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nos membros que constituíam a C.C.T.A. possuíam respon-

sabilidades em África a sul do Saara. A Comissão liderada

por Paul Henry (1918-1998) reunia pelo menos uma vez por

ano, dispunha de uma Comissão de aconselhamento cientí-

fico, e integrava representantes dos governos da Bélgica, da

Federação da Rodésia e Niassalândia, de França, de Portu-

gal

7

, da União Sul Africana, e do Reino Unido, e incluía a

participação observadores da O.M.S., da

United Nations In-

ternational Children’s Emergency Fund

(U.N.I.C.E.F.) e da pró-

pria C.C.T.A., de Itália e do Sudão [21].

Quando em Maio de 1952 decorreu a reunião da C.C.T.A.

na Cidade do Cabo [21], as delegações inglesa e francesa ex-

primiram diversas vezes, a título oficioso, o desejo de ver o

lugar do diretor do

Bureau

Regional Africano da Organiza-

ção Mundial de Saúde, o médico François Daubenton (1888-

1965),

8

que se aposentaria no final desse ano, ocupado por

Cambournac. Portugal tinha já apresentado uma proposta

para a criação de um

Bureau

do C.C.T.A., e não havendo

tal sido ainda aceite, seria de toda a conveniência política a

existência de um candidato português na Direção do

Bureau

Regional da O.M.S., merecendo essa entidade e por esse

motivo, a confiança das instituições nacionais. Neste con-

texto, apesar de se tratar de uma iniciativa de duas delega-

ções internacionais, o Ministério dos Negócios Estrangeiros

(M.N.E.) português sugeriu ao Governo que se tomassem as

diligências diplomáticas com o intuito de obter “a unanimi-

dade de votos, tanto dentro da C.C.T.A. como por parte da

Espanha e da Libéria que, não pertencendo à Comissão, são

todavia membros do

Bureau

Regional” [22]. Sendo Cambour-

nac professor no Instituto de Medicina Tropical, também a

Direção Geral de Ensino (D.G.E.) foi designada para tomar

conhecimento e para contactar o I.M.T. [23].

Coube ao Diretor do Instituto de Medicina Tropical, João

Fraga de Azevedo (1906-1977), responder ao Diretor-geral

do Ensino informando-o do seu apoio a esta nomeação. A

decisão foi tomada analisando os prós e os contras que advi-

riam da ausência de Cambournac do Instituto. Por um lado,

a lacuna que deixaria no corpo docente e a interrupção das

iniciativas até ali desempenhadas com êxito; por outro, e a

bem do interesse e da honra do país, a sua escolha para o

cargo na O.M.S., traria vantagens científicas e políticas para

Portugal, no contexto internacional. Como resultado, Fraga

de Azevedo informou a D.G.E. de que o parecer do corpo

docente do Instituto era favorável àquela proposta para o

cargo de Diretor Regional Africano da O.M.S. [24].

Numa carta confidencial, remetida de Londres a 3 de junho

de 1952, o embaixador português Rui Ennes Ulrich (

1883

-

1966)

9

dava conta de uma conversa ocorrida a 31 de maio,

entre o representante junto do secretariado da C.C.T.A. e o

secretário-geral desse organismo, Paul Henry. O tema era a

sucessão de François Daubenton no cargo de diretor do

Bu-

reau

Regional Africano, por atingir o limite de idade. Duran-

te a 5ª Assembleia Mundial de Saúde, que ocorrera em Ge-

nebra entre 5 e 22 de maio, Henry marcou presença a con-

vite da O.M.S. na qualidade de observador representante da

C.C.T.A..

Jacques Parisot (1982-1967), chefe da delegação

francesa também presente na conferência, revelou em con-

versa com Henry, ser sua opinião que os governos membros

da C.C.T.A. representados na Repartição Regional Africana

da O.M.S. deveriam acordar o nome de um candidato que

viesse a substituir Daubenton. De preferência, uma pessoa

que fosse “conhecedora dos interesses dos respetivos países

em África” [25], e, para os franceses, essa pessoa seria Cam-

bournac. De regresso a Londres, Henry encontrou-se com o

sub-secretário no

Colonial Office

e chefe das delegações ingle-

sas, John Martin (1904-1991). Este, sem saber que Henry já

havia conversado com Parisot, declarou que o

Colonial Office

tinha a intenção de apresentar o nome de Cambournac para

a vaga que em breve ficaria disponível. Para John Martin, ele

apresentava três características que o tornavam no candidato

ideal para aquele cargo: era conhecedor, era competente e

estava identificado “com os pontos de vista das potências

co-

loniais no que respeita aos problemas africanos” [25].Adicio-

nalmente, Cambournac era considerado “um intérprete mais

fiel da política da O.M.S.” [25], em oposição a Daubenton

que não tinha sido muito popular entre o pessoal superior da

O.M.S. por ser “demasiado favorável” [25] aos pontos de vis-

ta individuais das várias potências com interesses em África,

segundo confidenciara Henry. A escolha do candidato conti-

nuaria a ser debatida posteriormente, primeiro em encon-

tros oficiosos e posteriormente em reuniões oficiais [25].

À proposta de Cambournac a partir do circuito internacio-

nal e ao parecer positivo do I.M.T., em Portugal, seguiu-se a

decisão da Direção Geral de Administração Política e Civil,

com um parecer favorável à escolha do médico, em julho de

1952 [26].

O nome de Cambournac receberia ainda outros apoios.

Ainda que oficiosamente, na VI Sessão da C.C.T.A., as de-

legações belga, francesa e inglesa se mostrassem conven-

cidas que os seus governos apoiariam esta escolha e que o

Governo de Espanha também apoiaria Cambournac como

candidato, [27] apenas a delegação Sul-Africana indicou que

o seu governo poderia ter interesse em apoiar um candidato

Sul-Africano, encarando, contudo, aquela candidatura “com

simpatia” [28].

A escolha de Cambournac para dirigir o Escritório Regional

da O.M.S. em África assumia um rumo natural e apresentava

todas as condições para ser bem sucedida. Houve todavia um

sobressalto em agosto de 1952. Paul Henry preparava- se

para viajar para África onde assistiria à 2ª Sessão do Comi-

té Regional Africano da O.M.S. em Monróvia a 1 de agos-

to quando se encontrou com o secretário da Embaixada de

Portugal em Londres e representante junto do Secretariado

da C.C.T.A, José Fragoso. Ambos se surpreenderam com a

inclusão de um novo ponto na agenda de trabalho, a “Re-

comendação relativa à nomeação do Diretor Geral” [29]. O

debate sobre a substituição de François Daubenton só teria

lugar na 3ª sessão desse Comité, em 1953, pelo que inter-

Políticas e redes internacionais de saúde pública no século XX