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tante na nosologia da Guiné, a par da malária, das boubas e

da lepra [10].Vários relatórios médicos dão conta do avanço

da doença, insistindo na necessidade de instituir brigadas sa-

nitárias especiais, destinadas a procurar e tratar os doentes e

no instituir de medidas agronómicas que visassem limitar o

contacto homem-glossinas

.

Perante esta situação, o gover-

no português vê-se obrigado a estudar de novo a situação,

nomeando uma nova missão de Estudo à província da Guiné

constituída por Fraga de Azevedo, Francisco Cambournac

(professores do IMT) e Manuel Reimão Pinto (assistente do

Instituto Bacteriológico Câmara Pestana). Esta Missão de-

monstra que, comparativamente com os estudos anteriores,

a doença está a alastrar consideravelmente [15], propondo

medidas de profilaxia, sobreponíveis às recomendações das

missões anteriores.

Só em 1945, é criada a

Missão de Estudo e Combate da Doença

do Sono

tutelada pelo Instituto de MedicinaTropical

com ca-

rácter permanente na Guiné Portuguesa, especialmente di-

reccionada para a investigação, recenseamento e tratamento

de doentes e para o combate às

glossinas

, desenvolvendo a sua

acção sanitária por todo o território, configurando-se como

um verdadeiro arsenal terapêutico e profiláctico. Esta Mis-

são foi organizada e chefiada pelo então assistente do IMT,

Fernando Simões da Cruz Ferreira.A Guiné colonial emerge

entre o laboratório e a enfermaria.

Esta

Missão

contribui em larga medida, para conferir visibi-

lidade à acção do Estado colonial na vertente sanitária, quer

no plano nacional, quer dentro de um quadro de política

internacional de controlo e contenção da doença. Os objec-

tivos da Missão, configuravam-se em 3 secções integradas:

secção de investigação; secção de recenseamento e tratamen-

to de doentes; secção de combate às glossinas.

A secção de investigação procura conhecer melhor os aspec-

tos relacionados com a doença, para melhor poder orien-

tar as actividades e práticas do serviço, contribuindo para o

implementar de medidas de profilaxia e combate eficazes.

Desenvolveu diversos trabalhos de investigação, directa ou

indirectamente relacionados com a doença do sono (ex.

estudos sobre a epidemiologia e clínica da doença, ensaios

terapêuticos com tripanocidas novos e ensaios de quimio-

profilaxia em algumas áreas da Província). Esta secção não se

limitou ao estudo da doença do sono, contribuindo bastante

para o conhecimento da nosologia da Guiné, levando a cabo

estudos sobre paludismo, lepra, ancilostomíase, dracontiase,

filariases, bilharsíase, publicando 48 trabalhos de investiga-

ção, entre artigos e relatórios [16].

À secção de recenseamento e tratamento de doentes

c

om-

pete observar toda a população, diagnosticar, tratar e vigiar

os doentes. Nesse sentido, foi a Guiné dividida em 5 sectores

territoriais, á frentes de cada um estava um médico dispondo

de uma equipa móvel, que integrava enfermeiros e micros-

copistas. Cada sector detinha

tabancas-enfermarias

, a cargo

de enfermeiros, onde para além de ser espaço de consulta e

tratamento, poderia ser local de internamento de doentes.

A partir de 1953, o combate à doença do sono concentra-se

unicamente no recenseamento intensivo e tratamento dos

doentes [16].

A

secção de combate às glossinas com acção em todo o ter-

ritório, com objectivo de estudar e instituir estratégias de

poder erradicar as glossinas defendendo a população do seu

contacto. Estudou a biologia das glossinas (

palpalis

e

sub-

-morsitans

) e realizou ensaios de profilaxia agronómica com o

intuito de poder vir a proceder ao seu combate por meio de

insecticidas. Através de capturas manuais periódicas ou por

intermédio de armadilhas de Harris, possibilitou a colheita

de elementos para o conhecimento das glossinas, por espécie

e do seu grau de infestação por tripanossomas, publicando

em 1948 a carta da distribuição dos vectores por espécies,

seguindo as recomendações da Conferencia de Brazzaville,

realizada em Fevereiro desse ano [17]. Esta secção elaborou

uma carta da distribuição das glossinas e o seu grau de in-

festação por tripanossomas, no território. Foram capturadas

até 1950, 76859 glossinas, dissecadas 16542, encontrando-

-se tripanossomas polimorfos em apenas 253 delas [16].

Em 1953 foram capturadas 42820 glossinas, dissecadas 526

e em nenhuma delas foram encontrados tripanossomas. A

partir deste ano, a captura de glossinas foi abandonada, por

ser considerada irrealizável, atendendo a vários factores:

1. por existirem glossinas em toda a Guiné e para além das

suas fronteiras;

2. pela cobertura vegetal dos focos permanentes ser dema-

siado espessa;

3. por existirem refúgios permanentes, dispersos por todo o

território, formados por cobertura vegetal essencial à eco-

nomia ou à preservação dos solos da Província.

Esta secção passou a ocupar-se do recenseamento e trata-

mento dos doentes, intensificando-se portanto, essa verten-

te da Missão.

A Missão do Sono, foi um serviço fundamentalmente móvel.

A prospecção e inspecção biomédica dos corpos era realiza-

da através das brigadas móveis de pessoal de saúde que pe-

riodicamente se deslocava às aldeias, seguindo um plano de

circuitos delineados, que eram percorridos pelos enfermei-

ros, através de motorizadas ou de viaturas automóveis. Em-

bora fosse a doença do sono a prioridade, a atenção a outros

problemas de saúde dos indígenas, era uma preocupação e

um objectivo [18], alargando assim, o espectro de actuação e

vigilância, ganhando esta Missão, uma dimensão concorrente

com os Serviços de Saúde da Guiné.

A

Missão

foi reorganizada

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em 1956, passando a ser deno-

minada

Missão Permanente de Estudo e Combate à Doença do Sono

e Outras Endemias da Guiné

(entre 1956-1964), alargando o

seu âmbito formal de acção à vigilância, controlo, profilaxia

e tratamento de outras endemias: tripanossomíase humana,

lepra, paludismo, tuberculose e oncocercose.

A missão é transformada num serviço móvel polivalente

de profilaxia

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, elevando consideravelmente o âmbito da sua

acção sanitária junto das populações, continuando a desen-

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