exemplifica com algumas questões tratadas nos livros referidos
na bibliografia:
•
Qual o grau de implementação de um programa conside-
rando-se a categoria ‘acesso’, de modo a incluir as dimensões
da disponibilidade, aceitabilidade e responsividade (respeito à
autonomia, dignidade e privacidade dos usuários) nos serviços
oferecidos?
•
Como o ‘acesso’ na assistência farmacêutica pode estar es-
truturalmente relacionado com o
grau de satisfação dos usuários?
•
Qual a influência da autonomia
(política, técnica, financeira e ge-
rencial/administrativa), observa-
da na universalização do acesso da
população às ações programáticas
locais?
•
Como implantar um projeto de
monitoramento, apropriado para
a realidade local, com foco na uti-
lidade intencional (mudanças ou
consequências esperadas das inter-
venções)?
•
Qual o grau de implantação
de um núcleo descentralizado e re-
gionalizado de vigilância da saúde,
considerando os diferentes compo-
nentes técnicos, atividades desen-
volvidas e o contexto onde são realizadas, com o propósito de
melhor explorar seus efeitos operacionais?
•
Como o formato e o grau de implantação local de uma estra-
tégia “Saúde da Família” estão associados à baixa integração dos
diversos programas de saúde?
•
Como as taxas de abandono e outros problemas associados
aos sistemas de informação e supervisão de um programa,
concomitantes à implantação de um tratamento inovador com
evidências de maior eficácia clínica, podem comprometer sua
eficiência (custo-efetividade)?
•
Por que/como as escolhas de compras e incorporação de tec-
nologias – como antigos e novos medicamentos – realizadas pe-
los programas – são capazes de impactar positivamente a capa-
citação industrial e tecnológica futura do país para o suprimento
desses medicamentos?
Sem pretender antecipar as respostas dadas pelos autores
para estas e muitas outras questões formuladas, de modo que
possam constituir-se um convite às suas leituras, é possível
inferir seu grande potencial de utilização, pois o campo da
avaliação tem enfrentado sérios problemas para que o conhe-
cimento produzido se traduza em ações concretas pelos inte-
ressados no conjunto de políticas públicas, sendo uma das ra-
zões o distanciamento entre as práticas ditas académicas e as
assistenciais. Os estudos da área se caracterizam na maioria
das vezes por uma linguagem de difícil compreensão, refle-
tindo-se em objetos teorizados sem observações empíricas
e/ou de pouca relevância até para os serviços estudados.
Assim sendo, a análise da implantação de uma intervenção
tem como um dos seus nós críticos, e também seu potencial
mérito, mais do que a passagem do discurso de uma política
à sua prática, a perspetiva de uma outra travessia similar mais
dotada de maior ambição: a articulação da teoria/conheci-
mento com as ações desejáveis.
Figura 3
– Exemplo de modelo para análise de implantação