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Artigo Original
Introdução
A tuberculose continua a ser um dos maiores problemas de saú-
de pública em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS), um terço da população mundial (cerca de 2
biliões de pessoas) está infetado com
M. tuberculosis
, estimando-
-se que cerca de 9,6 milhões de pessoas terão desenvolvido tu-
berculose ativa em 2014: 5,4 milhões de homens, 3,2 milhões
de mulheres e 1 milhão de crianças (1). Destes, 12% estavam
coinfetados com o vírus da imunodeficiência humana (VIH).
As taxas mais elevadas de tuberculose (acima de 300/100 000
habitantes/ano) ocorrem na África sub-sahariana e Ásia (1)
(Figura 1). Estima-se que, até 2020, o
M. tuberculosis
irá infetar
aproximadamente 1000 milhões de pessoas, que 150 milhões
irão desenvolver a doença e que 36 milhões morrerão de tuber-
culose (1, 2). Da maior relevância verifica-se que, globalmente,
menos de dois terços dos 9,6 milhões de pessoas com tubercu-
lose ativa (TB) em 2014, foram notificados à OMS. Isso significa
que, em todo omundo, apenas 37%dos novos casos foramdiag-
nosticados e dos 480 000 casos de tuberculose multirresistente
(TB-MR) que ocorreram em 2014, apenas cerca de 123 000
(1/4) foram detetados e notificados (1).
A epidemia deVIH a partir dos anos 80 do século XX aumentou
significativamente o risco de desenvolvimento de tuberculose,
sendo esta a causa de morte mais comum entre os pacientes
com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) a nível
mundial, matando um em cada três pacientes infetados porVIH
(3, 4).A reemergência global da tuberculose está não só relacio-
nada com oVIH, mas também com o aumento de estirpes re-
sistentes aos antibióticos de primeira linha e em particular com
a emergência de estirpes multirresistentes, definidas estas como
estirpes simultaneamente resistentes pelo menos à isoniazida
(INH) e rifampicina (RIF) (2).A propagação destas estirpes tem
sérias repercussões na epidemiologia e controlo da tuberculose,
já que dos quatro antibióticos recomendados, a RIF e INH são
os mais eficazes no tratamento da tuberculose.A INH é o agente
antibacilar mais utilizado e é considerado o agente bactericida
ideal pois é altamente tuberculocida, relativamente pouco tóxi-
co, facilmente administrável e pouco dispendioso. A RIF é um
derivado semi-sintético da rifamicina cuja elevada atividade tu-
berculocida, fez dela igualmente um componente importante
da terapia, diminuindo a duração do tratamento de 1 ano para
6 meses (2, 4). Enquanto a tuberculose provocada por estirpes
monorresistentes à INH ou à RIF pode ser tratada com outros
antibióticos de primeira linha, aTB-MR é mais difícil de tratar
(2).A nível mundial, a OMS estima que até 50 milhões de pes-
soas podem estar infectadas com estirpes de
M.tuberculosis
resis-
tentes a antibióticos e que são diagnosticados em todo o mundo
300 000 novos casos deTBMR por ano sendo que 79% destes
são resistentes a três ou mais antibióticos (2, 5).
O aumento da toxicodependência, a mudança dos perfis popu-
lacionais com a intensa migração de indivíduos de países e/ou
áreas com elevada prevalência de tuberculose, que se concen-
tram em centros urbanos com deficientes condições de salubri-
dade, a guerra e a fome, bem como os fenómenos de exclusão
social e económica, associados a uma ineficiente capacidade de
organização da resposta por parte dos sistemas de saúde em
particular no acesso dos doentes aos fármacos, são apontados
como o conjunto de fatores que potenciam elevadas taxas de
incidência de tuberculose e que se agravam por estarem habi-
tualmente associadas a uma elevada percentagem de casos de
TB-MR. Em 1995, como parte da primeira fase da iniciativa do
Figura 1 – Taxas de incidência de tuberculose ativa estimadas para 2014. Adaptado de (1)
Figura 1
–Taxas de incidência de tuberculose ativa estimadas para 2014.Adaptado de (1)