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A n a i s d o I HM T
pretaram esta alteração de agenda como um interesse em
antecipar a decisão. Tal poderia significar “uma manobra de
alguém da O.M.S.” [29] para afastar Cambournac. Sem hesi-
tações contactaram Genebra, obtendo o esclarecimento que
procuravam do próprio Daubenton: uma vez que atingiria o
limite de idade em Fevereiro de 1953, tornava-se necessário
aprovar a recomendação da sua permanência na Direção da
O.M.S. África por mais uns meses, de modo a garantir aque-
las funções até à tomada de posse do novo Diretor regional
durante a 3ª Sessão do Comité, a realizar-se em setembro
daquele ano [29].
Foi em fevereiro de 1953 que o Ministério dos Negócios
Estrangeiros contactou o Diretor geral da Administração
Política e Civil dando a conhecer que Cambournac fora no-
meado para o cargo de diretor do
Bureau
Regional Africano
pelo Conselho Executivo da O.M.S. no mês anterior, segun-
do contacto de Brock Chisholm (1896-1971), diretor geral
da Organização, e que essa nomeação entraria em vigor a
partir de 1 de novembro de 1953 ou em data posterior. No
entanto, a mesma comunicação do M.N.E. informava que,
devido à legislação existente, Cambournac não poderia acei-
tar o cargo sem ter a autorização de um conjunto de minis-
tros dos quais dependia: o ministro dos Negócios Estrangei-
ros, o ministro do Interior (por ser Diretor do Instituto de
Malariologia) e o ministro do Ultramar (por ser professor
no I.M.T.) [30]. Para além da dependência de autorizações
[31,32,33,34], só lhe conviria entrar em funções em feve-
reiro de 1954, por duas razões: a primeira prendia-se com
a conclusão dos relatórios dos trabalhos que tinha a cargo
respeitantes ao período de janeiro a dezembro, e que apenas
finalizaria depois do final do ano; a segunda relacionava-se
com o facto de não ter interesse em começar a trabalhar para
a O.M.S. antes ter lugar a reunião de janeiro do Conselho
Executivo. Cambournac não tinha efetivamente responsa-
bilidade sobre a direção dos trabalhos realizados até aquela
data, pois o diretor regional só terminaria as suas funções
em 31 de janeiro de 1954 e não desejava assumir a responsa-
bilidade das decisões tomadas pelo detentor do cargo ainda
em funções. Contudo, solicitou começar a 10 de janeiro de
1954 [35] para que se encontrasse já ao serviço da O.M.S.
na ocasião em que se realizasse a reunião de janeiro do Con-
selho Executivo, mas sem que lhe fossem pedidas quaisquer
responsabilidades nas resoluções tomadas pelo seu anteces-
sor que se encontrava de partida.
Cambournac acabaria por sair de Portugal rumo a Genebra a
22 de janeiro [36] e iniciar funções na O.M.S. a 1 de feverei-
ro [37]. Uma das suas primeiras iniciativas foi visitar as auto-
ridades governamentais dos Estados-Membros (fig. 1) [37] e
ao longo do seu mandato fez várias visitas a Portugal para se
reunir oficialmente com as autoridades governamentais por-
tuguesas [38-46]. Por inerência das suas funções deslocou-se
dentro do continente africano para avaliar a realidade re-
gional, visitar os principais centros sanitários dos diferentes
países, observar os trabalhos de luta contra o paludismo na
África do Sul, e, acompanhar os projetos relativos a Moçam-
bique e à Guiné [47,48,49].
Com o final do ano de 1958 aproximava-se também o térmi-
no do mandato de Cambournac como diretor regional para
África da O.M.S. e tornava-se necessário, para a organização
e para si, a definição do momento seguinte, de acordo com
os cenários que se afiguravam possíveis: a sua recondução
ou a sua substituíção. As movimentações políticas e diplo-
máticas internacionais não se fizeram esperar e, uma vez
7- A comitiva portuguesa integrava João Fraga de Azevedo e Guilherme Jorge Janz,
do Instituto de Medicina Tropical; Augusto Reimão Pinto, chefe da Missão de Es-
tudo e Combate da Doença do Sono na Guiné; Eduardo Ferreira, inspetor; João
Baptista Pinheiro, inspetor Sanitário do Huila; Alberto Soeiro, diretor da Estação
Anti-Malárica de Lourenço Marques; e Mário de Andrade Silva, chefe da Missão de
Combate àsTripanosomíases.
8-F. Daubenton foi um médico Holandês que se juntou à equipa da O.M.S. em
1948.Aí, exerceu os cargos de chefe da Missão na Etiópia - como consultor em ad-
ministração de saúde pública na Região do Mediterrâneo Oriental - e o de primeiro
chefe do
Bureau
Regional para África da O.M.S. (1952-1954), tendo estabelecido o
escritório em Brazzaville. Quando saiu da O.M.S., tornou-se consultor para a Liga
das Sociedades da CruzVermelha.
9- R. E. Ulrich foi um homem multifacetado. Formado em Direito, exerceu como
académico, empresário e embaixador. Foi sócio de várias instituições de relevo
como a Academia de Ciências de Lisboa, o Instituto Colonial Internacional e a So-
ciedade de Geografia de Lisboa, entre outras.
Fig. 1:
Itinerário de Francisco Cambournac após o início de funções na
O.M.S.: Paris, Londres, Bruxelas, Genebra, Barcelona, Madrid, Lisboa,
Monrovia (Libéria), Joanesburgo, Cidade do Cabo, Joanesburgo, Salisbury
(Zimbabué), Joanesburgo, Brazzaville (Congo).Viagens realizadas em fe-
vereiro e março de 1954.