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S84

Artigo Original

quando se pretende ampliar o conhecimento sobre a coerência

teórica das intervenções e sua operacionalização, para o apri-

moramento das políticas a elas relacionadas (Champagne et al.

2011).

A necessidade de compreender o‘como’ e o‘porquê’, nessa re-

montagem da teoria à prática, constitui-se, assim, aqui também

linha mestra das investigações analisadas, tornando-se uma va-

liosa contribuição para o conjunto de profissionais nelas envolvi-

dos.As

metodologias mais apropriadas para analisar a implanta-

ção de um programa são, sobretudo, os estudos de casos (Yin &

Davis, 2007), métodos de avaliação rápida (Hargreaves, 2014) e

outras abordagens utilizadas na avaliação desenvolvimental (Rey,

2011; Rey et al, 2014 Ramirez et al. 2015).

A validade interna relaciona-se com as teorias de mudança,

associadas aos processos-efeitos esperados e construídas com

os atores no processo de modelização da intervenção, quando

devidamente contextualizada. A validade externa não decorre

da extrapolação de resultados, e sim da transversalidade com

que os planos conceituais, fundamentando e contextualizando

as questões avaliativas, explicitam mecanismos facilitadores e

obstáculos comuns, relacionados aos resultados das ações ob-

servadas no cotidiano dos sistemas de saúde (Champagne et al,

2011;Valters, 2014;Walker, 2015; Mayne & Johnson, 2015).

Nesse sentido, os problemas e indagações estudados não são ex-

clusivos dos programas ou serviços analisados, mas perpassam

quase todas as práticas, intervenções e objetos dos atores inte-

ressados na avaliação em diversos contextos. Essa inferência se

exemplifica com algumas questões tratadas nos livros referidos

na bibliografia:

Qual o grau de implementação de um programa conside-

rando-se a categoria ‘acesso’, de modo a incluir as dimensões

da disponibilidade, aceitabilidade e responsividade (respeito à

autonomia, dignidade e privacidade dos usuários) nos serviços

oferecidos?

Como o ‘acesso’ na assistência farmacêutica pode estar es-

truturalmente relacionado com o

grau de satisfação dos usuários?

Qual a influência da autonomia

(política, técnica, financeira e ge-

rencial/administrativa), observa-

da na universalização do acesso da

população às ações programáticas

locais?

Como implantar um projeto de

monitoramento, apropriado para

a realidade local, com foco na uti-

lidade intencional (mudanças ou

consequências esperadas das inter-

venções)?

Qual o grau de implantação

de um núcleo descentralizado e re-

gionalizado de vigilância da saúde,

considerando os diferentes compo-

nentes técnicos, atividades desen-

volvidas e o contexto onde são realizadas, com o propósito de

melhor explorar seus efeitos operacionais?

Como o formato e o grau de implantação local de uma estra-

tégia “Saúde da Família” estão associados à baixa integração dos

diversos programas de saúde?

Como as taxas de abandono e outros problemas associados

aos sistemas de informação e supervisão de um programa,

concomitantes à implantação de um tratamento inovador com

evidências de maior eficácia clínica, podem comprometer sua

eficiência (custo-efetividade)?

Por que/como as escolhas de compras e incorporação de tec-

nologias – como antigos e novos medicamentos – realizadas pe-

los programas – são capazes de impactar positivamente a capa-

citação industrial e tecnológica futura do país para o suprimento

desses medicamentos?

Sem pretender antecipar as respostas dadas pelos autores

para estas e muitas outras questões formuladas, de modo que

possam constituir-se um convite às suas leituras, é possível

inferir seu grande potencial de utilização, pois o campo da

avaliação tem enfrentado sérios problemas para que o conhe-

cimento produzido se traduza em ações concretas pelos inte-

ressados no conjunto de políticas públicas, sendo uma das ra-

zões o distanciamento entre as práticas ditas académicas e as

assistenciais. Os estudos da área se caracterizam na maioria

das vezes por uma linguagem de difícil compreensão, refle-

tindo-se em objetos teorizados sem observações empíricas

e/ou de pouca relevância até para os serviços estudados.

Assim sendo, a análise da implantação de uma intervenção

tem como um dos seus nós críticos, e também seu potencial

mérito, mais do que a passagem do discurso de uma política

à sua prática, a perspetiva de uma outra travessia similar mais

dotada de maior ambição: a articulação da teoria/conheci-

mento com as ações desejáveis.

Figura 3

– Exemplo de modelo para análise de implantação