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inauguração definitiva da Colónia de Itanhenga contando

com a presença do Ministro da Educação e Saúde e de im-

portantes personalidades políticas e civis do cenário estadual

e federal. Nessa oportunidade, João Punaro Bley pronunciou

o seu discurso fazendo uma retrospetiva de seu contato com

o problema da lepra e de como ele foi sensibilizado por Sou-

za-Araujo e Pedro Fontes para a importância de construção

de um leprosário no Estado. Bley discorreu sobre os valores

totais envolvidos na execução da obra tecendo agradecimen-

tos a todos que contribuíram financeiramente ou material-

mente para a sua concretização [3].

Durante o discurso de Gustavo Capanema foram apresen-

tadas as ações realizadas pelo Governo Federal para comba-

ter a lepra no Brasil, até aquele momento. O Ministro fa-

lou sobre o longo caminho a ser percorrido para eliminar

a doença, considerando a estimativa de 50.000 leprosos no

país, afirmando que somente com a Revolução de 1930 foi

possível iniciar, “em todo o paiz, combate seguro, completo

e systematico contra a lepra”. Segundo Capanema, o progra-

ma federal contra a lepra estava baseado em 2 pontos fun-

damentais: a organização da pesquisa e do censo; a monta-

gem do armamento anti-leproso composto pelo leprosário,

dispensário e preventório. A pesquisa estava sendo realizada

pelo Instituto Oswaldo Cruz e pelo Centro Internacional de

Leprologia

8

. O censo da lepra no país estava sendo aprimo-

rado com o objetivo de empreender ações profiláticas contra

a endemia. Quanto ao armamento anti-leproso, o Governo

Federal vinha empreendendo esforços junto aos governos

estaduais, com orientação técnica e fornecendo recursos fi-

nanceiros de acordo com as suas necessidades. Gustavo Ca-

panema concluiu seu discurso falando sobre a importância

da Colónia de Itanhenga como instituição modelar e como

resultado da cooperação entre o Governo Federal e o estado

do Espírito Santo, nas pessoas do Presidente Getulio Vargas

e do governador João Punaro Bley [3, 11].

A Colónia de Itanhenga, com capacidade final para 380 le-

prosos, foi construída no município de Cariacica, em uma

área de 1.200 hectares, a 80 metros acima do nível do mar e

distante 14 Km da cidade deVitória. A área total da Colónia

foi dividida em três partes: uma destinada à Colónia pro-

priamente dita (665 hectares); outra destinada ao preventó-

rio (200 hectares), a ser construído, para receber os filhos

sãos dos leprosos residentes na Colónia; uma terceira para a

Colónia agrícola a ser utilizada pelos egressos do leprosário

(335 hectares). Ficou constituída por 65 unidades, das quais

13 foram entregues na primeira etapa, durante a inaugura-

ção em 22 de maio de 1935 [3].

Sobre as características físicas da Colónia de Itanhenga, bem

como sobre seu papel no combate à lepra no Espírito Santo

e no Brasil, Souza-Araujo considerou [3]:

Em resumo, consideramos a Colonia de Itanhenga como

leprosario modelo. Modelo não por ter grandes e luxuo-

sos edificios de 2 ou 3 andares ou enormes pavilhões de

100, 200 ou 300 doentes cada um. É leprosário modelo

exactamente por não ter nada grande, nada monumental.

É modelo por ser um estabelecimento completo, com or-

ganizações e serviços capazes de attender todas as faces

do problema da lepra dentro da mais rigorosa technica

prophylactica. O Espírito Santo não se afastando do bom

caminho que vem trilhando, extinguirá a lepra dentro do

estado em espaço de tempo que não excederá a duas gera-

ções. É preciso, porém, que a sua campanha contra o mal

não soffra solução de continuidade.

Infelizmente, a previsão de Souza-Araujo não se concretizou.

Mesmo com a estrutura da Colónia de Itanhenga, a lepra

não foi erradicada no Espírito Santo. A função principal dos

leprosários era o isolamento compulsório dos doentes, o que

se acreditava ser a solução eficaz para evitar que novos casos

continuassem ocorrendo. Mais tarde, foi constatado que isso

não era verdadeiro.

A atuação da sociedade civil

no apoio ao combate à lepra

A sociedade capixaba também se mostrou presente no

combate à lepra. Após visita às instalações da Colónia

de Itanhenga, fazendeiros, procedentes da cidade de Ca-

choeiro de Itapemirim, resolveram auxiliar na manuten-

ção dos leprosos ofertando diversas cabeças de gado à

instituição [15].

A Sociedade Espírito-santense de Assistência aos Lázaros

e Defesa Contra a Lepra, fundada em 30 de setembro

de 1935, na cidade de Vitória, e filiada à Federação das

Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a

Lepra, também se mostrou muito atuante na mobilização

contra a lepra. A principal atividade das sociedades de as-

sistência aos lázaros, existentes em diversas regiões do

Brasil, era a administração dos preventórios, destinados

ao acolhimento dos filhos sadios dos leprosos, que de-

veriam permanecer sob sua responsabilidade até a idade

de 15 anos no caso dos meninos e até os 18 anos no caso

das meninas. Anexo à Itanhenga, foi destinada uma área

de 200 hectares para a construção do Preventório Alzira

Bley e da Granja EuniceWeaver, ocorrendo o lançamento

da pedra fundamental dessas instituições no mesmo dia

da inauguração definitiva da Colónia, em 11 de abril de

1937.

Em 24 de abril de 1940, o Preventório e a Granja foram inau-

gurados. As duas instituições foram preparadas para acolher

150 filhos de leprosos, de crianças recém-nascidas a jovens

8- O Centro Internacional de Leprologia foi organizado no Rio de Janeiro, em

1934, pelo Governo Provisório com a cooperação da Sociedade das Nações e de

Guilherme Guinle, empresário e filantropo.

Doenças, agentes patogénicos, atores, instituições e visões da medicina tropical