Table of Contents Table of Contents
Previous Page  84 / 108 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 84 / 108 Next Page
Page Background

S82

Artigo Original

1 - Introdução

“O desenvolvimento de capacidades no campo da avalia-

ção é visto como parte do esforço mais amplo para me-

lhorar a formulação de políticas públicas para alcançar as

metas de desenvolvimento…A avaliação pode contribuir

para melhorar a planificação e gestão das intervenções de

desenvolvimento, para melhorar a eficácia e os sistemas

de prestação de contas internos nos países parceiros”.

Manuela Afonso 2015

O fortalecimento de capacidades avaliativas tem estado no

centro das agendas dos organismos de cooperação nos úl-

timos 10 anos, particularmente em 2015 considerado Ano

Internacional da Avaliação, mas, mesmo assim, a sua institu-

cionalização governamental é ainda muito baixa nos países

em desenvolvimento. Neste artigo descrevemos as principais

diretrizes de uma proposta de formação baseada na tipologia

canadense de avaliação normativa e pesquisa avaliativa, com

foco no modelo da análise da implementação (Hartz, 1997;

Hartz eVieira da Silva 2005; Broussele et al. 2011; Santos e

Cruz, 2015), que possa ser aplicada ao PECS no âmbito da

CPLP. Nosso propósito é também contribuir para desen-

volver capacidades em monitoramento e avaliação (M&A)

de desempenho ou performance dos sistemas nacionais de

saúde, considerando o contexto político-decisório de uma

estruturação governamental por programas e uma gestão

orientada por resultados (Hartz, 2008; Hartz e Ferrinho

2011).

2 - Conceitos e métodos para avaliar

a implementação das intervenções

em saúde

“Quando se concebe a avaliação de uma intervenção

como um dispositivo que contribui não apenas para for-

necer informações científicamente fundamentadas so-

bre uma intervenção, mas também como um dispositivo

de aprendizagem cuja forma é, ela própria, resultado de

negociações e debates… ela está assim apta a desempe-

nhar um papel importante na governança e na melhoria

contínua das intervenções dos sistemas de saúde”.

Contandriopoulos, 2011

Sem pretender que exista um amplo consenso sobre o con-

ceito de avaliação, em nossa tipologia avaliar consiste funda-

mentalmente em fazer um julgamento de valor a respeito de

uma intervenção ou sobre qualquer um de seus componen-

tes, com o objetivo de ajudar na tomada de decisões. Este

julgamento pode ser resultado da aplicação de critérios e

de normas (avaliação normativa) ou se elaborar a partir de

um procedimento científico (pesquisa avaliativa). Para con-

tinuarmos avançando na compreensão dessa abordagem, de-

vemos precisar também o que entendemos por intervenção

e ela é aqui considerada como o conjunto dos meios (físicos,

humanos, financeiros, simbólicos) organizados num contex-

to específico, num dado momento, para produzir bens ou

serviços com o objetivo de modificar uma situação proble-

mática em saúde. Esta intervenção é caracterizada em seus

cinco componentes pelos objetivos, recursos, serviços, bens

ou atividades, efeitos e contexto mas também por seus ato-

res

(figura 1)

.

Ela pode ser uma técnica (por exemplo, um

kit

pedagógico

para melhorar os conhecimentos), um teste para detectar

más formações fetais, um programa de gerência em reani-

mação, um tratamento (ato ou um conjunto de atos), uma

prática (protocolo de tratamento), uma organização (centro

de desintoxicação ou unidade de tratamento), um programa

(desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos, preven-

ção das doenças transmitidas sexualmente) ou uma política

de promoção da saúde, da privatização, etc.

É necessário compreender ainda que não podemos falar de

uma intervenção sem levar em conta os diferentes atores

que ela envolve. São eles que dão sua forma particular num

dado momento e contexto. De facto, cada um dos atores

pode ter seus próprios objetivos em relação à intervenção, e

portanto é preciso entender que os objetivos de uma avalia-

ção são numerosos, que eles podem ser oficiais ou oficiosos,

explícitos ou implícitos, consensuais ou conflitantes, aceites

por todos os atores ou somente por alguns. Os objetivos ofi-

ciais de uma avaliação são de quatro tipos:

• ajudar no planejamento e na elaboração de uma interven-

ção (estratégico);

• fornecer informação para melhorar uma intervenção no

seu decorrer (formativo);

• determinar os efeitos de uma intervenção para decidir se

ela deve ser mantida, transformada de forma importante ou

interrompida (somativo);

Figura 1- A INTERVENÇÃO E SEUS ATORES

SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA

Objetivos

Efeitos

Serviços

Recursos

CONTEXTO

Administradores/gestores

Avaliadores

Usuários /pacientes

Pessoal

Profissionais

População

Pagantes

Cidadãos e seus representantes

Planejadores

Figura 1

– A intervenção e seus atores