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A n a i s d o I HM T

dos estagiários e do respetivo país de origem, dos entrevista-

dos, e das instituições de acolhimento e de origem.

Resultados e discussão

Integrado no projeto de investigação avaliativa do programa

de Estágios de Curta Duração em Portugal para Profissio-

nais de Saúde dos PALOP e Timor Leste, o estudo de caso

evidenciou a perceção positiva quanto ao impacto da forma-

ção nos estagiários, no respetivo local de trabalho no país de

origem e na sustentabilidade do programa de Estágios. Os

seus resultados foram discutidos à luz da natureza dos dados

recolhidos, os quais traduzem unicamente as perceções dos

estagiários refletidas nas narrativas dos documentos analisa-

dos e as perceções expressas nas entrevistas concedidas pelos

interlocutores entrevistados das instituições de origem e de

acolhimento, ilustradas pelos exemplos citados por cada uma

das partes. Admite-se que a triangulação dos dados recolhi-

dos através das técnicas utilizadas - análise documental e en-

trevistas – possa ter contribuído para o aumento da sua fiabi-

lidade [23]. Por outro lado, tratando-se de um caso múltiplo,

a evidência de replicação entre os dois casos (traduzindo dois

países e duas profissões) das principais tendências observadas

favoreceu a robustez dos resultados encontrados [23].

Motivação e objetivos claros na candidatura

Em ambos os casos, a motivação no momento da candida-

tura foi expressa pelos estagiários de forma pouco clara, à

exceção de um estagiário do caso B, que referiu a neces-

sidade de aumentar os conhecimentos a fim de concluir a

sua especialidade como médico. Os objetivos evidenciados

apresentaram, contudo, diferenças entre os dois casos: no

caso A foi referido por todos os formandos a necessidade

de melhorar o desempenho profissional, embora de forma

especificada apenas por um dos estagiários que localizou o

seu interesse na área da gestão (necessidade de “

aprender a ser

chefe

”); no caso B, para além da necessidade de melhorar o

desempenho profissional, todos os estagiários expressaram

preocupação quanto ao défice de especialistas no país de

origem. As necessidades identificadas são consistentes com

as referidas na literatura para os países com défice crítico

de profissionais de saúde especializados [30]. A instituição

de acolhimento (IA) do caso A expressou, também, a pouca

clareza das motivações e objetivos na candidatura dos respe-

tivos estagiários, tendo, aliás, salientado que os orientadores

de formação não receberam o plano de estágio de nenhum

dos participantes, nem tiveram a perceção da sua existência.

Ressalvou, contudo, que um dos estagiários verbalizou clara-

mente os seus objetivos no início do estágio. Pelo contrário,

um dos outros estagiários alterou, ao longo da formação, o

seu foco de atenção, o qual inicialmente referido à área clí-

nica, foi, na prática, direcionado para a gestão de serviços.

No caso B, a instituição de origem (IO) referiu que o desafio

para participar no Concurso partiu da Direção Clínica e foi

dirigido a todos os profissionais da instituição com potencia-

lidades para concorrer, tendo sido ativamente aceite pelos

quatro concorrentes selecionados, que descreveu como

“…

[profissionais que] não perdem uma oportunidade para aumentar os

seus conhecimentos nessa [na] área [do seu interesse] ”

(caso B)

.

Coerência e idoneidade da instituição de acolhimento

As informações fornecidas pelas três fontes disponíveis (nar-

rativas dos estagiários e entrevistas realizadas às instituições

de acolhimento e de origem) dos dois casos evidenciaram a

perceção de coerência entre os objetivos do estágio (expres-

sos ou percebidos) e as atividades desenvolvidas, para todos

os estagiários. Contudo, no caso A, a ausência de acesso aos

planos de estágio foi referida como um constrangimento à

operacionalização dos estágios por todos os orientadores de

formação entrevistados:

“Fez falta um plano de estágio para per-

ceber onde se podia ter insistido

” (caso A). No caso B, observou-

-se, pelo contrário, o acesso adequado aos planos de estágio,

o que possibilitou a redefinição conjunta dos objetivos, ten-

do sido sublinhado o papel fundamental do orientador de

formação. Em ambos os casos, verificou-se através da aná-

lise documental que os estagiários realizaram atividades de

acordo com os objetivos apresentados no respetivo plano de

estágio. Pese embora as diferenças referidas, a coerência ob-

servada no processo de alocação dos estagiários de ambos os

países é favorável à adequação das instituições de acolhimen-

to. Segundo os termos de referência do concurso, a seleção

das IA terá sido realizada pelos próprios estagiários em fun-

ção das parcerias previamente existentes com as IO. Estes

aspetos foram corroborados pelas entrevistas realizadas mas

não pela análise documental, não constando a referência da

instituição de preferência nos documentos apresentados pe-

los estagiários no momento da candidatura. A participação

das IA no programa de Estágios foi sobretudo motivada pela

oportunidade de aprendizagem inerente ao contacto com

diferentes realidades e formas de trabalhar, e de proporcio-

nar aos profissionais nacionais em processo de formação, a

consciencialização da situação de vantagem das condições e

recursos nacionais quando comparados com realidades clara-

mente deficitárias. No caso B, foram acrescidos outros moti-

vos de adesão da respetiva IA: a sua missão como instituição

não só de saúde mas também universitária; o seu interesse

estratégico na cooperação com os PALOP; e a existência de

contactos anteriores com a entidade financiadora dos está-

gios, no âmbito da cooperação entre países.As duas IA alega-

ram experiência anterior em estágios nacionais e, no caso B,

também em estágios internacionais, embora com diferentes

objetivos. Contudo, ambas apresentavam as condições e os

recursos necessários para receber estagiários estrangeiros

conforme os termos de referência do programa de estágios.

As IA dos dois casos confirmaram ser reconhecidas como

idóneas em Portugal para a formação pós-graduada de médi-

cos e de enfermeiros, pelas respetivas ordens profissionais.