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A n a i s d o I HM T

forma de tratamento efetivo para curar e, consequentemen-

te, eliminar a propagação da lepra, o que ocorrerá após em

1940 com o desenvolvimento das sulfonas

4

[10].

Em março de 1933, Heraclides Cesar Souza-Araujo

5

e Pe-

dro Fontes reuniram-se com o capitão Bley para discutir so-

bre a construção de um leprosário no Espírito Santo. Para a

execução da obra, Souza-Araujo propôs a realização de um

consórcio entre o estado e o Governo Federal. A proposta

foi aceite, com o compromisso de que o Governo do estado

doaria o terreno onde seria executada a obra. Mais tarde,

este compromisso foi complementado com as instalações e

o fornecimento de água, luz e telefone. Como verba inicial

para o projeto, Bley direcionou uma quantia recebida da

União, em julho de 1933 [3].

Após percorrer vários municípios no entorno da capital, Pe-

dro Fontes concluiu que o lugar mais adequado para a insta-

lação da colónia seria na localidade conhecida como Itanhen-

ga, localizada no município de Cariacica, próximo à baía de

Vitória e na foz do rio Cariacica. Através de ofício, enviado

ao Interventor Federal, em 25 de setembro de 1933, Pedro

Fontes descreveu os motivos que determinaram a escolha do

local: o terreno é de fácil aquisição por ser ainda do estado,

apesar de invadido por posseiros; tem uma área de trezen-

tos hectares, com possibilidade de ser aumentada; apresenta

facilidade de isolamento; tem fácil comunicação com a capi-

tal por estrada de rodagem ou por navegação; está situado

em lugar alto e saudável; tem facilidade de abastecimento

de água, energia elétrica e telefonia; o terreno apresenta

disposição conveniente para a separação das zonas limpa e

de contágio, tendo ambas platôs que facilitam a construção.

No mesmo documento Pedro Fontes solicitou que o parecer

fosse emitido com brevidade enfatizando que já havia mais

de 300 leprosos identificados e fichados “e que estão aguar-

dando isolamento e tratamento conveniente”. O Interventor

aprovou a escolha do local e encaminhou os procedimentos

para a desapropriação de terreno com área total de 350 hec-

tares, o que foi oficializado através do decreto nº 4.443 de 31

de janeiro de 1934 [3].

Em março de 1934, foi iniciada a construção da Colónia de

Itanhenga. O projeto das instalações da instituição foi baseado

em plantas e projetos fornecidos pela Saúde Pública Federal,

pelos Serviços de Profilaxia dos estados de São Paulo e Mi-

nas Gerais, e pela Seção de Leprologia do Instituto Oswal-

do Cruz. Para a execução da obra, foram utilizados recursos

provindos da União, da venda de três mil sacas de café doadas

pelo Departamento Nacional de Café, da doação da prefeitura

deVitória e do governo do Espírito Santo, que também arcou

com as despesas decorrentes da desapropriação de terrenos e

benfeitorias no entorno da área da Colónia [14].

Em 22 de maio de 1935, foi inaugurada a primeira etapa da

construção da Colónia de Itanhenga, como parte dos feste-

jos de comemoração do quarto centenário da colonização do

Espírito Santo. Este evento, além de seu caráter comemora-

tivo pela data da chegada dos colonizadores portugueses ao

solo Espírito-santense, apresentou uma grande mobilização

cívica e patriótica envolvendo a população do estado através

de desfiles escolares, militares, apresentações artísticas, ati-

vidades esportivas, inaugurações de monumentos, celebra-

ções religiosas, entre outras atividades que ocorreram entre

os dias 16 e 26 de maio. Entre todos os eventos organizados,

a inauguração do leprosário de Itanhenga foi muito noticiado

pelos jornais do estado e do Distrito Federal devido à impor-

tância da obra para o controle e o combate da lepra no estado

e no Brasil [14].

Nesta primeira etapa da obra, a Colónia de Itanhenga, ficou

constituída por: dez pavilhões do tipo “Carville”

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, destinados

ao internamento dos doentes com capacidade para 200 lei-

tos. Possuía também: um pavilhão para a clínica com labora-

tório e sala de operações; um pavilhão para refeitório e um

pavilhão destinado à lavandaria. Estes três últimos pavilhões

foram completamente equipados com o que havia de mais

moderno naquela data.Ainda faltavam construir mais alguns

pavilhões que seriam destinados à escola, igreja e centro de

diversões, além da preparação de campo de futebol e quadra

esportiva [14].

As obras de complementação da Colónia foram executadas

nos dois anos seguintes, sendo acompanhada com destaque

pelos noticiários da imprensa carioca e capixaba. Muitas

foram as manifestações positivas saudando o Interventor

Federal pela iniciativa e formulando votos de sucesso ao

empreendimento, mas também ocorreram algumas críticas

referentes à forma de obtenção dos recursos financeiros para

o andamento das obras. Para a solenidade de inauguração da

segunda etapa da Colónia estava sendo aguardada a presença

do Presidente da República GetúlioVargas, o que deu maior

destaque ao evento

7

[3].

Conforme planejado, em 11 de abril de 1937, ocorreu a

3 - A ilha da Cal é uma das trinta e três ilhas que formam, em conjunto com uma

porção continental, a cidade deVitória, no estado do Espírito Santo. Está localizada

no Rio Santa Maria, em frente ao bairro de Santo Antonio.

4 - A introdução das sulfonas no tratamento da lepra foi efetuada em caráter expe-

rimental e pioneiro pelo médico norte-americano Guy Henry Faget (1891-1947),

em 1940, no leprosário nacional de Carville, Louisiana, Estados Unidos da Amé-

rica.

5 -Nasceu em 24 de junho de 1886, em Imbituva (PR). Em 1912 concluiu o Curso

de Farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto. No ano seguinte, transferiu- se

para o Rio de Janeiro e ingressou no curso de medicina da Faculdade de Medicina

do Rio de Janeiro e no curso de aplicação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), quan-

do foi aluno de Adolpho Lutz e trabalhou com doenças venéreas. Por indicação de

Adolpho Lutz, especializou-se em dermatologia na Universidade de Berlim, onde

apresentou um trabalho sobre a lepra no Brasil. De 1936 a 1958 foi professor de Le-

prologia das universidades do Distrito Federal, do Brasil e do Rio de Janeiro.Após

a criação do Serviço Nacional de Lepra, em 1941, ministrou cursos de reciclagem

para leprologistas pelo Departamento Nacional de Saúde. Participou de associações

académicas e profissionais em todo o mundo, tendo contribuído para a criação da

Sociedade Internacional de Leprologia, em que ocupou o cargo de vice-presidente

entre 1932 e 1956. Morreu em 10 de agosto de 1962, no Rio de Janeiro. Base Arch

– COC/FIOCRUZ. Consultado em 26 de março de 2016. In:

http://arch.coc

.

fiocruz.br/index.php/souza-araujo.

6 - Esta denominação é decorrente do estilo de construção dos dormitórios coleti-

vos (dois pavimentos e varanda ao redor do primeiro andar) do leprosário nacional

de Carville, localizado no estado de Louisiana, nos Estados Unidos [9]. Em Itanhen-

ga, os pavilhões foram construídos com apenas um pavimento.

7 - Porém, pouco antes da data prevista, por motivos pessoais, o PresidenteVargas

não pôde comparecer à Itanhenga, sendo representado por Gustavo Capanema,

Ministro da Educação e Saúde.