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atribuições da extinta Inspetoria passaram a ser exercidas no

Distrito Federal pela Inspetoria dos Centros de Saúde e em

cada estado pela respetiva Diretoria dos Serviços Sanitários.

O objetivo das reformas implementadas por Pires era alcan-

çar um número maior de doentes sob tratamento e vigilân-

cia, com a descentralização dos serviços [5].

Dez dias após a eleição indireta pela Assembleia Constituin-

te, ocorrida em 16 de julho de 1934, que levou GetúlioVar-

gas à Presidência da República, Gustavo Capanema assumiu

o Ministério da Educação e Saúde Pública.A chegada de Ca-

panema ao MESP trouxe significativas mudanças às políticas

de saúde pública no Brasil e, em particular, às políticas volta-

das para o combate à lepra.

Diante da Comissão de Saúde Pública, em 11 de março de

1937, Gustavo Capanema declarou [11]:

Quando assumi a direção do Ministério, em 1934, não en-

contrei um plano traçado,para o combate da lepra.O Gover-

no Federal não descurava o assunto, mas talvez, por escassez

orçamentária, não poderia agir com a amplitude e o vigor

necessários. Era escasso a que se fazia no Distrito Federal.A

alguns estados dava-se uma cooperação financeira, a ser uti-

lizada segundo o critério das respectivas administrações.

Desde logo tratei do problema com o Sr. Presidente da Re-

pública e encontrei de sua parte interesse decisivo.Todas as

medidas que de então até agora, foram para a solução des-

se problema, a ele propostas, tinham imediata aprovação e

execução.

Era preciso, evidentemente, organizar um plano de combate

à lepra. Uma endemia dessa gravidade não podia ser com-

batida com êxito, sem a fixação de um programa completo e

rigoroso. (...)

Em julho de 1935, foi apresentado por João de Barros Bar-

reto, diretor da Diretoria Nacional de Saúde e Assistência

Médico-Social, com a colaboração de Ernani Agrícola, dire-

tor dos Serviços Sanitários nos Estados, e Joaquim Motta, as-

sistente da SeçãoTécnica Geral de Saúde Pública, plano para

melhoramento dos leprosários existentes e a construção

de novos. Mesmo com a insuficiência dos dados existentes,

o Plano Nacional de Combate à Lepra foi formulado para

atender as necessidades do momento evitando, deste modo,

a construção de leprosários de grande capacidade. Baseado

em censos realizados em quase todos os estados brasileiros,

o Plano foi elaborado considerando a quantidade total de

30.647 leprosos. Inicialmente, para atender a esta demanda,

seria necessário construir 38 leprosários. Com novos dados

a serem levantados no futuro, estas quantidades seriam rea-

justadas para a nova realidade [4].

Segundo Maciel, “a construção de leprosários era a priorida-

de, seguido da implantação de dispensários e preventórios,

marcando uma atitude mais agressiva no combate à lepra no

âmbito federal e que em estados como Minas Gerais e São

Paulo já era uma rotina desde a década de 1920” [10].

O Plano Nacional de Combate à Lepra prosseguiu em sua

execução, bem como outras medidas foram efetuadas para

fortalecer o objetivo de eliminar a lepra no Brasil. Antes de

1931 existiam 14 leprosários em funcionamento, em sua

maioria como asilo ou hospital; entre 1931 e 1945, o Go-

verno Federal construiu e instalou, em convénio com os es-

tados ou com verba própria, 28 colónias para isolamento de

leprosos. A seguir veremos, no caso particular do estado do

Espírito Santo, como se deu o processo que levou à constru-

ção da Colónia de Itanhenga.

A construção da Colónia de Itanhenga

Como vimos anteriormente, a Revolução de 1930 trouxe

mudanças favoráveis ao combate à lepra no Brasil e em par-

ticular no Espírito Santo. Conforme determinado no artigo

11º, do decreto nº 19.398 de 11 de novembro de 1930, o

presidente do estado do Espírito Santo, Aristeu Borges de

Aguiar foi substituído pelo capitão João Punaro Bley como

Interventor Federal no estado, nomeado pelo Governo Pro-

visório. Bley permaneceu 13 anos à frente do governo do Es-

pírito Santo e exerceu papel fundamental na luta contra a le-

pra seguindo as ações coordenadas pelo Dr. Pedro Fontes.

Com os resultados dos censos executados até àquele mo-

mento, Pedro Fontes, em três de dezembro de 1930, en-

viou ao capitão Bley memorial sobre a situação da lepra no

estado, enfatizando sobre a necessidade da construção de

um leprosário-colónia destinado ao isolamento dos leprosos

identificados até aquele momento. De forma mais imediata,

enquanto não fosse possível a construção de uma colónia,

Pedro Fontes propôs a criação de um asilo de emergência na

ilha da Cal

3

, o que foi aceite pelo Interventor Federal.Assim,

como primeira providência, em 1931, uma casa que existia

na ilha passou por reformas para receber mulheres e crianças

e em 1932 foi construído um pavilhão para o acolhimento de

homens. Este grupo foi transferido para Itanhenga quando

houve sua inauguração definitiva [3].

Em artigo publicado pela imprensa, em 1934, Pedro Fontes

declarou [11]:

O leprosário é a arma mais efficiente de combate à lepra;

sem elle não será possivel organizar serviço util de prevenção

contra o mal de Hansen.

É, a um tempo, beneficio para o doente, que só no lepro-

sario poderá receber tratamento regular e garantia para a

população, preservada com a segregação dos leprosos, do seu

contagio

.

Podemos ver no discurso de Pedro Fontes a ênfase no isola-

mento da doença como forma de proteger a sociedade sadia.

Fica claro que o objetivo principal não era tratar o doente,

mas isolá-lo da sociedade evitando que a doença se propagas-

se. Devemos considerar que em 1934 ainda não existia uma

Doenças, agentes patogénicos, atores, instituições e visões da medicina tropical