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tretanto se tornaram independentes. O Instituto reiniciou as
colaborações com as autoridades de saúde destes países no
reforço aos seus sistemas de saúde, no quadro da investigação
sobre as suas principais doenças endémicas, e em programas
de ensino e formação de quadros de saúde sobre medicina
tropical, a saúde preventiva, a higiene e saúde pública e nu-
trição. Estas políticas espelharam a internacionalização da
saúde pública que se iniciou nos anos sessenta e o reforço da
medicina preventiva e da ênfase sobre os cuidados primários
de saúde desde a conferência da OMS de Alma Ata em 1978.
O
Special Programme for Research and Training in Tropical Disea-
ses
(TDR) das Nações Unidas que foi lançado em Junho de
1974 com a participação de Portugal, redirecionou as políti-
cas de controlo e erradicação da malária e para as chamadas
doenças negligenciadas, como lepra, leishmaniose, oncocer-
cose, schistosomose, a doença de Chagas e a doença do sono
(WHO, 2007: 10)
32
. Cofinanciado pela OMS, e apoiado pela
PNUD, UNICEF e o Banco Mundial, o programa pretendia
e pretende melhorar sistemas de saúde pública e de preven-
ção através da introdução de novas ferramentas de controlo
de doenças e de vetores (incluído novos testes de diagnósti-
co rápido, fármacos e vacinas), reforçar o a capacidade das
instituições locais e melhorar as condições sanitárias para as
populações mais afetadas e vulneráveis, recorrendo a parce-
rias público-privadas quando relevante. O programa trouxe
novos investimentos em estudos epidemiológicos para criar
bases de dados empíricos fiáveis sobre doenças negligencia-
das, a sua distribuição geográfica e a sua evolução, tornando
a bioestatística médica e a ciência da implementação em im-
portantes instrumentos para o desenvolvimento de estraté-
gias inovadoras (WHO, 2007: 34-77)
33
. No seguimento do
lançamento do ProgramaTDR, o IHMT inaugurou o Centro
de Estudo de Doenças Infeciosas e Parasitárias (CDIP) em
1975, participando em iniciativas de investigação e formação
em África e Ásia.
34
Este centro formou um novo núcleo de
investigação em Portugal, por exemplo sobre leishmaniose,
retomando o trabalho feito por Fraga de Azevedo nos anos
quarenta, com o apoio do programaTDR. Mais recentemen-
te o TDR apoiou investigação do IHMT em malária e ento-
mologia em projetos coordenados por Virgílio do Rosário,
João Pinto e Pedro Cravo. Portugal tem também estado ati-
vo no
Joint Coordinating Board
doTDR, sempre representado
pelo IHMT, nomeadamente pelo seu diretor, entre 2011 e
2014. A partir de 2015 o Instituto continuará a participar
nos órgãos decisórios doTDR com o estatuto de observador
com um representante (Sónia Dias) no
Scientific andTechnical
Advisory Committee
(STAC).
3.1. A internacionalização do IHMT:
CEE, PALOP e CPLP
A integração aguardada do Instituto na UNL, que se reali-
zou em 1980
35
, significou uma mudança de tutela do Depar-
tamento de Saúde do Ministério de Assunto Sociais (desde
1976)
36
para o Ministério de Educação e Ciência. Esta re-
forma permitiu ao Instituto desenvolver e intensificar a co-
laboração já existente com a Faculdade de Ciências Médicas
da UNL (fundada em 1977), cujos professores assumiram
a direção do IHMT desde a sua criação, com exceção dos
períodos 1997-2000 e de 2010 à direção atual, além de rees-
tabelecer e consolidar os programas de ensino em geral e
de pós-graduação em particular, e beneficiar do acesso a re-
des académicas internacionais de relevo e financiamento de
investigação científica. Ao mesmo tempo, a nova configura-
ção
37
reforçou a autonomia e criou novas oportunidades para
desenvolver estratégias para aumentar o seu contributo na
produção e divulgação de conhecimento, e ao mesmo tempo
ganhar maior projeção ao nível nacional e internacional. En-
quanto a reforma de 1976 já preconizava o papel do IHMT
como prestador de conhecimento técnico aos serviços de
saúde em Portugal e a ‘países tropicais’, o decreto lei de
1983 que regulava as suas funções e organização sublinhou
as suas responsabilidades ao nível nacional, nomeadamente
para "(…) estimular e desenvolver intervenções em termos
de assistência técnica e cooperação no domínio de saúde pú-
blica e medicina tropical".
38
Mas a mesma legislação também
sublinhava o papel internacional e o reforço dos laços com
países de língua portuguesa, apoiada financeiramente pelo
Ministério de Negócios Estrangeiros para a implementação
destes programas e projetos
39
.
Como unidade autónoma no quadro universitário, o IHMT
aumentou consideravelmente os apoios financeiros, em for-
ma de bolsas de investigação para doutorandos e pós-docs
para projetos de investigação e de formação, e para financia-
mento estrutural para centros de investigação. Para uma me-
lhor coordenação da sua investigação, em 1992/3, especia-
listas do IHMT em malária fundaram o Centro de Malária e
Outras Doenças Tropicais (CMDT), com verbas plurianuais
disponibilizadas pela Junta Nacional de Investigação Cien-
tífica e Tecnológica (JNICT)
40
. Estas verbas passaram a ser
disponibilizadas pela FCT (Fundação para a Ciência e Tec-
nologia) a partir da sua criação em 1997. O CMDT, que se
tornou um laboratório associado da FCT em 2004, e que se
extingue em Março de 2015 com a criação do GHTM (
Glo-
bal Health andTropical Medicine
), era, na altura, composto por
cinco grupos de investigação, nomeadamente Bioestatística
e Bioinformática, Medicina Tropical e do Viajante, Saúde de
Populações, Parasitologia Médica e Sistemas e Serviços de
Saúde. O Centro teve como objetivos principais o desenvol-
vimento de parcerias com seus congéneres noutros países,
para desenvolver novas estratégias de controlo e prevenção
de doenças endémicas e reforçar a capacidade de países em
desenvolvimento nos trópicos no que diz respeito a investi-
gação, formação e consultoria, sobretudo em Estados da Co-
munidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).Ao nível
interno e externo, os investigadores do CMDT colaboraram
de forma estreita com o Hospital Egas Moniz, o Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, laboratórios nacionais,
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